Motivação. Por que e como?
O tema da desmotivação é avesso à luz da verdade, apesar das filas em eventos científicos e infinidades de quadros em jornais populares. Parece estranho que os pesquisadores sérios sobre o assunto ainda não tenham descoberto o caminho do mundo produtivo, no qual essa mazela não assombra mais a humanidade.
É ainda mais frustrante que o poder paralisante da desmotivação só revela aumentos, com um grande número de pessoas, especialmente jovens, se sentindo incapazes da tarefa de manejar sua energia motivacional.
Com esse problema em mente, forneço uma análise contingencial e quem sabe propor algum passo em direção à solução.
Ao que me parece, a falta de energia surge, com mais frequência, perante a previsão de atividades que o sujeito não quer fazer. Mesmo que seja uma atividade boa para ele, que ele deva, ou queira, querer.
De um ponto de vista Skinneriano, as atividades são divididas entre agradáveis e aversivas, com significados muito simples. Atividades agradáveis geram estímulos bons. Atividades aversivas geram ou evitam estímulos ruins. Claro que a vida não é dividida em blocos, mas podemos analisar a tendencia comportamental isolando esses momentos em que a atividade acontece, chamados "Contingências".
As atividades, ou comportamentos, agradáveis requerem um esforço da pessoa e têm como "prêmio" algo que não existia antes. A visão ou ideia desse tal prêmio sinaliza ao corpo, que se prepara para o comportamento necessário. Finalmente, ao realizar a atividade e receber o prêmio, você sente uma sensação agradável, e seu corpo se torna mais propenso a realizar o mesmo comportamento no futuro, em situações em que o prêmio está disponível.
Já as atividades aversivas podem ser de dois tipos. Simples punições, em que uma consequência ruim acompanha o comportamento; E o reforçamento negativo, que mais nos importa em relação a desmotivação.
O reforçamento negativo acontece quando nos esforçamos em uma atividade com o fim de evitar ou atrasar coisas ruins que estão acontecendo ou vão acontecer. Quando a coisa que "tememos" não acontece, sentimos um certo alívio, e tendemos a repetir o que achamos que evitou o estímulo. Por exemplo, se você trabalha para que a sua luz não seja cortada, a sensação de receber o pagamento é de alívio. Tanto a punição quanto o reforçamento negativo causam uma sensação de mal estar no organismo, mas o comportamento só será repetido no caso do reforçamento negativo, que traz também o alívio.
Neste ponto, é óbvio dizer que as atividades agradáveis propiciam um desempenho mais motivado. As punições, também, obrigam a pessoa a se mexer com certa pressa, no sentido a evitá-las.
As contingências de reforçamento negativo, por sua vez, parecem estar na raiz do problema da desmotivação, de modo que ao preencher a vida com esforços para evitar problemas, sentimos nossa energia gasta e insuficiente.
Perante o peso dos perigos do mundo real, é compreensível dispensar menos atenção a construir estímulos bons, e focar energia em sobreviver. (Leia-se evitar problemas). Entretanto, o foco em atividades de reforçamento negativo dá início a um ciclo vicioso com gasto de energia muito alto. Preocupa-se com uma possibilidade ruim, trabalha-se para evita-la, e ao fim tem-se um sentimento de cansaço e um breve alívio, que dura só até o início da próxima preocupação.
Bem, me parece que esse aspecto do assunto se resume a relação entre as demandas do mundo e a forma com que respondemos a elas. Então como modificar a situação? Como preencher a vida com o tipo de atividades que nos deixa motivados?
Podemos alterar radicalmente nossas condições de vida para que se realize mais atividades prazerosas e construtivas, embora o mundo costume impedir essa possibilidade com seu punho cruel. O que nos resta nessa situação é tentar mudar a maneira com que percebemos a contingência.
Se eu conseguir sentir que meu salário é um presente que eu não tinha, e que a partir do seu recebimento posso escolher entre as infinitas possibilidades de gastá-lo (Inclusive pagar a conta), talvez eu não sinta o desespero de trabalhar para que a luz não seja cortada.
Veja bem, na prática o que aconteceu foi o mesmo. O sujeito trabalhou, ganhou dinheiro, pagou a conta e teve água. Entretanto, a desmotivação vem da sensação de que se comporta para evitar riscos. O aspecto da situação a qual se dirige o foco da consciência pode influenciar o modo com que o corpo recebe e reconhece o evento, afetando os processos bioquímicos responsáveis pela motivação física.
O problema está longe de ser solucionado, pois mesmo que se concorde com as propostas, elas são mais fáceis ditas do que feitas. Ainda resta a dificuldade de como alterar a situação prática. As contingências reais podem ser manejadas, embora com muito custo e esforços específicos a cada caso.
Já o foco da atenção é menos palpável, mas parece mais promissor. Esse caminho, que com certeza começa com a reflexão, infelizmente não fornece manuais. Cada ser precisa olhar para si mesmo e enxergar o que há de construtivo na avalanche de contingências que enfrentamos no dia a dia.