OUTRORA DEIXEI DE ACREDITAR

Não peço desculpas

Mas me arrependo muitas vezes

Em abrir portas e dar acessos

Para o meu mundo tão protegido

Do que agride meus pensamentos

Não peço licenças

Mas entro muito apreensiva

Em becos que não me cabem

Por acreditar em boas vontades

Saindo deles, logo em seguida

Não tenho pressas

Mas me angustio diariamente

Com a apatia que observo

De quem não a esperava

E me apresso em fugir

Deixando rastros por toda parte

Com o intuito de confundir

Quem resolva me seguir

Não volto atrás

Mas estendo as mãos bestamente

Àqueles que lá não querem ficar

Porque lá já não estou para ajudá-las

E não é por orgulho que ajo assim

E explico com a intenção de não agredir:

Não volto atrás

Por tentar até o limite exato

Que não permita mais um retorno

Para onde haja tantas provas

De que não vale mesmo a pena insistir – nem ficar

Não tenho pressas

Para evitar falsos julgamentos

E ter tempo suficiente

De observações in loco e bem no fundo dos olhos

Não peço licenças

Porque nunca entro sem convites

E não peço desculpas

Porque prefiro demonstrar em atos

Que não mais repetirei o que fiz de errado

Mas, ei, não me julguem assim, tão rápido!

Pois há outros lados meus

Talvez menos intranquilos

Quem sabe mais interessantes

Mas estes, caríssimos

São para quem souber regar

Minhas raízes grudadas em terras e asfaltos

Mas admito, muito fora de moda

Que não desejo mal algum

(Apesar de aguardar as lições que a vida guarda)

Mas também não permito perto de mim

Quem interessa apenas receber

E vislumbrar os próprios direitos

Sem admitir minha existência

- Pelo menos enquanto eu fizer questão de existir