A vida e a Memória
O viajante ao viajar busca entender-se melhor a si mesmo e ao olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que é a viagem em si mesma ao longo da vida, pois a viagem é um processo.
Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida.
A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas. Nesta coluna , eu abrirei um longo parenteses, relatar acerca da minha viagem de cinco dias em Santa Catarina. Sendo mais específico na cidade de Tigrinhos, na companhia de um amigo de infância.
Visivelmente a vida nos prega peças engraçadas e relevantes que promovem bem-estar. Ir ver meu amigo Josué levantou boas lembranças das andanças da família dele e a presença do falecido pai Amaro, tais lembranças foi como uma peça me fosse pregada em cada dia que eu estivesse lá.
Incisivamente , parece que a memória fragmentada resolveu juntar toadas peças do quebra-cabeça que a vida em si mesma. Tal esforço deve ser compreendido e entendido com eficácia das acácias e sutilidades dos aromas que a vida como uma flor produz.
Deveras o bom hospedeiro vistou online o lugar de sua antiga moradia onde nós havíamos crescido e passado parte de nossa infância., esse processo de recuperação da memória dada pelo recente presente em que não se esquece o glorioso passado. Como diz o escritor Ondjaki; 'O passado sempre volta' em nossa vida ainda que não queremos , ele sempre dá meia volta e retorna com certa assiduidade aos dias atuais.
Assim como Ondjaki vive a refletir na presença constante do passado na vida cotidiana das pessoas no mundo, parece uma fina ironia advinda dos textos teatrais e literários. Como devemos lidar com um passado que nos persegue?
E um pequeno detalhe relevante , a Ensaística e a Crítica Literária em diversos pontos buscam dar uma resposta , mas não passam de tentativas ousadas advindas de pessoas muito bem intencionadas e interessadas em dar o melhor do que tem. Os ensaístas e críticos literários de fato são o melhor do que a literatura realmente pode oferecer a Humanidade.
Mas como a memória pode ajudar com o passado? Essa parte é interessante pela simples razão de que a vida é um conjunto de fragmentos de bons momentos e maus momentos formando um mosaico bem colorido de uma existência bem movimentada e conectada e como podemos remontar esses minúsculos fragmentos, basta somente consultar algo bem recente da sua vida.
E como fala François Dosse ' que resgatar a memória e recuperar o passado e guiar o presente e iluminar o futuro' , em certa parte concordo com Dosse, pois nos carecemos de uma iluminação para o futuro que ainda não veio a existência na plenitude dos tempos conforme os livros sagrados definem com elegância e inteligência
Mas o que fazer com tempo ? Na verdade existem de forma conjunta duas dimensões do tempo, a primeira com o teor de sagrada e de tudo que é relativo ao divino e sobrenatural que se enleva acima de nós pobres mortais e tão limitados como somos. A segunda abrange com sabedoria a finitude da existência marcada pelo relógio que insiste em fazer as horas andarem com rapidez e velocidade tamanha semelhante um raio solar.
O historiador François Dosse e o escritor Ondjaki apontam para a realidade da vida como um mosaico a ser montado por intermédio de infinitas partículas da vida que se encontram e se somam com um grau elevado de profundidade para assim redesenhar a vida como uma pintura e um retrato da existência. Tal mosaico sempre dobra de tamanho e vigor artístico de um artista experiente.
Realmente, já foi comentado em outras colunas anteriores o valor de um retrato e um pintura na vida, mas aqui o estudioso e o artista unem seus pontos de vista em prol de uma possível definição da vida concreta e absoluta de forma prodigiosa e prudente.Os dois apontam para os riscos inevitáveis de que a vida possui como uma parte difícil do encaixe.
Ironicamente , os dois acertam bem nessa colocação ao apontar um mosaico a ser desenhado com um certo vigor e tintas fortes advindas de uma aquarela de um artista ousado e experiente. Por outro lado erram ao dizer que o encaixe é um processo complexo e delicado , em que se enfrenta reveses absurdas sem desistir de nada em absoluto.
Assim retomando ao fato de estar com Josué e relembrar do passado, me faz reportar para a ideia original do mosaico e trazer a memória das situações felizes da vida e recuperar os caminhos perdidos que ficam na berma da estrada usualmente pouco falamos do passado, mas com certa assiduidade essa coluna vislumbra o futuro . Assim fico com a frase dada por Ondjaki 'o passado sempre volta'em diferentes fases da vida , em diferentes instantes do conhecimento enciclopédico que abrange com virtuosismo a vida. Caro leitor, aqui fica minha duas dicas , a obra 'História em Migalhas' de François Dosse e 'Bom Dia Camaradas'de Ondjaki, tenha uma boa leitura.