A DISSIPAÇÃO DAS SOMBRAS DAS ILUSÕES E DO ENGANO

Pensar as relações humanas deterioradas pelo cinismo e pelos jogos de interesses é uma oportunidade de percebermos a nós mesmos e despertarmos para o que queremos afinal fazer de nossas próprias vidas, pois é de nossas ações que as consequências emergem; e é de nossa experiência, extraída na vivência com outrem, que vamos sedimentando nossas convicções e reavaliando o que é provido de sentido, sem que a escuridão da dormência espiritual adormeça nossas esperanças e a desolação da falta de significado ofusque o prazer singelo de estarmos vivos. 

As sombras do engano e das ilusões podem até esconder a verdade em momentos silenciosos e soturnos, mas até quando a persistência de uma farsa consegue se sustentar e se manter? Até quando a morte pode se fazer presente na vida daquele que busca um sentido último que possa guiar sua existência até os cumes da realização espiritual?

O morte está presente em cada um de nós, mas antecipar a nossa degradação através de uma ansiosa busca que nunca termina, ou seja, levando até as últimas consequências o peso de uma máscara social, faz com que caminhemos mais próximos do abismo; é quando, então, abrimos espaço para que tirania da morte precoce se infiltre em nosso íntimo!

Quem no silêncio, pelo menos uma vez na vida, não tenha sentido no mais secreto de si mesmo uma centelha de vontade de se desfazer de tantas ilusões e de tamanha prisão que o submete a tamanha angústia diante do bem?

Quando essa situação de esvaziamento e falta de perspectiva monta seu palco trágico, o indivíduo perde a esperança de vislumbrar, com toda a força de seu desejo e a energia de seu querer, algum dia a paz estabelecer o seu glorioso reinado; e a luz da eternidade, transbordar sua presença na alma dos que vivem de fé.

Quando buscamos definitivamente dissipar de nossas vidas as sombras das ilusões, a partir do momento em que percebemos, da forma mais visceral possível, o fracasso das aspirações da massa, das empreitadas estrambólicas dos vendedores de ilusões e das etiquetas sociais, sentimos novamente a vida pulsar, dessa vez nos sentindo libertos de uma fatalidade criada para aprisionar nossas faculdades e capacidades de grande alcance. E, assim, nos tornamos mais sensíveis para o que há de mais sublime no mundo e na vida espiritual.

Se tudo nesse mundo está sujeito a transformação, se esse universo cheio de vida está sujeito a perpétua mudança enquanto houver finitude e temporalidade, então não é provável que também morra, por algum desígnio misterioso que ilumina nossa existência, os invernos que se prolongam rigorosa e indefinidamente, no qual até mesmo as geadas e os nevoeiros inesperados deixam de estar presentes na longa noite do ser? E as vozes que murmuram na escuridão, não é provável que cessem algum dia, quando em algum amanhecer inesperado a luz novamente resplandeça para por um fim a longa agonia sentida? E quanto as grandes tempestades da vida, não podem se acalmar por intermédio dos desígnios de Deus? E as desolações mais abissais da vida, não podem deixar de estabelecer o seus domínios sobre um corpo novamente revigorado? É assim, pois, a dinâmica magnífica do cosmos, da vida, da natureza e de tudo o que está sujeito a temporalidade...É da deterioração dos valores mais insustentáveis no íntimo de um indivíduo que o amanhecer se faz presença em seu ser, pois tanto a noite quanto o dia chegam para mostrar que todas as situações que passamos na vida se interrompem, assim como a própria vida quando chega ao seu destino. 

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 08/04/2017
Reeditado em 09/04/2017
Código do texto: T5965517
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