O retorno das fitas K7 e qual lição podemos tirar disso?

Após assistir um vídeo, da TV Folha, me senti impelido a comentar, refletir e escrever sobre o assunto. Peguei a época da fita K7 (Cassete), aliás, acredito que essa abreviatura, seja algo bem brasileiro. O mais interessante, ao meu ver, eram as coletâneas (conhecidas hoje pela chique expressão “mixtapes”).

Seja gravando diretamente do rádio uma música escolhida pelo ouvinte, ou anunciada previamente (em algum top 10, por exemplo) ou com as melhores músicas extraídas de vários discos ou de outras fitas (para este último, era necessário o “duplo deck”, compartimento duplo de fita K7).

Para quem ouvia nos walkmans, existia a mania de usar aquelas canetas Bic Cristal que, com seu corpo hexagonal (acho que funcionava em corpos cilíndricos também) encaixavam perfeitamente, proporcionando um bom torque para rebobinar, uma vez que tal função resultava em alto consumo das pilhas.

Conheci muitas bandas através de fitas K7 de amigos, como a primeira vez que ouvi “Bro Hymn” da banda Pennywise, no álbum de mesmo nome. Havia também uma locadora de CDs, que resultava em cópias dos mesmos em fitas K7 (me recordo do álbum “Floored” da banda Sugar Ray), muitos deles edições raras não lançadas no Brasil.

O mecanismo era interessante e, assim como o VHS, possuía lingueta que, quando quebrada, impedia gravação (para contornar, eram usados frequentemente fita adesiva “durex”). Neste ponto, a fita K7 e o VHS são muito mais interessantes e “lúdicos”, mesmo possuindo tecnologia inferior aos CDs, DVDs e Blu-rays, havia uma interação maior com a mídia (lembrando também que era comum escrever nos rótulos e folders, encartes).

Porém, por mais bacana que seja, não acho que isso justifique a retomada de produção (o que não significa que eu seja contra quem queira fazer isto). Diferente do Vinil, as fitas K7 e VHS tem seu conteúdo armazenado de forma analógica e magnética, o que resulta na perda de qualidade com o tempo: som abafado, músicas abaixo/acima do tom etc… O que torna o produto um tanto descartável (dificilmente, você verá alguém que ainda possui em bom estado fitas K7s originais da época, ao contrário dos discos de vinil). Para mim, trata-se, claramente, de uma tentativa de modelo de negócio diferenciado. O qual conta também com alguns fãs, saudosistas e hipsters.

O único ponto positivo que vejo nisso tudo é o incentivo para que as pessoas parem para ouvir música e não apenas de forma secundária, enquanto fazem outras atividades. Ainda que existam alguns dispositivos portáteis (walkmans) funcionando por aí, os adeptos do K7, fatalmente, vão contar hoje mais com aparelhos maiores.

O vinil, neste ponto, é imbatível: por mais que existam aquelas vitrolas em forma de maleta (com diâmetro menor que o próprio disco), o vinil é enorme e não possibilita ouvi-lo por aí enquanto andamos a pé ou no carro, forçando que a pessoa o ouça em casa, ou num local que possua vitrola. A questão do Lado A, Lado B possui também algo interessante a respeito, mas isso fica para uma outra oportunidade.

A lição que tiro de tudo isso é: não precisamos voltar no tempo, tecnologicamente falando, não é necessário usar coisas “movidas à lenha”, mas apenas refletir e repensar nossa atitude mental, se vamos consumir ou se vamos apreciar a cultura.

Se a música é parte tão importante de nossas vidas, o que nos impede de desligar o WiFi, notificações do celular e dedicar 30 minutos ou 1 hora para sentar e ouvir um bom álbum, acompanhando suas letras?

Recomendo este exercício, ao menos uma vez ao mês, acho que você não irá se arrepender!