Ponto de vista sobre – EU, E O FIM... E A SUA TRISTEZA!

Ponto de vista sobre – EU, E O FIM

... e a sua TRISTEZA!

Olá Meu Querido Amigo, Peregrino!

Desculpa, mas hoje, sem nenhuma cerimônia, sem pedir sua licença e sem esperar a autorização, quero e vou lhe chamar assim – Meu Querido Amigo, Peregrino!

Sabe aquele “estalo”?

Aquele “acender uma luz”?

Aquele “viajar no tempo”?

Pois então, é assim que sempre acontece, quando leio os seus escritos.

Com EU, E O FIM, não foi diferente. Ele me levou para perto de três Monstros Sagrados da História Religiosa e Mitológica – O Rei Davi, o Patriarca Jó, O Semideus Orfeu e lá, ao lado deles, quem está? Você!

O primeiro - DAVI e o terceiro - ORFEU são descritos como músicos. Um é harpista, o outro lirista, ambos compositores e cantores. Sobre VOCÊ sei que toca piano, compõe... já lhe ouvi e vi, cantando!

O segundo - JÓ, um homem honrado diante de Deus e dos homens. Esposo, pai e senhor, de conduta irrepreensível! Seu Ordálio me parece uma história de superação muito acima de um entendimento comum. Quem lê o Livro de Jó, há de perceber que a sua dor é inigualável.

Parece-lhe estranho que o seu poema haja me levado até essas quatro pessoas, aparentemente ligadas por laços tão mundanos? É que vocês quatro, por uma estranha coincidência, enfrentaram (você ainda está na jornada) um Ordálio permeado por extrema dor psicológica!

Alongar-me sobre o que o Rei Davi, Jó e Orfeu enfrentaram, é desnecessário, pois você sabe de suas histórias. Falar sobre você é impossível, é uma situação tão pessoal, tão especial e íntima, que as palavras me fogem.

Mas, para fechar, firmemente os “elos dessa corrente” que os une, necessária se faz a comparação. A dor, Peregrino, nos torna definitivos e fortes, assim, como a morte. Por que chega um determinado momento, no qual paramos de lutar contra ela. Queremos apenas entender seu propósito... nos tornar seu amigo, quando não seu confidente, e isso a principio, parece antinatural. Mas não é. E é isso que os liga, nessa corrente... a DOR!

Existe um instante numinoso, no qual encontramos, finalmente, o Caminho, escondido sob os atalhos do labirinto, e podemos então continuar nossa Jornada num estado de Serenitude. Esse descobrir não afasta a dor, mas transforma a nossa reação diante dela.

Minhas Antigas diziam que não existe melhores Mestres no mundo, do que a Vida e a Dor. Já eu, entendo esse pensar das Minhas Antigas, dessa forma: Se você nunca foi visitado pela DOR, ainda não viveu... mas, se na sua VIDA houve somente Dor, você apenas sofreu! O ato de viver, para mim, reside no equilíbrio da balança entre o estar – feliz ou triste... caso contrário não consigo avaliar as duas situações!

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A DOR DE DAVID

Os Salmos, tão belos e de uma força tão estupenda, foram escritos pelo rei bíblico Davi, nas suas horas mais dolorosas, sob o jugo dos sentimentos mais sombrios... o coração ferido, a Alma em pânico, Davi se voltava para o seu Deus. E, em um desses Salmos, talvez cansado de tanto sofrimento, ele reivindica que se cumpra a ordem de Deus aos Anjos, em relação a ele. Assim sendo, se joga nos braços daqueles a quem o seu Deus deu a missão de lhe cuidar... é como se ele recitasse uma espécie de pré-PAI NOSSO, bem antes de Jesus Cristo: “Por que mandou os seus Anjos em teu favor para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão em suas mãos para que o teu pé não tropece em alguma pedra. Sobre a áspide e o basilisco andarás e calcarás aos pés o leão e o dragão...”

Talvez você pergunte, onde está a semelhança, entre as palavras do rei Davi e as suas?! Minha resposta é: ambos veem Anjos por perto. Seu Anjo no entanto, tem o perfil de um torturador. Ele aparentemente não quer lhe carregar no colo, ao contrário... mas está com você.

Davi lembrava aos Anjos que Deus os mandara carregá-lo nas mãos para que ele não tropeçasse. Já sua Companhia, a Tristeza, segura suas mãos e o guia pela Umbra Sombria lhe mostrando os descaminhos e o voo do que já não é, apesar da liberdade de voar.

Ela, igual o Anjo da Travessia, deixa que seus “pés” tropecem descalços e sangrem. Brinca com sua sanidade, lhe expondo a uma dor sem nome! Assim como você a descreve no seu poema, na terceira estrofe - “Hoje, estamos de mãos dadas,/Somos almas gêmeas/Mesquinhas, pequenas,/Em veredas tortas/Vendo folhas mortas/Livres a voar,” e quarta estrofe - “Sabes que um vazio imenso/Me invade a alma,/Me devora a calma,/Fazendo-me fera/Indomável, louca,/Ferida a sangrar.”

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A DOR DE JÓ

A cena que mais me dói, ao ler o Livro de Jó, é quando ele, ferido ao extremo, está no monturo, limpando suas feridas com um caco de telha.

Sabemos, através da história bíblica, que Jó era rico, de bens materiais, tinha filhos/as, servos, rebanhos, plantações e muita saúde. Era fiel e obediente ao seu Deus. Repentinamente, tudo acabou! E, de sofrimento em sofrimento, a tempera do patriarca foi sendo testada, sem o abalar.

Mas, num dado momento, sua resistência parece chegar ao fim, romper-se, igual o véu do tabernáculo... na hora do último suspiro do crucificado Jesus. Jó reage, é como se dissesse “___CHEGA! PARE! Eu não aguento mais!”

Carl Gustav Jung, numa entrevista ao Good HouseKeeping Magazine/1961, disse: “(…) Deus é o nome porque designo (…) tudo que transforma minhas visões subjetivas, meus projetos e intuitos, e que muda o curso da minha vida para melhor ou pior.”

Você, chama tudo isso – TRISTEZA, como demonstra na sexta estrofe “Ah! Tristeza me escuta,/Já faz tanto tempo,/Comigo disputas/Incruentas lutas,/Dentro de minh’alma,/O mesmo lugar.”.

Jó, entretanto, chama tudo isso – DEUS! “(...) Se eu disser: 'Consolar-me-á o meu leito, e a minha cama aliviar-me-á do sofrimento', Tu me assustas com sonhos e me aterrorizas com visões.”.

Eu chamo tudo isso – DOR! Visto que, a dor (psicológica ou física) é a minha eterna companheira.

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A DOR DE ORFEU

Na oitava estrofe do seu poema, encontro três pessoas: Jó, Orfeu e você, ansiando por descansar.

Orfeu renuncia a vida que, sem Eurídice, perdeu o sentido, mergulhando num silêncio obscuro... calando sua harpa e, consequentemente negando o seu Dom de alegrar as outras pessoas, talvez à espera de um Milagre... “Orfeu então se tornou um homem amargurado, já não tocava mais, já não sentia algo de bom por nada...” A partir daí, a alegria da sua voz cantante desapareceu, numa clara alusão ao silêncio de sua harpa.

Você reflete sobre perder a alegria de viver, como bem descreve na quinta estrofe “Sabes bem o que tu fazes/Com a minh’agonia,/Quando a alma sangra/Numa noite insone,/Sem a poesia/Pra me consolar.”

A dor de Orfeu está entranhada em você. E, igual a ele, você espera o Milagre de resgatar, do Tártaro, a sua Eurídice. Precisa aceitar que a Luz do Sol está sobre você e não sobre ela. Por isso ela retorna para o mundo sombrio do esquecimento, do não reconhecer/não mais ser... “quando se virou para certificar-se de que sua amada estava ali, e por um momento a viu, perto da vida, próxima à sombra do túnel escuro de onde saíam, porém, ela se transformou novamente num fino fantasma e soltou um gemido final de amor e tristeza, então se foi, para sempre.”

Jó anseia pelo descanso, visto que, o seu sofrimento é tanto, que ele renega o dia no qual foi concebido no ventre materno, “(...)Deus, desde o céu alto, não se ocupe dele. Que sobre ele não brilhe a luz!” pois, segundo ele, se não tivesse sido gerado, ou fosse apenas um natimorto... “(...) agora, (...) dormiria tranquilo, envolto num sono repousante, com os reis e conselheiros da terra, que para si fabricam vastas pirâmides.”, nesse instante, ele sucumbe ao que chamamos - a noite escura da alma!

Você deseja apenas um pouco de repouso(?) e tenta barganhar com a tristeza, na oitava estrofe do seu poema “Vai e segue algum caminho/Pois já que não morres,/Terás todo o tempo,/Pra me deixar livre,/Pois com a poesia/Eu quero adormecer.” Ao que me parece, nesse instante de descaminho, você dá, a sua Tristeza, o dom da imortalidade... outorgando-lhe pois o poder de dispor de você como, quanto e onde quiser!

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SOBRE A SUA DOR

Se eu lhe disser que é fácil atravessar, conscientemente, o véu tênue da realidade, e fazer companhia a quem, inconscientemente, está do outro lado, estaria mentindo! Entretanto é possível fazê-lo, momentaneamente, desde que conheçamos a Alma Imortal da nossa Eurídice, tanto quanto Orfeu conhecia a dele.

Eu mal sei solfejar, mas o Meu Amor gostava de me ouvir “cantar” orações, salmos e canções de ninar... e era assim que eu o acalmava nos seus momentos de muito sofrimento... quando “cantava” para ele, colocando a Minha Alma no comando da minha voz, assim, igual Orfeu que “nunca estivera tão feliz e, enquanto se dirigia ao mundo dos vivos, tocava apenas cantigas alegres para guiar a sombra de Eurídice pelo caminho”. Nesses instantes eu não cantava desejando ficar ali, no túnel escuro, mas tentando resgatar as lembranças dele, trazê-lo para o Sol, nem que fosse por alguns poucos minutos.

“Cantando”, eu refazia a Jornada do filho do deus Apolo e da musa Calíope, sem ousar, como ele o fez, olhar para trás, posto que, conscientemente sabia da impossibilidade do Milagre dele ser atingido, totalmente, pela Luz do Sol (sanidade mental)... ele, igual Eurídice, estava apenas “perto da vida, mas ainda à sombra do túnel escuro” da noite sem amanhecer... do apagamento.

Sabe Peregrino, eu nunca discuto com a Minha Dor, ao contrário, busco entendê-la! Se ela está comigo, o tempo inteiro, tentando me ensinar algo... é que há uma necessidade justa para isso. Melhor aprender e passar para a próxima etapa.

Na sétima estrofe do seu poema “Vamos, num trato bem claro,/Viajar no tempo./Cada um sozinho,/Segue o seu caminho/Numa longa trégua,/Quando amanhecer.”, mais uma vez, você questiona a essência da sua Tristeza, e tenta um acordo... me fazendo lembrar de Prometeu Acorrentado... ele paga, todos os dias, eternamente, sem tréguas, o preço do conhecimento!

Se estamos despertos, não há como fingir que não sabemos o que sabemos... se aqui estamos, é por alguma justa razão. Qual? Não sei ao certo, só desconfio... Resgate!

Deseja se desfazer da sua Tristeza, esquecê-la... assim como expõe na segunda estrofe “Vieste sorrateiramente/Como inconfidente/De tal cobardia,/Tanta hipocrisia,/Provocando dores,/Nem devo lembrar.”? Pode e deve despachá-la, esquecê-la, mas não adormeça... não vale a pena, lhe garanto! Não permita que as furiosas Mênades, o “ataquem e o matem cruelmente.” Levando-o a juntar-se “a sua amada no submundo e lá ficar com ela para toda a eternidade, cantando e tocando para o submundo a música que antes tocava para os vivos”. Nós, os que ainda estamos Nesse-Lado-do-Espelho, embaçado pelas névoas, choramos lágrima líquidas... lá, do Outro-Lado-do-Espelho, Hades chora lágrimas de ferro. Aqui é passagem, lá, definitivo.

Peregrino, lembra daquele Homem que tanta dor e tanto medo sentiu, diante da prova final do seu Ordálio, que os vasos do seu corpo se romperam e ele suou sangue? Por um momento Ele se sentiu tentado a recuar e suplicou, de joelhos: “PAI, afasta de mim esse cálice de amargura...”, entretanto, a consciência da necessidade de cumprir sua Missão o fez emendar “... mas Seja Feita a Tua Vontade e não a minha!”

Quando leio esses seus versos, tão belos e tão sofridos, imagino que está dizendo à tristeza, que tenta quebrar sua coluna vertebral, que quem lhe sustenta É DEUS! Isso é muito bom. Sermos flexíveis é o SEGREDO. Assumir nossa fragilidade e não a nossa desistência de lutar, é o que nos impulsiona à solução de qualquer impasse que tente barrar o êxito da nossa Jornada, pelo Vale. Isso me faz lembrar os versos de um poeta, que diz assim “... e a vida é trem-bala, parceiro. E a gente é só passageiro prestes a partir...”. Então, não temos tempo a perder!

Sei que você conhece aquela frase do escritor Richard Bach: “O que a lagarta chama de fim do mundo, o homem chama de borboleta.” Lá, na terceira estrofe do seu poema, você afirma que vê “folhas mortas/Livres a voar.” E se folhas mortas voam, por qual razão você que está vivo, atrofia as Asas da Sua Alma Imortal?

Sabe qual é a hora mais escura do dia, Peregrino? Diz um provérbio árabe que “A hora mais escura do dia é a que vem antes do sol nascer.” Espere a escuridão passar e abra suas janelas (seus olhos e seu coração). Permita-se contemplar o amanhecer. Observar e absorver o esplendor da Luz que vem do Leste. Toque sua harpa ou sua lira (violão, piano, flauta... ). Cante ao Sol. Cante à Vida. Cante ao Despertar, mesmo que gradual.

Vá na frente, guiando sua Alma Imortal. Traga-a para fora do abismo mas, não olhe para trás. Apenas seja fervoroso e deixe que Ela lhe siga, até onde conseguir. Continue sua Missão, tocando (instrumentos ou Almas), cantando (canções de Amor ou Orações)... o vento se encarregará do restante.

Deixe-me lhe contar um segredo: ___Não poderá adormecer sua Alma Imortal, Ela está Desperta! O tempo de dormir passou, mesmo com a poesia. Queiramos ou não já, muitos de nós, está sobre Daath, e não estamos sozinhos! Esse, Peregrino, é aquele momento, no qual você não pode recuar, sua única opção é seguir em frente e atravessar a ponte sobre o abismo. As Névoas do Espelho estão sendo dissipadas para que possamos ver o Amor na sua Quintessência, Face a Face, sem que para isso, necessariamente, tenhamos que experienciar a morte física.

Desejo-lhe, Boa Sorte, nessa sua Incursão para resgatar a Sua Amada.

Até mais ver.

PS: se lhe posso ser útil, estou ao seu dispor, conte comigo. Tenho bolsos largos e fundos!

Adda nari Sussuarana
Enviado por Adda nari Sussuarana em 11/04/2017
Reeditado em 18/09/2017
Código do texto: T5968002
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