Morrer como ego para renascer como alma
O religioso japonês Yoiti Okada declara que o homem não deve se identificar ao ego particular, mas à divindade, universal e eterna, que é o centro de seu Ser. Para tanto, é necessário renascer.
Tanto no Oriente quanto no Ocidente tal tema perpassa a filosofia e a religião: o ego como ilusão, a divindade universal como realidade Una e Absoluta.
De um modo ou de outro, tal ensinamento consta da tradição védica, dos upanishads, do Bhagavad-Gita, do budismo em suas mais diversas expressões. Na filosofia grega, Sócrates, tal como figura em Platão, nos diz que filosofia é aprender a morrer, e uma das exegeses possíveis de seu pensamento é que "morrer como ego (particular e imperfeito, preso à doxa, ilusão) para renascer como alma" (universal e perfeita, una à Verdade-Bem-Belo) é uma noção central para o filósofo de Atenas.
Também no cristianismo a ideia de que é necessário renascer como filho de Deus está presente. É o que Yeshua, o Kristos, diz a Nicodemos em João 3:3:
"Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus".
Acerca da supressão do eu particular para o renascimento no Eu da divindade, São João da Cruz, o "doutor místico" em "A noite escura da alma" nos diz:
"A alma conta, nesta primeira Canção, o modo e maneira que teve em sair, — quanto ao apego, — de si e de todas as coisas, morrendo por verdadeira mortificação a todas elas e a si mesma, para assim chegar a viver vida doce e saborosa, com Deus. E diz como este sair de si e de todas as coisas se realizou “em uma noite escura” — o que aqui significa a contemplação purificadora, conforme se dirá mais adiante. Tal purificação produz passivamente na alma a negação de si mesma e de todas as coisas".
Temos de lembrar de Santo Agostinho em suas "Confissões":
"Deus está no homem, e o homem está em Deus".
A divindade está no homem, mas ele a nega e a esquece quando se identifica à persona, o eu particular. Talvez esse ensinamento sublime, presente nas mais diversas tradições religiosas e filosóficas possa nos levar ao desvelamento de uma nova dimensão do Ser. Tal ensinamento, se tomado como imperativo de uma nova moralidade, forma a base de uma ética da unicidade: como atentar contra o outro, se a separação entre eu e o outro é uma ilusão, e se, em essência, todos participamos de uma natureza universal? Rompendo os limites dos códigos morais, no entanto, tal ensinamento se revela como um princípio teológico ultrarreligioso capaz de nos provocar uma reflexão transformadora: necessário é nascer de novo!
Orientações - Yoiti Okada
http://www.messianica.org.br/meishu-sama/kyoshu-sama/palavras-de-kyoshu-sama
A noite escura da alma - São João da Cruz
www.kennaz.com.br/baixar/arquivos/14-a-noite-escura-da-alma-arquivo.pdf
Confissões - Santo Agostinho
www.lusosofia.net/textos/agostinho_de_hipona_confessiones_livros_vii_x_xi.pdf
Bíblia Almeida on line
https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/3
Bhagavad-Gita
www.culturabrasil.org/zip/bhagavadgita.pdf