O Sabor da Fé e o Jovem Werther: Diálogo entre Mokiti Okada e Goethe

Há duas passagens da literatura universal que se destacam tanto por sua elevada beleza quanto pela profundidade do sentimento religioso que evocam. Em "O Sabor da Fé"' o pensador japonês Mokiti Okada nos narra o quão sublime é aquela experiência que descreve como "estado de êxtase":

"O objetivo da Fé é alegrar a vida, dar-lhe tranquilidade e permitir que se desfrute do sabor de viver. Então as coisas da natureza se transfiguram: as flores, o vento, a lua, o cântico dos pássaros, a beleza das águas e das montanhas passam a ser vistos como dádivas de Deus para alegria das criaturas. E passamos a agradecer os alimentos, o vestuário e a casa em que vivemos, considerando-os como bênçãos, e a simpatizar com todos os seres, mesmo os irracionais e os inanimados. Sentimos que até o pequenino verme da terra se acha próximo de nós…. É o estado de êxtase".

As palavras de Okada encontram nas de Goethe um casamento perfeito. Nesse clássico da literatura alemã, o grande autor do Fausto e da teoria das cores também descreve um êxtase, que é um estado de encantamento místico, uma abertura ao transcedente, ao mesmo tempo que é um estar plenamente presente no Presente, no Agora, sorvendo do mundo toda sua diáfana beleza:

"Minha alma inunda-se de uma serenidade maravilhosa, harmonizando-se com a das doces manhãs primaveris que procuro fruir com todas as minhas forças. Estou só e abandono-me à alegria de viver nesta região criada para as almas iguais à minha. Sou tão feliz, meu amigo, e de tal modo mergulhado no tranquilo sentimento da minha própria existência, que esqueci a minha arte. Neste momento, ser-me-ia impossível desenhar a coisa mais simples; e, no entanto, nunca fui tão grande pintor. Quando, em torno de mim os vapores do meu vale querido se elevam, e o sol a pino procura devassar a impenetrável penumbra da minha floresta, mas apenas alguns dos raios conseguem insinuar-se no fundo deste santuário; quando, à beira da cascata, ocultas sob arbustos, descubro rente ao chão mil diferentes espécies de plantas; quando sinto mais perto do meu coração o formigar de um pequeno universo escondido embaixo das folhagens, e são insetos, moscardos de formas inumeráveis cuja variedade desafia o observador, e sinto a presença do Todo Poderoso que nos criou à sua imagem, o sopro do Todo-Amante que nos sustenta e faz flutuar num mundo de tenras delícias […]".

A superação da banalidade do mundo é, ao mesmo tempo, e misteriosamente, um mergulho atento na própria realidade das coisas; quando estamos presentes no Presente, o pequeno verme da terra deixa de ser banal, e se revela em todo seu milagre. O ego, mesmo que por instantes, é suspenso da existência, e o Ser está livre para se deleitar com a beleza do mundo. Sente, então, o Sabor de Fé, o Sabor do mundo e da vida.

O Sabor da Fé - Mokiti Okada

http://www.messianica.org.br/culto-mensal/ensinamentos/sabor-da-fe

O Sofrimento do Jovem Werther - Goethe

http://www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/goethe_03.pdf