A FORÇA CRIATIVA
A força criativa é o que temos de mais valioso e edificante em nosso ser, pois nos dá condições, se perseverarmos na escuta de nossa riqueza interior, de trazermos à luz da consciência aquilo que jaz adormecido nas profundidades mais subterrâneas de nossa psique.
A nossa vida só é digna de ser bem vivida se pudermos desvelar os tesouros que estão dentro de nós mesmos e é indispensável para mantermos a nossa própria originalidade, sem o qual seremos apenas meros brinquedos de uma força que não sabemos de onde vem, mas que muitos dão o nome de fatalidade.
Os grandes artistas, livre pensadores e cientistas, os quais deram contribuições para o entendimento do homem sobre a vida, são aqueles que souberam traduzir ou interpretar o que se passou dentro de si mesmos para então produzir algo que merecesse iluminar a humanidade. Além de serem, é claro, ótimos observadores da vida cotidiana, mesmo que para isso se tornassem aos olhos de outrem pessoas estranhas, como no caso de tantos cientistas consagrados e de grande renome mundial.
Uma pessoa dotada de criatividade, além de conseguir se expressar com tamanha riqueza de espírito, tem a capacidade de atribuir significado as coisas que percebe e as situações que parecem não ter nenhum valor para outras pessoas; mas que pode servir de alternativa para o despontar de uma nova maneira das pessoas cumuns perceber o mundo ao seu redor.
Ser criativo é uma forma de ser-no-mundo indispensável para produção de obras capazes de preencher uma grande lacuna por onde é criada e produzida, não só pela originalidade, mas pela força interior de quem a produziu.Uma nação inteira se beneficia com a fecundidade de uma alma genial (capaz de fazer fortes ecos em seu meio).
Há obras de pessoas criativas que levam muito tempo (geralmente é o que acontece!) para serem compreendidas pelos seus pares e, em seguida, se tornarem as suas obras um patrimônio cultural de um povo; enquanto isso não acontece, o artista ou o cientista amarga com o descaso demonstrado. De fato, há pessoas que só tiveram algum reconhecimento muito tarde e há outras que desfrutaram muito cedo, e mesmo nesse caso sem serem entendidas suficientemente pelas pessoas.
É nos tempos de grande penúria que aparecem obras de grande valor, obras capazes de desmoronar valores arcaicos. Com efeito, são obras que contribuem para o andamento e o avanço (para melhor, inclusive!) da história de um povo, embora as consequências de quem a produziu possam ser as piores, desde o ostracismo, até a execução. Apesar das adversidades, existiram espíritos corajosos empenhados em pensar o que poucos conseguiram pensar; em criar o que poucos conseguiram perceber, muitas vezes indo na contramão das normas preestabelecidas, como por exemplo, Lutero ao traduzir a bíblia no idioma de seu pais, além de se opor a corrupção da igreja católica com a publicação de obras memoráveis, obras que deram uma nova perspectiva para o homem pensar a sua relação com o divino.
É incrível quando paramos para pensar que uma obra-prima produzida tem algo da personalidade do indivíduo que a produziu, além dos resquícios das inquietações de sua época, das ideologias e das problemáticas mais preponderantes do contexto sócio-cultural na qual foi engendrada. Mas isso não significa que essa obra produzida é criada somente por causa desses fatores e sim porque há também o próprio indivíduo ativo na sua tentativa de produzir algo diferenciado e inovador, o mesmo que se depara com diversas possibilidades, além de novas maneiras de encarar a realidade, as quais surgem de maneira intuitiva na sua jornada de criação.
Quantos fracassos e erros não há na empreitada de alguém que procura produzir algo de criativo, capaz de envolver a interação de todas as suas capacidades cognitivas? Enquanto vivermos, iremos falhar evidentemente na concretude de nossos objetivos, mas em alguma das tentativas podemos acertar o ponto de Arquimedes, ou melhor dizendo, o verdadeiro alvo para a realização de nossos objetivos. Mesmo assim permanece sendo original e revolucionário aquele que se aventurou na manifestação de uma forma de ser autêntica, sendo essa a única condição para aquele que quer produzir algo de profundidade e valor para a humanidade.