O Tio Feirante

O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e a olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que e a viagem em si.

Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida.

A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas. Nessa última viagem, visitei a casa da tia Delci, quem encontro por lá o tio Leí o feirante.

Em minha cidade natal, tio Leí foi feirante durante muitos anos, e basicamente muita gente lhe conhece, amigos e vizinhos compartilham não só seu apego aos seus produtos, no caso frutas e legumes. Segundo relato de familiares o tio começou bem cedo na profissão, com apenas quinze anos, um pequeno detalhe nada agradável: ele é muito detalhista e preocupado com a limpeza.

No tocante sua preocupação com os detalhes reside a luminosa frase que o próprio Deus reside neles em concordância com um estudioso holandês Huizinga, por ironia ou por necessidade.

O estudioso trata disso ao falar da Idade Média, considerou que cada aspecto da vida cotidiana era esmerilado aos detalhes da associação ideológica a mentalidade teocêntrica, essa abordagem dessa linha de pensamento cuidadoso e sociológico condiz com a vida na época.

Huizinga tem razão ao expor isso traduziu somente uma linha de pensamento que sociólogos, historiadores e teólogos em geral compactuam com esse raciocínio bem pontual, mas como poderemos conjugar Huizinga e Leí?

Os dois em questão se preocupam com a concretude e a perfeição do que fazem somente ao olhar para cada um desses detalhes, talvez essa relação de ponto de vista contribua de alguma forma para o entendimento da vida. Em tempos que a prudência anda ausente no mundo, é necessário e sadio ouvir que Deus mora em todos os detalhes.

Ao pensar na exposição sistêmica do primeiro acerca do assunto, entende-se que houve certa luminosidade quase solar nessa visão. O estudioso se pauta na ideia de que todo detalhe tem um peso a ser considerado ao escrever para as pessoas ou cuidar de frutas e legumes para serem vendidos na feira.

Huizinga pondera acerca do medo em errar que os cidadãos medievais tinham em mente e traduziam isso em ações cotidianas, transformando o pensamento em algo palpável.

No tocante ao segundo, sua preocupação reflete uma verdade sobre a qualidade ao vender seu produto, qualidade tem a ver com nosso interior, nessas paragens o feirante dá o melhor de si para os seus potenciais clientes no ambiente da feira que tem uma essência medieval.

O feirante somente vê as frutas como representação automática de algo que ele deseja para os seus clientes, nesse caso assume o papel de trabalho, diferente do ponto de vista de Huizinga.

Para o feirante o cliente em apreço, é visto como quem irá se agradar do seu trabalho como forma de aceitação, e faculta o direito ao cliente de comprar ou não comprar seus produtos.

Exerce o papel de mediador entre o produtor e o cliente, o feirante representa a voz popular e os interesses da população. Esse momento de representatividade comprova que a sua existência é fundamental para uma sociedade letrada.

Nesse caso em especial, tanto o estudioso holandês quanto o feirante carioca podem nos ensinar algo providencial para as nossas vidas; o primeiro faculta um olhar específico sobre o mundo; o segundo oferece uma totalidade plena e plana da realidade e qualidade de vida e do bom viver. Nesse momento a sabedoria de um coaduna com a experiência do outro e promove uma interação entre vida acadêmica e o cotidiano comum.

Os dois concordam em traçar parâmetros e concepções para uma vida saudável e equilibrada que deve ser desenvolvida ao longo da existência, essa percepção permite entender a complexidade que de certa forma envolve a humanidade.

Tanto o acadêmico quanto o feirante trazem valores que são luminosos á existência ao encerrar em suas reflexões e ainda mostram desdobramentos morais e sociais em seu desempenho.

A visão de Huizinga e Leí faz uma existência de forma exata, sem se associar a matemática à leitura de mentalidades medievais que demonstram certo conceito de aceitação e rejeição da existência.

Ás vezes se faz necessário visitar a feira, e buscar entender o mundo em sua essência, meu prezado leitor e como uma dica de leitura o livro O Outono da Idade Média de Johan Huizinga para o caro leitor possa se apropriar da visão desse grande estudioso de História Cultural.

Não deixe de nos acompanhar nesse jornal e veiculo de comunicação e até a próxima coluna. Até a próxima coluna, caro leitor.

JessePensador
Enviado por JessePensador em 26/08/2017
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