COMO ANIMAIS (OS ÚLTIMOS HOMENS)
Os obscuros anos em que o solo (e os céus) europeu virou palco de horrores não gerou novos sentimentos. Apenas liberou aqueles trancafiados em gerações passadas, só que de uma vez: uma erupção comportamental. Atitudes sufocadas por tanto tempo que, quando finalmente postas em prática, geram um inevitável senso distorcido da vida e sua fruição. A recente possibilidade de seres libertinosos sexualmente “coincide” com índices de violência absurdos, desemprego, dilapidação do patrimônio público, descrença epidêmica em qualquer tipo de poder, ditaduras e tantos outros fatos sociais jamais vistos até então. Caiu a máscara da polidez pública. Mais que pelas guerras, tudo se sucedeu de forma tão caótica justamente pelo entendimento do Totalitarismo cru e a vivência tão avizinhada da morte. Quantos familiares, quantos amigos, que – em fenecendo – não podem ter feito a sociedade como um todo crer que, por ela mesma, estaria já condenada? Que se deixasse de viver essa rotina hipócrita e de faz-de-conta com todos inclusive consigo próprio, e se começasse de uma vez ou com uma guinada rumo a um novo tipo de civilização – salvadora – ou (na – não se sabe – melhor ou pior das hipóteses) se fizesse perceber o último brilho da raça humana, das espécies que viveram sobre esta Terra, visto que o Apocalipse estaria então próximo e o melhor por enquanto seria que a massa atacasse de Adãos e Evas fazendo de seu próprio meio o paraíso cheio de pecados (não importa se passíveis ou não de punições, e se estas seriam imediatas ou de efeito retardado sobre todas as almas). Sem dúvida, ainda que em eterno pacifismo, o homem arranjaria um jeito de corromper-se.