Lygia Clark com Bicho projetado para um planeta, no MAM-RJ
JULGAMENTOS – OU LIBERDADE DE EXPRESSÃO?
Decidi que não escreveria sobre este assunto, pois ele já deu o que falar e minha opinião em nada mudará coisa alguma; porém, assim como os que se expressaram até o presente momento defendendo, acusando ou demonstrando neutralidade, sou apenas mais uma que tem o direito de se expressar, mesmo que minha opinião seja apenas uma voz clamando no deserto entre tantas outras.
Acima, está a obra de Lygia Clark, tão comentada recentemente após uma performance no MAM onde um ator nu era tocado por uma menina de cinco anos, incentivada pela mãe. Eu me pergunto o que a obra original tem a ver com a performance do ator. Admitindo que nada entendo sobre arte, deixo esta tarefa de explicar a semelhança a alguém que entenda. Mas vamos falar sobre a menina, a mãe e o artista.
Uma menina é convidada a subir ao palco, com a autorização da mãe, diante de câmeras e de dezenas de outras pessoas, a fim de tocar o homem-objeto que está lá. Isto é pedofilia? Alguns dizem que sim, e outros negam, já que a permissão da mãe foi dada à menina. Se este ou outro homem convidasse esta menina para ir até sua casa, incentivando-a a tocar o seu corpo sem o conhecimento da mãe, não seria pedofilia? E em que momento deixa de ser: no momento em que tal coisa foi feita em público, e com a autorização da mãe da criança?
Eu me pergunto quantas crianças estão sendo molestadas neste exato momento, com ou sem o consentimento dos pais (porque muitas vezes, ao tentar relatar o que está acontecendo com elas, os pais não acreditam, e elas se calam). Supondo que o que aconteceu no palco não seja pedofilia, esta performance não estaria pelo menos facilitando o caminho dos pedófilos? “Pode me tocar, é arte, é moda! Não tem nada demais.”
Algumas pessoas alegam que aqueles que se manifestaram contra o ocorrido são preconceituosos e fascistas, e não aceitam o próprios corpo; alegam que os índios vivem nus junto à natureza, e não têm pensamentos pecaminosos sobre o corpo. Mas eles se esquecem de que nós não somos índios, e que nosso contexto de vida é diferente. Não saímos nus por aí, pois vivemos em uma sociedade onde existem regras de comportamento, quer concordemos com elas ou não. E se tais regras precisam ser mudadas, estas mudanças não se darão de repente, não serão apenas “engolidas” por quem não concorda com elas através da imposição e da força bruta – isto também poderia ser considerada uma forma de fascismo.
Não vivemos em um mundo perfeito. Infelizmente, existem entre nós estupradores e pedófilos. Acreditar que o que aconteceu naquele palco é apenas arte e liberdade de expressão, é facilitar o caminho destas pessoas.
Também li opiniões de pessoas que defenderam a performance, alegando que a culpa de toda esta polêmica é da Rede Globo golpista, que espalha o falso moralismo, a intolerância e o preconceito. Creio que depois de postarem suas opiniões, tais pessoas foram para casa assistir aos programas da GNT, um canal de TV que defende a arte, a liberdade de gênero, sexual e de expressão. Só não sei se elas sabem que este canal pertence à Rede Globo golpista...
Uma outra alegação que encontrei, é que ninguém é obrigado a ir até lá e ver a performance. Concordo plenamente! Mas o que está sendo julgado nas redes sociais não é a performance em si, mesmo sendo ela de extremo mau gosto, mas o fato de que havia uma criança envolvida.
E houve quem dissesse que tal criança teve a autorização da mãe e concordou com o ato, e que por isso, não é da conta de ninguém o que aconteceu. Novamente, eu me pergunto: até que ponto esta criança tem maturidade o suficiente para decidir o que é certo e o que é errado?
E mães não erram nunca? Ela não pensou que havia câmeras no local, e que poderia estar expondo sua filha? Fico pensando o que esta menina pode estar vivenciando neste exato momento com toda esta exposição, na escola, no parquinho e nas ruas, além das redes sociais, e o que toda esta exposição poderá causar a ela agora e no futuro.
Não posso concordar que “não é da conta de ninguém o que aconteceu”, pois tudo o que acontece nos dias de hoje causa um grande impacto na sociedade, devido a divulgação nas redes sociais. E a cena com certeza chegou aos olhos de várias outras crianças, que não têm, assim como a criança envolvida, discernimento suficiente para decidir entre o certo e o errado. Elas olham as fotografias na internet (crianças raramente leem textos longos dirigidos a adultos, e se o fazem, não conseguem compreender seu teor), e podem concluir que se está na rede, é certo. Assim, elas abririam caminho a pedófilos e seus abusos.
Quanto a liberdade de expressão, infelizmente existe uma regra nas redes sociais entre todos os que são extremistas, seja de esquerda ou de direita:
“VOCÊ TEM TODO O DIREITO DE SE EXPRESSAR, DESDE QUE CONCORDE COMIGO.”
E quem atravessar tal limite, estará se arriscando a ser criticado, apontado como fascista, coxinha, esquerdopata, preconceituoso e ignorante. Mas eu acho que quem está na chuva é para se molhar; caso contrário, o melhor a se fazer é desligar o computador e guardar seus pensamentos em uma gaveta.
Ana Bailune
Acima, "O Bicho", de Lygia Clark. Julguem por vocês mesmos o que a obra da artista tem a ver com a performance do ator.