ENGENHEIROS DO HAWAII - NADA FÁCIL
– em livros de história
Música: Nada Fácil - TEXTO DO LIVRO NÃO PUBLICADO
Leonardo Daniel
Título: Abrindo as mãos
Nessa interpretação de “Nada Fácil” tentarei me deter à materialidade textual e buscarei elos aos de comunhão temática com outras músicas dos Engenheiros do Hawaii. Deixo bem claro que apesar da musicalidade me inspirar na hora de escrever, esta análise é literária, dentro dos limites da minha formação. “Nada Fácil” é uma das músicas assertivas do disco “Tchau Radar” de 1999.
Em “Nada Fácil” temos logo no título quase que um oxímoro poderoso O NADA que pode ser tudo, inclusive leve, e, FÁCIL, mas uma vez essas duas palavras juntas, fazem com que um outro campo semântico se crie... Um campo semântico onde nada é fácil, ou seja, tudo e qualquer coisa gravita em volta da dificuldade, do prisma do problema. Que dificuldade seria essa? Que problema é esse? Será que a música nos informa? Será que tem solução? Vamos então à interpretação dessa emblemática música?!
Neurotransmissores, mísseis na pressão
A vida em cada curva dispara o coração
Nada fácil cara, euforia e depressão
Muitas pedras no caminho
Uma flor em cada mão
Hoje sabemos que os neurotransmissores são como mísseis na pressão responsáveis neuro-fisiológicos por imponderáveis estados de humor, quem nunca ouviu falar dos efeitos miraculosos da serotonina? E deletérios da não condução dela? Pois então, esses mesmos mísseis na pressão apontam para um certo tipo de coração que vamos descobrir, mais adiante. O coração pulsa. A vida invade a sala das artérias, o mundo bem colorido dos átomos de todo esse organismo se organiza numa dança. “A vida em cada curva dispara o coração”. Esse homem de coração sensível cruza cada esquina com a surpresa de um grande Natal que, incorre sobre seus pensamentos, cada passo, cada história ativam novas sinapses da sua percepção. E quando não tem Natal tem Carnaval que quando acaba vem o triste arroio dos elétrons que não sabem sambar, afinal: “Nada fácil cara, euforia e depressão”. Etimologicamente euforia vem do grego, é “o bom transporte” é aquele que suporta a carga, o peso, e que gostamos de caminhar em sua companhia, ao seu lado. Mas numa visão muito pessoal, euforia é a força de quem carrega os enfermeiros antes da medicação que o fará dormir como um anjo, que já é, que já foi, que já pode ter sido... E, portanto, em psiquiatria, euforia é sintoma médico do Transtorno Bipolar.
Então esse nosso homem (“eu lírico” da canção e não o Humberto) tem o Transtorno Bipolar do Humor, a variação entre euforia e depressão? Não sei talvez sim, talvez não. Mas nada é fácil um dia ser o Sol e passa o tempo o relógio derrete e se é o Dragão. Na esquina em que faz o coração brotar de alegria ou se cindir de tristeza, não é nada fácil há “Muitas pedras no caminho” e “Uma flor em cada mão”.
Muitas pedras do rastro de incompreensão que gerou o nosso homem do futuro, homem do passado, como veremos. Incompreensão e preconceito. Qual será o remédio quando se tampam o Amor? Mas também muitas pedras sob seus pés e isso é bom, pois “Se fosse fácil achar o caminho das pedras / Tantas pedras no caminho não seria ruim”. Num passeio irresistível pela manhã, quando o Sol acaba de nascer, pessoas saem para comprar pão, e ele não... Ele já suado, correu quilômetros, na mente o colapso de saber quando e como a violência travestida faz também seu passeio, e ele vê subindo nas árvores, estranhos percevejos, a vida se ilumina nessa manhã ele está só. Mas só ele nunca está. Pega uma flor no caminho e entrega para uma passante. Que se assusta, pensa talvez que era um assaltante, coisas que nos faz pensar para onde vamos...
A outra flor tem destino certo, em casa a sua espera está sua amada, sua companheira, essa sabe dos percalços e das luzes debaixo das soleiras, a flor pode chegar cansada em casa, mas chega.
¡Tchau Radar!
Eu vou saltar!
Não é nada fácil cara,
Euforia e depressão
Muitas flores no caminho
E uma pedra em cada mão
No peito salta um grito, “Tchau Radar!” não há agora limites para quem descobriu a chave do tamanho, a chave do controle, e pede licença “Eu vou saltar!” cansado de lutar contra a anestesia das mentes incrédulas do cidadão comum nosso homem que bem pode ser também uma mulher repete: “Não é nada fácil cara / Euforia e depressão” numa vida em que há “Muitas flores no caminho / E uma pedra em cada mão”. Admitindo a hipótese do Transtorno Bipolar, como catalisador dessas emoções devo admitir que numa euforia onde se está “no topo do mundo, na crista da onda” é comum sentir-se encantado pela vida e pelas pessoas, não vendo nenhum mal nelas, a rigor frisando qualidades gregárias únicas, no gestual, na fala, no campo das idéias, nas roupas, enfim na magnitude do ser, porém com o tempo e as “crises e cicatrizes” que não nos deixam ir além e fazem parte do mito humano que limita o infinito, e isso é válido para vivermos... Um dia se aprende a guardar “uma pedra em cada mão”. E isso também é importante, é uma auto-proteção contra a cegueira social da qual o contágio se dá com a palavra. No entanto, há mais de mil destinos esperando, o coração palpitante desses viajantes, ninguém vai jogar as duas pedras, elas só são amuletos, para uma profunda recordação, uma anamnese: “Há quase mil motivos pra gente ignorar, o que ouve o que vê em cada esquina...” (10.000 Destinos).
Engana-se se alguém pensar que estamos falando de luta de classes, ou de mera segregação... Estamos falando algo do espírito. O espírito dos seres que se juntos em volta de uma idéia pré-concebida para reter o secreto impulso de ambivalência da potência de um ser. Que quer ao mesmo tempo beber da sua fonte inexorável e inefável e quer convir no meio social.
Reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz
Que o crime não compensa
E tudo conspira a favor
Reza a lenda que a noite é uma criança
Em volta da fogueira a tribo dança
Nesses versos Humberto Gessinger traz a mensagem que vai corroborar com o que estamos dizendo acima. Deve-se abrir mão de um poder plenipotenciário para ser feliz com o outro. “Reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz”. E quem nasceu para ser feliz sozinho? Num ato de isolamento heremítico? A felicidade se dá no contato com quem a gente ama e aprende a amar, essa é uma das máximas do auto-conhecimento. Por isso o Humberto parece cantar: “Reza a lenda”, ou seja, tudo indica pela história da humanidade que é assim... Usar o poder da euforia, ou de uma depressão disfórica para se atirar no delito, também: “Reza a lenda”, que não compensa, o crime não compensa, traz uma estupenda solidão, um raio sórdido de insensatez do olhar enviesado do outro, enfim o crime já é um castigo. E lá do cosmos tudo se move ao teu gosto, pois você soube brincar sob as luzes das estrelas e dançar nos anéis de Saturno, sendo assim, “Tudo conspira a favor” a teu favor que alçou vôo mais altos do que aqueles não nascem assim, ou não viveram o que viveu, mas cuidado não se sinta tão especial, “Reza a lenda que a noite é uma criança” há muito, muito mesmo o que aprender.
E enquanto faz uso dos seus medicamentos, e fica louco pra ficar legal, “Em volta da fogueira a tribo dança!” para quê?
Pra celebrar... e descerebrar
Celebrar sua vida, a tribo que te olha lá de cima das estrelas. E descerebrar a tribo aqui da Terra que procura expandir sua consciência.
E você homem do futuro de que lado está? Será que no futuro teremos mais e mais diagnósticos de Transtornos Bipolar do Humor?
É um homem do passado, que tenazmente ganhou liberdade lingüística e possibilidade científica.
Neurotransmissores, mísseis na pressão
A vida em cada curva, no limiar da dor
Entre a vertigem de um cavalo alado
E o óleo diesel de um cavalo-vapor
Qual é o limiar da dor? Quando por força motriz de fatos da vida molas secretas do coração já não querem funcionar. Novamente os neurotransmissores querem disparar seus transportes, mísseis na pressão... “A vida em cada curva, no limiar da dor”. A curva aqui pode ser tida como um gráfico, um frio gráfico que registra as oscilações entre depressão e euforia, (pico). E para quem teve uma visão no meio disso tudo, fica um anátema que se desfaz entre a vertigem do cavalo alado e o óleo diesel de um cavalo-vapor.
Enfim a tribo inteira dança para celebrar os sagrados jogos de júbilos em volta da fogueira, enquanto que na Terra querem descerebrar pra celebrar.
Leonardo Daniel
19/02/09
– em livros de história
Música: Nada Fácil - TEXTO DO LIVRO NÃO PUBLICADO
Leonardo Daniel
Título: Abrindo as mãos
Nessa interpretação de “Nada Fácil” tentarei me deter à materialidade textual e buscarei elos aos de comunhão temática com outras músicas dos Engenheiros do Hawaii. Deixo bem claro que apesar da musicalidade me inspirar na hora de escrever, esta análise é literária, dentro dos limites da minha formação. “Nada Fácil” é uma das músicas assertivas do disco “Tchau Radar” de 1999.
Em “Nada Fácil” temos logo no título quase que um oxímoro poderoso O NADA que pode ser tudo, inclusive leve, e, FÁCIL, mas uma vez essas duas palavras juntas, fazem com que um outro campo semântico se crie... Um campo semântico onde nada é fácil, ou seja, tudo e qualquer coisa gravita em volta da dificuldade, do prisma do problema. Que dificuldade seria essa? Que problema é esse? Será que a música nos informa? Será que tem solução? Vamos então à interpretação dessa emblemática música?!
Neurotransmissores, mísseis na pressão
A vida em cada curva dispara o coração
Nada fácil cara, euforia e depressão
Muitas pedras no caminho
Uma flor em cada mão
Hoje sabemos que os neurotransmissores são como mísseis na pressão responsáveis neuro-fisiológicos por imponderáveis estados de humor, quem nunca ouviu falar dos efeitos miraculosos da serotonina? E deletérios da não condução dela? Pois então, esses mesmos mísseis na pressão apontam para um certo tipo de coração que vamos descobrir, mais adiante. O coração pulsa. A vida invade a sala das artérias, o mundo bem colorido dos átomos de todo esse organismo se organiza numa dança. “A vida em cada curva dispara o coração”. Esse homem de coração sensível cruza cada esquina com a surpresa de um grande Natal que, incorre sobre seus pensamentos, cada passo, cada história ativam novas sinapses da sua percepção. E quando não tem Natal tem Carnaval que quando acaba vem o triste arroio dos elétrons que não sabem sambar, afinal: “Nada fácil cara, euforia e depressão”. Etimologicamente euforia vem do grego, é “o bom transporte” é aquele que suporta a carga, o peso, e que gostamos de caminhar em sua companhia, ao seu lado. Mas numa visão muito pessoal, euforia é a força de quem carrega os enfermeiros antes da medicação que o fará dormir como um anjo, que já é, que já foi, que já pode ter sido... E, portanto, em psiquiatria, euforia é sintoma médico do Transtorno Bipolar.
Então esse nosso homem (“eu lírico” da canção e não o Humberto) tem o Transtorno Bipolar do Humor, a variação entre euforia e depressão? Não sei talvez sim, talvez não. Mas nada é fácil um dia ser o Sol e passa o tempo o relógio derrete e se é o Dragão. Na esquina em que faz o coração brotar de alegria ou se cindir de tristeza, não é nada fácil há “Muitas pedras no caminho” e “Uma flor em cada mão”.
Muitas pedras do rastro de incompreensão que gerou o nosso homem do futuro, homem do passado, como veremos. Incompreensão e preconceito. Qual será o remédio quando se tampam o Amor? Mas também muitas pedras sob seus pés e isso é bom, pois “Se fosse fácil achar o caminho das pedras / Tantas pedras no caminho não seria ruim”. Num passeio irresistível pela manhã, quando o Sol acaba de nascer, pessoas saem para comprar pão, e ele não... Ele já suado, correu quilômetros, na mente o colapso de saber quando e como a violência travestida faz também seu passeio, e ele vê subindo nas árvores, estranhos percevejos, a vida se ilumina nessa manhã ele está só. Mas só ele nunca está. Pega uma flor no caminho e entrega para uma passante. Que se assusta, pensa talvez que era um assaltante, coisas que nos faz pensar para onde vamos...
A outra flor tem destino certo, em casa a sua espera está sua amada, sua companheira, essa sabe dos percalços e das luzes debaixo das soleiras, a flor pode chegar cansada em casa, mas chega.
¡Tchau Radar!
Eu vou saltar!
Não é nada fácil cara,
Euforia e depressão
Muitas flores no caminho
E uma pedra em cada mão
No peito salta um grito, “Tchau Radar!” não há agora limites para quem descobriu a chave do tamanho, a chave do controle, e pede licença “Eu vou saltar!” cansado de lutar contra a anestesia das mentes incrédulas do cidadão comum nosso homem que bem pode ser também uma mulher repete: “Não é nada fácil cara / Euforia e depressão” numa vida em que há “Muitas flores no caminho / E uma pedra em cada mão”. Admitindo a hipótese do Transtorno Bipolar, como catalisador dessas emoções devo admitir que numa euforia onde se está “no topo do mundo, na crista da onda” é comum sentir-se encantado pela vida e pelas pessoas, não vendo nenhum mal nelas, a rigor frisando qualidades gregárias únicas, no gestual, na fala, no campo das idéias, nas roupas, enfim na magnitude do ser, porém com o tempo e as “crises e cicatrizes” que não nos deixam ir além e fazem parte do mito humano que limita o infinito, e isso é válido para vivermos... Um dia se aprende a guardar “uma pedra em cada mão”. E isso também é importante, é uma auto-proteção contra a cegueira social da qual o contágio se dá com a palavra. No entanto, há mais de mil destinos esperando, o coração palpitante desses viajantes, ninguém vai jogar as duas pedras, elas só são amuletos, para uma profunda recordação, uma anamnese: “Há quase mil motivos pra gente ignorar, o que ouve o que vê em cada esquina...” (10.000 Destinos).
Engana-se se alguém pensar que estamos falando de luta de classes, ou de mera segregação... Estamos falando algo do espírito. O espírito dos seres que se juntos em volta de uma idéia pré-concebida para reter o secreto impulso de ambivalência da potência de um ser. Que quer ao mesmo tempo beber da sua fonte inexorável e inefável e quer convir no meio social.
Reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz
Que o crime não compensa
E tudo conspira a favor
Reza a lenda que a noite é uma criança
Em volta da fogueira a tribo dança
Nesses versos Humberto Gessinger traz a mensagem que vai corroborar com o que estamos dizendo acima. Deve-se abrir mão de um poder plenipotenciário para ser feliz com o outro. “Reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz”. E quem nasceu para ser feliz sozinho? Num ato de isolamento heremítico? A felicidade se dá no contato com quem a gente ama e aprende a amar, essa é uma das máximas do auto-conhecimento. Por isso o Humberto parece cantar: “Reza a lenda”, ou seja, tudo indica pela história da humanidade que é assim... Usar o poder da euforia, ou de uma depressão disfórica para se atirar no delito, também: “Reza a lenda”, que não compensa, o crime não compensa, traz uma estupenda solidão, um raio sórdido de insensatez do olhar enviesado do outro, enfim o crime já é um castigo. E lá do cosmos tudo se move ao teu gosto, pois você soube brincar sob as luzes das estrelas e dançar nos anéis de Saturno, sendo assim, “Tudo conspira a favor” a teu favor que alçou vôo mais altos do que aqueles não nascem assim, ou não viveram o que viveu, mas cuidado não se sinta tão especial, “Reza a lenda que a noite é uma criança” há muito, muito mesmo o que aprender.
E enquanto faz uso dos seus medicamentos, e fica louco pra ficar legal, “Em volta da fogueira a tribo dança!” para quê?
Pra celebrar... e descerebrar
Celebrar sua vida, a tribo que te olha lá de cima das estrelas. E descerebrar a tribo aqui da Terra que procura expandir sua consciência.
E você homem do futuro de que lado está? Será que no futuro teremos mais e mais diagnósticos de Transtornos Bipolar do Humor?
É um homem do passado, que tenazmente ganhou liberdade lingüística e possibilidade científica.
Neurotransmissores, mísseis na pressão
A vida em cada curva, no limiar da dor
Entre a vertigem de um cavalo alado
E o óleo diesel de um cavalo-vapor
Qual é o limiar da dor? Quando por força motriz de fatos da vida molas secretas do coração já não querem funcionar. Novamente os neurotransmissores querem disparar seus transportes, mísseis na pressão... “A vida em cada curva, no limiar da dor”. A curva aqui pode ser tida como um gráfico, um frio gráfico que registra as oscilações entre depressão e euforia, (pico). E para quem teve uma visão no meio disso tudo, fica um anátema que se desfaz entre a vertigem do cavalo alado e o óleo diesel de um cavalo-vapor.
Enfim a tribo inteira dança para celebrar os sagrados jogos de júbilos em volta da fogueira, enquanto que na Terra querem descerebrar pra celebrar.
Leonardo Daniel
19/02/09