PASCOA JUDAICA X PÁSCOA CRISTÃ
Na Páscoa Judaica ou Pessach, que quer dizer passagem em hebraico se comemora a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito dos tempos do Faraó. Moisés convence o faraó a libertar seu povo do jugo egípcio após a maldição das dez pragas, pois o Faraó depois de ver seu filho morrer pela praga chega à conclusão que a melhor forma de evitar outras “derrotas” para o Deus judeu, é conceder a liberdade (expulsão) deste povo lunático o qual seu chefe de nome Moisés, até então homem de sua confiança e respeitado em seu reino. Diante desta atitude faraônica Moisés leva seu povo à terra prometida de Canaã com o intuito de construir o reino do Deus Judeu. Sendo assim desde aqueles primórdios tempos, o povo judeu vem comemorando esta data festiva em sinal de respeito e agradecimento a seu Deus pela liberdade e formação de uma pátria judia. Até os dias atuais com raras diferenças entre alguns grupos mais ortodoxos, a comemoração da Páscoa constitui-se de um jantar com três pães de ázimo sem fermento que representa a noite da Páscoa no Egito onde tiveram de comer as pressas, pois estava na hora da partida e o pão não teve tempo de fermentar, ervas amargas que representa o duro trabalho dos hebreus no Egito, ovo cozido que representa a oferta pascal no Templo, um osso de cordeiro que representa o Cordeiro Pascal, gengibre, salsão e o Charosset, pasta doce que se assemelha ao barro, ao qual lembra o barro que os hebreus amassavam no Egito na confecção de tijolos e cinco cálices de vinho cada qual com seu simbolismo. Vale destacar que além destes ingredientes servidos na noite do jantar pascal, os antigos judeus abatiam um cordeiro de um ano, assavam e compartilhavam com toda a família. Com o tempo este sacrifício do cordeiro foi deixado para trás, no entanto existe ainda alguma corrente mais ortodoxa que continua com esta prática.
A Páscoa Cristã representa a ressurreição de Cristo, passagem da vida de Jesus importante para a maioria dos cristãos de todo o mundo, com raras exceções, a Páscoa é o ápice do calendário litúrgico ultrapassando a data natalina em importância. Após a quaresma, segue-se a Semana Santa que se inicia no Domingo de Ramos dia este lembrado pela entrada de Jesus na cidade de Jerusalém onde o povo cobriu a rua de folhas de Palmeiras anunciando sua chegada. A semana que se segue é recheada de simbologia, a começar pela quinta feira onde o messias lava os pés dos apóstolos como símbolo de humildade e após este ato promove um jantar com os mesmos. Historicamente este episódio ficou conhecido como a Última Ceia, sua base alimentar se deu com o pão e vinho, a partir deste fato histórico, a igreja tendo como base os evangelhos institui a Eucaristia também conhecida como Comunhão ou mesmo Santa Ceia para algumas correntes cristãs. A sexta feira santa é celebrada como o dia em que o Cristo foi Crucificado por seus algozes romanos. A partir desta data a cruz que até então era sinônimo de sentença para os bandidos em geral sem nenhuma importância, passa a ser o símbolo do Messias Crucificado para o mundo cristão, como também pode representar a Santíssima Trindade quando o cristão faz o sinal da cruz (Pai, Filho, Espírito Santo). Diante destes fatos e datas tudo se converge para o Domingo da Páscoa onde o cristianismo celebra a ressurreição do Messias, a volta triunfal dele ao convívio dos amigos, passagem de um estágio físico para um estágio mais fluídico..
É bem verdade que a Páscoa não é uma criação do Cristianismo e sim uma adaptação da Páscoa Judaica para o calendário litúrgico cristão. Mesmo porque a Santa Ceia de Jesus com seus apóstolos aconteceu dentro do rito judaico, afinal o Cristo era um judeu que seguia seus ritos e festas religiosas até então. No que consiste o calendário litúrgico judeu, a Santa Ceia de Jesus e seus amigos aconteceu na data que se comemorava o rito pascal judeu e vê-se a semelhança do que fora servido por Jesus junto aos seus, Pão e vinho onde o cristianismo tomou emprestados estes ingredientes dando uma nova simbologia transformando o pão no Corpo de Cristo e o vinho simbolizando o sangue derramado em seu martírio como a nova aliança com Deus. E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. “Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.” (Lucas 22. 19-20).
Que tal nós, sejamos cristãos, judeus, ateus, umbandistas, kardecistas e outros eus, istas aproveitarmos esta ocasião para fazermos um ato de contrição, uma reflexão de como está sendo encaminhadas nossas vidas, quais os nossos objetivos de futuro, vivenciando nosso presente? Como está nossa relação com Deus, com o nosso eu, com nossos familiares, nossos amigos e em especial com os nossos desafetos, pessoas estas colocadas em nosso caminho para aprendermos a conviver com o diferente praticando nossa alteridade? Estamos respeitando a natureza? Ainda conseguimos ouvir o cantar dos pássaros? O som de uma cachoeira? O barulho das ondas do mar? Nos dispusemos a sentir o frescor do ar? O pingar da chuva? Nos atrevemos a caminhar na relva molhada? A tomar um belo banho de cachoeira? Vamos fazer nossa páscoa particular promovendo uma passagem deste estágio estagnado em que estamos para um estágio mais ativo com nossa mente aberta para outros conceitos e um coração cheio de amor para dividir com aqueles que estão a nossa volta. Vamos nos libertar dos “demônios” que escravizam nossas mentes rumo à nossa nova Canaã que nos fortalece para os próximos desafios que hão de vir. FELIZ PÁSCOA, FELIZ PASSAGEM. NAMASTÊ.
Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 11/04/17