O silêncio da ceia de Natal
O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e a olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que e a viagem em si.
Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida. A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas. E parte rumo á rodoviária ou aeroporto, e os trâmites aí envolvidos. E a partir do tema proposto, caro leitor acerca do Natal.
Em minhas viagens a minha cidade natal, sempre observo situações interessantes que ocorrem em alguns eventos comemorativos. As famílias brasileiras sempre se reúnem em torno de uma mesa em ocasiões natalinas, algo rotineiro em todas as casas. Venho agora refletir sobre o silêncio nesse período.
Em meu parentesco, usualmente se compra peru e bacalhau para se comer nos dias natalinos, se tem uma mesa farta e ampla, e se recebe muitos amigos parentes e conhecidos. É uma situação anual e recente que sempre abre caminho para novas mentalidades futuras e concretas em certo aspecto.
Os parentes se preocupavam com somente os detalhes, algo bem comum nesse período, onde as ordens eram arrumar tudo o possível para a noite natalina e requer reparos na casa para iluminar a todos ali presentes, e se confirma as dores de cabeça do dono da casa e dos demais.
Mas se percebe um profundo silêncio no ambiente doméstico, horas antes do jantar as pessoas circulam em severa quietude, pensando em como agradar amigos e conhecidos que mais tarde chegariam, mas ansiedade logo passou e tudo voltou à normalidade, conforme pensado.
Os conhecidos começaram a chegar, mas o silêncio permaneceu ali na área de serviços esperando a ocasião oportuna para aparecer no momento. A mesa começou se encher de pratos e refrigerantes ali acomodados, e cadeiras espalhadas para todos assentarem e se acomodarem, visto que espaço é pequeno.
E o silêncio aparece com certa agilidade e envolve a todos naquele ambiente, algo profundamente social, e analisando o contexto, o cenário e o próprio texto segundo o historiador Robert Darnton em O Massacre dos Gatos. Em concordância com esse pensador, um acontecimento pode ser um texto lido e entendido. A visão oferecida pelo cenário ajuda a entender a realidade social do país e o estado emocional das pessoas nesse instante. As ideologias alimentadas advêm da visão judaico-cristã do mundo praticada por protestantes pentecostais ao longo dos anos, se tornou uma tradição em nossa família paterna, mas lamento dizer certas tradições sempre são renováveis e sofrem certas rupturas ao longo de sua existência social.
Ao analisar esse fato, a mente dos participantes relia todos os símbolos ali tocados e imaginados relembra tudo quanto já passou ou vai por certo passar em alguns instantes.
Assim a noite foi passando e as pessoas falavam atenuadamente de coisas bem cotidianos e fatos bem marcantes em suas vidas e generosamente a ceia foi distribuída a todos ali presentes .
E um fato que vale a pena relembrar, caro leitor, pois a cada ano tudo se muda e nada permanece como desejamos que fique como está. Caro leitor tudo deve mudar, mesmo que não queremos assim, devemos romper com o passado que nos trava para alcançar o futuro.
O silêncio e a marca de um novo tempo conforme diz os antigos e traz uma nova esperança para novos tempos de mudanças e tolerâncias pessoais e coletivas.
Segundo o autor de O Massacre dos Gatos, devemos ler os fatos como textos visuais como textos escritos, Darnton tem razão ao dizer isso. E posso demonstrar por intermédio dessa Ceia de Natal.