Labirinto Matrix II - Budismo
“Para simplificar, se alguém golpear o ar, seu punho não ficará ferido mas se ele bater numa rocha, sentirá dores... A gravidade de um pecado depende de quem ferimos.” Nichiren Daishonin (sobre Carma)
Guardo boas lembranças dos anos em que fui praticante do Budismo de Nichiren Daishonin.
O Buda Nichiren nasceu no Japão, dois mil anos após o falecimento do fundador do budismo na Índia, o Buda Sakyamuni.
Apesar dos muitos percalços a vida era relativamente fácil de se viver, talvez, até mesmo devido à pratica budista, porém, sendo ainda muito jovem faltava-me a profundidade necessária para uma análise que relacionasse a realidade manifesta ao budismo.
O budismo baseia-se na lei da causa e efeito e Nichiren Daishonin estabeleceu uma prática acessível às pessoas comuns, apontando um caminho e um meio para atingir-se a Iluminação, estado em que a alma finalmente livra-se da dor do nascimento, velhice, doença e morte. Tais aspectos haviam levado Sakyamuni a sair do seu mundo de aparência agradável para entender as razões do sofrimento humano.
Apesar dos estudos que realizávamos, a impressão é que a maioria de nós estava buscando bem mais a melhoria para essa vida, em detrimento da Iluminação espiritual. Mais do que a busca pelo conhecimento, a prática do Daimoku, que é o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo, estabelecido por Nichiren, juntamente com a recitação do Gongyo, ou seja, do Sutra de Lótus, de Sakyamuni, era bastante voltada para a manifestação dos desejos pontuais, numa troca em que a pessoa obedecendo os preceitos, o Universo corresponderia aos anseios da mesma. Embora o conjunto dessas práticas ao criar um bom carma (ação), pudesse possibilitar também ao indivíduo atingir a Iluminação, isso ficava num nível de menor interesse. Obviamente, essa é uma visão pessoal de uma jovem integrante inserida naquele contexto.
Para completar a prática, realizar em toda ocasião possível o Chakubuku, ou seja, a transmissão de conhecimento a fim de proporcionar aos demais o fim do sofrimento através dessas práticas.
Eu ainda estava no início da adolescência e não tinha grandes preocupações filosóficas. Havia atividades para jovens e o ensino dos líderes mais velhos garantindo que nossa vida seria cada vez melhor à medida em que nos dedicássemos à prática. Isso nos bastava naquela fase da vida.
Mas, conforme fui amadurecendo, entender em profundidade os fundamentos da vida foi-se tornando mais imperioso. Embora o ensino de Nichiren, tanto quanto o de Sakyamuni contenham verdades profundas, eu sentia vontade de entender os conceitos teóricos mais a fundo e não apenas praticar o Daimoku, Gongyo e Chakubuku como meios para se atingir os objetivos pessoais, incluindo nisso, o Kossen Rufu, o caminho para a Paz Mundial.
O carma é o resultado da lei da causa e efeito e esse não é um conceito difícil de entender, porém, o budismo trata o carma como um efeito que pode ter sido causado em vidas passadas, continuando no presente e seguindo rumo às vidas futuras, claro que, passando por transformações conforme as ações boas ou más forem sendo perpetradas.
Nisso dá-se a bifurcação dos mundos e culturas diferentes que podem, ou não, alavancar o progresso do praticante.
O conceito de Reencarnação é uma verdade na cultura oriental, mas deve ser ainda assimilada na cultura dos ocidentais. Ela existe de fato? Se houver dúvidas quanto a isso, todo o ensino desmorona como num castelo de cartas.
E o budismo parte da premissa dessa verdade, sem aprofundar-se no intuito de provar ou esclarecer tal conceito. Ou seja, não insiste no fato para se obter a compreensão dos discípulos educados no mundo ocidental.
Sem uma aceitação total do processo da reencarnação que justifique a dor do nascimento, velhice, doença e morte, alicerces da busca de Sakyamuni, a Iluminação espiritual também, além de mero conceito teórico, acaba por perder toda a relevância.
"Tudo é mútavel, tudo aparece e desaparece; só pode haver a bem-aventurada Paz quando se puder escapar da agonia da vida e da morte." Sakyamuni