Onde houver erro, que eu leve a verdade
Formação Fraternal
NOSSO JEITO DE SER FRANCISCANOS
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
(Teto Machado, OFS).
"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (Jesus de Nazaré).
Em tudo Jesus foi libertador.
Na cura de inúmeros enfermos, nas intervenções para libertar "atormentados pelos espíritos impuros", nos diálogos com as mulheres e pecadores, a quem concedeu a atenção e o perdão, nas prédicas às multidões sedentas de esperança e consolo.
O anúncio profético do Reino de Deus era um enorme grito de libertação. Por fim, a sua paixão e ressurreição trouxe a plena libertação humana do pecado e do antes, eterno domínio da morte.
O problema que se cria, quando se fala de libertação, é que os autores e mantenedores das situações de cativeiro e escravidão, reagem violentamente a tudo o que ameaça seus domínios. Daí os processos dolorosos e, por vezes, fatais, a que se submeteram os profetas da tradição veterotestamentaria, passando por João Batista, Jesus e seus seguidores, até hoje.
Desmascarar as ideologias vigentes, a dominação politica, o discurso enganador, a corrupção das pessoas e instituições, implica em riscos a que poucos estão aptos e dispostos a correr.
Muito fácil ser religioso, devoto de um modelo de culto descomprometido com o mundo, com a realidade, a sujeira das ruas e com a proximidade, para muitos, incômoda dos pobres. Jesus não tira ninguém da realidade.
Se o Evangelho, se Jesus é nossa verdade, também o é aquele com o qual ele se identificou: o pobre. Não é muito suave ler ou escutar a proclamação de MT, 25. Mesmo quando escutamos o "Vinde benditos..." antes do "Apartai,-vos de mim, ó malditos..."
O pobre é aquele que me mostra como realmente sou, sem as roupas bonitas, os adereços e o perfume, já dizia um personagem de filme. Ele é meu espelho, a minha imagem que não suporto ver. Mas essa verdade, é fonte de libertação. Que o digam São Francisco, Dom Hélder Câmara e tantos outros, que se converteram, verdadeiramente, no encontro inconveniente com os empobrecidos e marginalizados.
Mas a verdade, também é o meu abismo interior, que se esconde no meu eu mais profundo e que, muitas vezes me atrai e me traga, me devora. Fugir de nossoas verdades abissais constitui a grande mentira do cotidiano, mais destruidor que os abismos.
Por isso que a vida comunitária, em Fraternidade, constitui-se instrumento do processo de libertação individual e coletiva. Na prática da crítica e autocrítica, da correção fraterna, do aconselhamento, podemos olhar de frente nossos abismos, segurando nas mãos dos irmãos e irmãs, que não nos permitirão cair na eterna escuridão de nós mesmos, pois juntos somos luzes, chamas que iluminam e aquecem o mundo, até nas noites mais tenebrosas.
Que as palavras da Oração atribuída a São Francisco, "onde houver erro, que eu leve a verdade", não seja esvaziada de sentido, quando as pronunciar, novamente.
Que a verdade seja radiante, afastando todo o erro, todo o mal, toda cultura de morte e opressão, resgatando nos mais vilipendiados, degradados, espoliados, humilhados desse mundo, nosso próximo, nosso irmão, imagem e filho de Deus, sua dignidade perdida.
Paz e Bem!