Drogas, alienação e capitalismo
DROGAS, ALIENAÇÃO E CAPITALISMO
(Teto Machado)
Eis que adentramos o século XXI escutando a cantilena de que chegamos à Era do Conhecimento e deixamos para trás os atrasos dos séculos anteriores assentados no paradigma da produção fabril e do protagonismo histórico do proletariado.
De alguma forma, o sistema econômico reinante e resistente, ressuscita teorias de.combate às ameaças que antes lhe espreitava, numa obsessiva afirmação identitária, permanentemente e sofisticamente relacionada com a "deusa imaginária" Liberdade.
Integrantes de sociedades, cada vez mais, fechadas em fronteiras nacionais, submetidas a leis de controle social em crescimento, incônscios de que não são, de forma alguma, proprietários absolutos de seus próprios corpos, os indivíduos deixam-se seduzir pelo discurso de que são livres para falarem, votarem, andarem, trabalharem, opinarem raivosamente nas redes sociais. Por enquanto. Somente na medida de certas conveniências do sistema e de seu aparato ideológico.
O Controle Social que as classes dominantes exerce sobre as populações de seus países, oscila entre a liberalidade em certos hábitos, costumes e a repressão em maior ou menor intensidade sobre os mesmos. O importante é garantir a contraparte da ideologia, incessantemente trabalhada na educação, propaganda, cultura de massas, para neutralizar os espaços não preenchidos por onde possa penetrar um mínimo de consciência da realidade de exploração, engodo, injustiça e de suas causas, evitando-se a revolta e as demandas por transformações na sociedade. Manter o domínio pelo controle exercido pelas leis e pela manipulação cerebral.
O processo de desumanização ao qual ser humano tem sido submetido, desde o aparecimento da indústria moderna e do próprio capitalismo, aprofunda-se a cada dia. O barbudo mais odiado pelos donos do Capital, nascido em Treves, Alemanha, no século XIX, aprofundou de forma admirável e genial os estudos sobre a desumanização, quando explicitou o caráter perverso do processo de Alienação do trabalhador, a partir da linha de montagem fabril, bem como a perversão do processo de Reificação do mesmo, quando a força, a energia do trabalho humano transforma-se em mercadoria com preço, fazendo a pessoa tornar-se objeto de baixo valor. Por último, a inversão bizarra dos valores, quando a mercadoria e o próprio dinheiro, ganham vida, no processo de Fetichização.
A Alienação do trabalho, posta como realidade em que o homem não se reconhece em seu produto, ignora sua condição de produtor e a expropriação de grande parte de suas horas de esforços pela Mais-Valia que lhe é extraída, subtraída pelo patrão, transforma-lhe numa espécie de "zumbi" produtivo, completamente incapacitado ao pensamento e à reflexão sobre si, sua situação e o seu mundo, que na verdade lhes foram tirados pela "racionalização" econômica do Capitalismo. Eis a alma da crítica ao Capital, feita pelo profeta barbudo da Alemanha!
Mas não é suficiente a Alienação do trabalhador. É necessário alienar as massas, principalmente os jovens que, transformados em multidões de zumbis, diminuem os riscos de fissuras no Sistema, por indisponibilizarem-nos à rebeldia e oposição, simplesmente por retirarem destes, a capacidade reflexiva. Evidente que se, em meio a esse processo houver comércio e lucros, duplo ganho. Eis onde entra em cena a positividade das drogas, onde se encaixa a sua utilidade!
O Capitalismo é como um boi. Dele, nada se perde, tudo se aproveita.
Lutar contra as drogas é salutar. Porém, descontextualizar essa luta, ignorando os fatores logísticos e "racionais" do seu objeto é, no mínimo, ingenuidade.
À Alienação geral da sociedade servem o próprio processo de geração das mercadorias, a fetichização destas, a Reificação (identificação/coisificação) do ser humano e, além da atratividade hipnótica das mercadorias da sociedade de consumo, as drogas disseminadas com facilidade e, indiscutivelmente, com intencionalidade.