A vida como Construção
O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e a olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que e a viagem em si.
Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida.
A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas. E todas as vezes que vou á minha cidade natal, sempre passo na casa do tio Paulo, e todo o momento ele está ampliando e construindo algo novo.
Em visão simbólica o fato demonstrado acima referido, demonstra que é um ancião de ação, construindo e reconstruindo seu patrimônio em termos claros, essa construção reporta a um processo de reflexão da própria existência. Na dimensão dos símbolos sempre que constrói algo, devem-se fazer alicerces são os fundamentos morais e jurídicos que alguém seja entendido como pessoa. Esses alicerces devem ser bem fundamentados na criação familiar, formação escolar e decisões individuais que norteiam os passos futuros que serão dados sem demora.
O ancião de ação demonstrou em outros termos, que os alicerces devem ser bem profundos, não existe nas construções alicerces rasos, a profundidade indica caráter e personalidade firme e constante. O próximo passo são as paredes que são ações concretizadas e permanentes, que ao serem sedimentadas preparam ao indivíduo para o futuro, e sempre requer colunas que são a personalidade formada em adequação a formação cultural.
A sapiência do ancião reside exatamente aí em concluir a construção, onde estão os últimos detalhes que são também de certo ponto de vista fundamental. A cobertura ou o telhado representa a ideia de proteção e cobertura ainda que distante, de certo modo uma habitação completa, não existe casa sem cobertura ou telhado.
O ancião construtor não parou por aí no telhado, se preocupou também com o acabamento parece que nada na vida por ficar sem ser acabado ou concluído, tudo em nosso viver depende de uma conclusão. O acabamento demonstra nossa visão exterior dos fatos internos, essa visão exterior exclui o entendimento claro dos acontecimentos. Assim o ancião viu que tudo em sua vida tinha um fechamento, um senso de um fim segundo Frank Kermode e adotou isso como uma norma em sua vida.
A busca ou o senso de um fim é algo que segundo crítico literário referido nas linhas acima, traça e define a ideia de nossa limitada existência que nos assusta e suscita a ideia de começo, meio e de um fim, ele afirma que todas narrativas em sua essência já transmitem essa ideia.
Frank Kermode fundamenta seu raciocínio nos textos bíblicos e literários que trazem em seu bojo essa natureza humana e limitada pelo destino, o pensamento bem fundamentado do autor, insere um entendimento sobre a humanidade, advindas de suas análises do teatro shakespeariano com razão, as peças escritas por William Shakespeare demonstram essa ideia.
A mentalidade de Kermode contraria em parte com a de Walter Benjamin, pois o segundo traz á lume que todas narrativas do Mundo Ocidental nascem da morte, os dois críticos divergem apenas nessa afirmação.
Retomando ao fio inspirador desta coluna, percebe-se atentamente que forma atenuada a construção é um processo como viver também assume essa proporção, mas o ancião ver que ao fim do processo a vida também pode ter um fim, ainda que não faça parte de sua vontade. Em um momento de sua vida deva aceitar a Morte como sua acompanhante, o senso de um fim sempre segue nossa caminhada por esse mundo, o ancião sabe que sua hora vai chegar, mas esse senso não se afasta dele como de nenhum de nós, esse ponto vista credita ao crítico a capacidade de entender a grande aflição sofrida pela humanidade.
O exercício de viver bem preconizado em outra coluna se alia a esse de estar sempre em atividade como demonstrou o sábio ancião em sempre laborar e labutar em construir pedra após pedra de sua existência, sem parar ou fracassar, pois uma pequena parada a construção jamais será concluída ou acabada.
Em vias de acabamento dessa coluna, o nosso afinado crítico literário Frank Kermode dividiu e compartilhou conosco um pouco de sua visão acerca o senso de um fim, e deu pistas porque razão isso assim procede, e ainda mostrou com sapiência e virtuosismo a beleza do senso de um fim.
Caro leitor, eu convido você que leia o livro Senso de Um Fim de Frank Kermode.