Toda verdade é uma Revelação
Cara eu lembro quando lia Heidegger e via a professora falando da sua visão de verdade (no caso, do filósofo, não dela) de que verdade não era "dizer que é daquilo que é...", mas antes, como uma espécie de "desvelar, um desvelamento, desencobrimento", enfim, todos esses temos que em "filosofês" fica muito bonito de se dizer, mas que no fundo, no fundo, é só mais um conceito vazio de conteúdo.
Vazio no sentido que você encaixá-lo numa estrutura textual dado certo sentido que lhe couber, mas que fora dessa estrutura, ele não ganha sentido algum, ou seja, ele não é facultativo de uso na linguagem comum... para resumir, ele não quer dizer nada quando você fala dele no dia-a-dia. Não sei se foi minha cegueira latente, ignorância mesma, ou simplesmente o meu "Aristóteles" dentro de mim, mas tudo isso sempre me pareceu inócuo mesmo enquanto conteúdo de filosofia -- verdade continua dizer que é do que é, e que não é do que não é. Em certos contextos de filosofia ele funciona? Sim. Mas e fora dele?
Então, belo dia, deparei-me com a verdade. Não a "verdade em si, como o descobrir daquilo que está no seio do mistério", mas simplesmente um fato diário que escapa de nós porque estamos "no fundo da caverna" -- Heidegger tem um termo próprio de quando a pessoa simplesmente não está consciente de algo que lhe acontece corriqueiramente, e não, não é alienado. Então, belo dia, descobri (olha) uma verdade de um fato comum da vida.
A gente começa a enxergar tudo com outros olhos -- não estou falando de usar uma cadeira para sentar e depois usá-la também como banquinho para alcançar lugares altos -- mas simplesmente, é como se toda uma certa interpretação que você faz de mundo a partir de um certo parâmetro, se torna simplesmente falso, porque aquele ponto de "apoio" não era verdadeiro. Por exemplo, quando se não compreendia que magnetismo e eletricidade estão interligados, ou que átomos podem ser divididos em ainda mais partículas de matéria. Ou mesmo a compreensão newtoneana de gravidade, que passou a mudar a partir de Eistein. É como se toda uma cadeia de razões precisa-se se atualizar a partir de um simples fato que se provou falso com o tempo, e que se descobriu que ele o era -- é feito uma total revelação a partir daí, como se outra luz se fizesse e você passasse a compreender tudo de volta a partir desta "nova verdade" e tivesse que reconstruir toda a sua cadeia de ideias.
Não vou mentir. Considero as palavras "desencobrir, desvelar, descobrir" todas muito vazias. Elas são lindas num discurso filosófico, assim como é lindo você entender o que um advogado ou médico querem dizer quando falam em suas línguas próprias. Ou ainda um biólogo, que para cada organela de célula, possui um nome esdrúxulo completamente diferente do outro -- porque foi certo ou certa cientista que descobriu sua funcionalidade e o nomeou a seu gosto. Mas quando uma verdade de um fato, que antes se cria como A, mas que na verdade é não-A se torna revelada, o que você tem de fato, é uma revelação: "Meu Deus, agora vou ter que reescrever toda a minha tese científica porque na verdade os planetas não são completamente redondos".
Pronto, ali a revelação de um fato, ou seja, o "desencobrir de uma verdade", na vida real, no dia-a-dia, a "nova verdade" em si é que se trata da Revelação. E não o simples fato de se "descobrir algo" e dizer "eureka". É o fato novo que interessa. Essa "verdade nova" é reveladora e pode sim mudar sua vida, ou minha vida, desde pequenas coisas, até as maiores possíveis. E é engraçado como muda tudo: pode ser simplesmente que veio à tona que você tem uma doença terminal, ou que sua família escondeu algo de você a vida inteira. Acho que mais interessante que o "ato de descobrir" é a revelação em sí.
E por favor, sem metástase de palavras e tentativas de descobrir d'aonde veio a palavra "revelação". Vamos ficar no comum, até porque, só estou conversando, e não pensando com as barbas de molho para achar um meio de virar doutor em filosofia.