Pour Derrida (in memoriam)
Aquele que escolheu escrever deve ter em mente que essa escolhe envolve muito de si mesmo. Que não é uma tarefa como outra qualquer. Há um duplo caminho que toca sua vida. É-se leitor/escritor. E essa barra, esse sinal crítico de divisão não pode ser entendido como um mero índice de separação. Não. É um delineador ("algo que descreve de forma concisa e direta"*). Um apontador para a existência de dois seres em (com)um.
Um escritor, do ponto de vista do conceito agambeano de "contemporâneo", a exemplo do que dissemos há pouco, precisa estar à frente de seu tempo. Ainda que esteja preso a ele, por motivos óbvios.
Escreve-se por necessidade. Escrevive-se por sua própria natureza, por uma condição que lhe é própria.
O Escritor que não é Leitor é uma ilusão.
O conceito de Autor também deve compreender um Leitor Crítico. Co-autor ciente dessa função. Não pensar por pensar, mas pensar porque nisso consiste a re-operação do texto. A leitura, convém lembrarmos, implica um processo de ler/interpretar/compreender. Ultrapassa identificar palavras escritas. Implica reconhecer que uma gramática (conjunto de leis que auto-regem o texto) interna mantém a trama do texto unida. Papo de estruturalista esse, não? Mas há uma outra gramática (essa, de que acabamos de mencionar) além daquela, escolar, dos livros didáticos. E ela conta ( = importa, significa) para uma leitura/interpretação/compreensão ulterior de todo e qualquer texto. Exemplificando: identificar a diferença entre frase, oração, período e enunciado é um mero nível (básico, se isso não soar exigente demais de nossa parte, claro) de leitura. Não obstante, parte, em virtude isso mesmo, de um primeiro passo no ato de ler. A gramática interna ao texto ("não há um fora-do-texto", diria Derrida) pesa em toda e qualquer leitura crítica.