A FLOR DA CONFRATERNIDADE

Elias Borges, poetamigo talentoso e estudioso! Honra-me apreciar os teus trabalhos, especialmente na Poética. Também entendo que estamos no caminho correto, o da transpiração sobre a centelha original da Intuição – é desses territórios do inconsciente que provém a inspiração ou a espontaneidade – que, sem este momento criacional, não há como nascer um razoável poema. Também não é menos verdade que o estudo e revisão sobre a centelha original pode até surpreender e a garatuja autoral vir a encontrar a Poesia pelas esquinas dos mecanismos da memória, produzindo finalmente uma boa peça poética. É nas oficinas literárias bem conduzidas por um provocador (oficineiro) experimentado que, além dos benefícios consequentes da descoberta do manuseio da palavra, na fúria da criação, exsurge uma maior segurança intelectiva para avançar nos territórios do Novo. O poeta-autor agora mais afeito às experiências vocabulares e à criação metafórica, concertando, graças a este preparo, criações imagéticas mais ousadas e mais belas. Vale dizer, utilizar-se da subversão do sentido original da palavra em pauta naquele momento de construção do poema, a fim de que a imagem seja mais ampla e profunda do que a singeleza costumeira do vocábulo, por mais que este contenha aparente profundidade de sentidos e abrangência. Porque “Poesia é imagética” e esta se constrói geralmente com palavras, com exceção da chamada Poesia Visual, que, por si já é imagem postada aos olhos do observador, pretendendo-se a devida interpretação para fazer-se entendível ou palatável. Estamos juntos na aprendizagem, porque temos consciência de muito pouco saber sobre tal ou qual, a não ser na hora da experimentação (literária), o instante preciso da confecção (individuada) da peça poética. E mais: quem vai dizer se o poema é uma boa peça não é o seu criador, e sim o receptor. Porque é a este polo que se destina a arte de escrever. Fora deste, é o nada. Poema sem recepção e aplauso inexiste, não se corporifica, é natimorto. Pode até que seja para o autor uma peça com alta dose de terapia psíquica, mais nada além do efeito medicamentoso... E aí vem a lição. O poema não pertence ao individual, trata-se de muito mais: é a tradução espiritual do abraço entre os fraternos – a fina flor que emerge da Confraternidade.

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2015/17.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5984854

Joaquim Moncks
Enviado por Joaquim Moncks em 29/04/2017
Reeditado em 29/04/2017
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