SER CHATO
SER CHATO
O chato de ser chato é não saber que se é chato. Ou seja, o chato além de espaçoso, inconveniente, aporrinhador, palpiteiro, etc., não tem consciência da sua maior característica: a chatice. Tem certeza absoluta que sua fala é mais interessante que existe, sempre tem razão. É um propagandista de sí mesmo. Porque eu isso, eu aquilo, comigo não, ninguém me faz de bobo, ai falei que não era assim e disse umas verdades, nunca mais, etc.. Como se o próximo quisesse saber de suas idiossincrasias (chato, né? Essa palavra esdrúxula quer dizer” característica comportamental peculiar a um grupo ou a uma pessoa”). O chato quase sempre é monotemático, e radical em suas posições, ou seja, fala sempre da mesma coisa com convicção absoluta de estar certo. Consegue direcionar a conversa de maneira que a recaia no seu tema. Aí não deixa ninguém falar, e as pessoas, por educação, fingem estar atentas. Os ouvintes fingem estar interessados e isso reforça a chatice do chato, o que exige dos ouvintes um desgaste enorme para suportar os momentos que deviam ser de compartilhar experiências, colocar em dia informações. No exato momento que você lembra de um fato interessante para o grupo, o chato fala ou continua com um assunto .. chato! Hoje existem incontáveis novos tipos de chatos: zapchatos, webchatos, chatoscel, facechatos etc..
Em 1962, Guilherme de Figueiredo escreveu “O Tratado Geral dos Chatos” no qual classifica os inúmeros tipos de chatos. Um comentário sobre o livro:
Tratado Geral dos Chatos : Os chatos... quem não sofreu sob seu jugo? Quanto tempo perdido, ouvindo seus discursos! Quando eles aparecem no vídeo, é fácil livrar-se da caceteação. Basta desligar. Mas, quando eles nos pegam nas festas de formatura, inaugurações, comemorações diversas... ai! É um Deus nos acuda!- não há remédio. É suportar o "speech "" com resignação e estoicismo, lembrando que tudo tem um fim neste mundo, que não há mal que sempre dure... e que logo, logo, o orador vai desistir e perder ofôlego. , Disfarçadamente, você consulta ó relógio e boceja. Céus! Já se passaram 50 minutos, e a eloquência do orador parece não ter fim. Disfarçadamente, você se esgueira entre as outras vítimas, e afinal, está livre. Livre! E jura a si mesmo: não caio em outra, jamais. Bem. Explica Guilherme de Figueiredo, autor do famoso Tratado, que o termo chato, sinônimo de maçador, cabuloso, cacete, parolador tem origem ilustre: grega e latina, e que o mais respeitável exemplo de chateza encontra-se nestas palavras de Machado de Assis.~ "Perdoai, senhores, a chateza de minhas palavras..."
Na verdade, existem uma variedade infinita de chatos. Eu sou do tipo que acha que alguém vai ler isto.
Paulo Miorim