MUITO CUIDADO QUANDO ENCARNAR SEU ÍDOLO
No último texto publicado, falei sobre o ídolos físicos, de carne e osso, criados pela mídia, e cultuado pelas pessoas, sobre o quanto eles tiram de nós, e o quanto pagamos pelo preço de sua projeção no universo da fama e fantasia incluindo os que não prestam reverencia aquele ídolo também são afetados no bolso por ele de alguma forma, já que um simples produto com a imagem de um ídolo adquire um preço estrambólico. Hoje pretendo levar o leitor a refletir sobre o perigo de encarnarmos os deuses metafísicos cultuados por vários povos, pois todos eles, apesar de viverem no nosso inconsciente, tem grande influência sobre a vida dos seus adoradores e algumas pessoas encarnam tanto o personagem que se comportam como se fosse o tal, conseguindo apenas confusão e desprezo por esse tipo de comportamento e depois se queixam dizendo que estão sendo desprezadas, perseguidas ou que estão perseguindo sua fé, quando na verdade, quando chega a esse ponto, esse alguém é desprezado pelo próprio comportamento em nome dessa tal fé.
Do mesmo modo que alguém cultua uma celebridade criada pela mídia e de vez em quando encarna o próprio personagem, defendendo-o irracionalmente ou exigindo bajulação como se fosse o próprio ídolo físico, uma grande parte dos que cultuam divindades metafísicas, chegam encarnar tão bem o personagem, que exprimem do mesmo modo suas iras e desejo de vingança a todos os que não se submetem a ele. O respeito a fé alheia não impede nenhuma análise racional sobre o comportamentos dos seguidores da citada fé, afinal, por vivermos em sociedade, todos somos vitimados ou beneficiados pelo comportamento um do outro, por isso se faz necessário a observação de pontos cegos em todas as crenças e a correção de tais comportamentos quando necessário.
Não quero com esse texto defender ou condenar a existência /não existência real/ imaginaria de nenhum ser metafisico, pois tudo é vivo, real e verdadeiro ao que crer, e contra aquele que decide apenas crer, não há argumentos que possa convencê-lo, pois crer por crer, é uma decisão que foge a lógica e a razão, sendo que em certos casos é questão de desespero, outras vezes questão de comodismo ou ainda necessidade de ser aceito em um grupo, quando você tem dificuldade de aceitar a si próprio ou de compreender a si mesmo e o mundo ao seu redor. Desejo apenas mostrar que o que encarna o personagem não é o personagem, que não tem seus poderes, seus dons, e acima de tudo somos mortais e podemos morrer, sangrar ou se ferir quando entramos em conflitos com nossos semelhantes, diferente dos deuses metafísicos que continuarão só de boa, em algum lugar sagrado, nos vendo destruir uns aos outros pela honra de sua grandeza. Lembro também, que o “deus verdadeiro” de um grupo religioso é sempre o “deus falso” de outro grupo e que apesar de todos confessarem servir a um Deus único e universal, esse mesmo ser tem personalidades diferente e age de modo diferente em grupos diferentes, provando apenas que as pessoas cultuam ou abomina o reflexo de si próprio projetado no outro e não exatamente os deuses. O culto é para o ego, mas damos o nome que melhor nos convém.
Vamos tomar como base nesse texto, o Ser Judaico Cristão, cultuado por 1/3 da população do globo atualmente, mas que outrora era apenas conhecido por um grupo pequeno de pessoas. Em sua versão original era apenas 1, depois virou 2, depois virou 3 e me parece que um grupo em especial criou uma quarta versão dele nos últimos 100 anos, apesar de afirmarem categoricamente que se trata do mesmo ser o tempo todo. Vejamos sua influência sobre nosso comportamento cada vez que encarnamos esse personagem.
Do Éden até o diluvio, vemos um rastro de destruição gigantesco causado por esse Ser que criou o homem, chamou de cabeça da criação, mas pouco depois se arrependeu de tê-lo criado e procurou destruí-lo. Até então, Ele parecia ser o único mandatário, pois não há menção de culto a outros deuses nesse período no livro que alguns chamam de sagrado. Ao que se percebe, a humanidade recém criada, ainda engatinhando, fora punida várias vezes por vários crimes, quando leis, livros sagrados, ou constituições não existiam ainda para dirigir o povo e dizer o que era certo ou errado. Depois ele Aparece Abraão, ordena que ele sai de sua terra, lugar onde já se cultuava uma infinidade de deuses, e faz uma aliança com ele para que este seja seu deus particular entre tantos os outros cultuados ali. Abraão aceita, retira-se de sua terra e vai para outra terra levando consigo aquela tradição oral. Até Moises, ao que se atribui os primeiros registros escritos a respeito desse ser, quase 500 anos se passaram e o povo viveu na vasta cultura de deuses egípcios, que fervilhava diariamente com os mais diversos rituais de cultos aos mais variados deuses possíveis.
Agora Moises, que era sacerdote de um dos vários deuses do Egito, alega ter falado pessoalmente com o mesmo Ser que se apresentou particularmente a Abraão na babilônia, e que mais uma vez, assim como fez com Abraão, pede exclusividade nos ritos de adoração, traça um plano sangrento para retirar “seu povo” do Egito, fazendo promessas de que seria o deus protetor e guiaria o povo em segurança a uma terra boa, mas devido aos seus impulsos de ira e cólera instantânea, acabou matando um a um daquelas pessoas durantes os 40 anos que o povo ficou rodando em círculos no deserto e toda a geração que ele mesmo jurou proteger, ele mesmo matou (ele próprio confessa isso depois) restando apenas dois homens ou duas famílias entre mais de 3 milhões de pessoas, que conseguiram herdar essa terra prometida , expulsando outras pessoas que estavam lá.
De Moises até Saul, o primeiro rei ungido de Israel, foram outros quase 500 anos, de muitas invasões sangrentas e batalhas desnecessárias a pedido desse Ser, que apesar de garantir ser o único ser “adorável” no universo, enviava seus súditos para destruir e matar em todas as cidades adoradores de outros deuses, ainda que estes fossem de pedra enquanto ele próprio era invisível e imortal. Várias pragas, mortes e castigos divinos eram derramadas contra o “seu povo” cada vez que esse povo direcionava sua atenção a outra divindade. Por mais que esse ser invisível exigisse absoluta adoração, o povo sempre se inclinava para deuses palpáveis e cada vez mais pessoas morriam por esse motivo. Era um ciúme inexplicável. Era como ciumar da própria sombra.
De Saul até a queda do reino de Israel, foram outros 500 anos de novo, todos eles marcados por muita violências, assassinatos, tramas, castigos e maldiçoes em torno da busca pelo trono ou pela defesa da adoração exclusiva desse ser. Davi, o sujeito mais venerado e citado em todos os tempos, tido como exemplo máximo desse rito de adoração, é o sujeito com as mãos mais sujas de sangue de toda história religiosa, quem sabe, perdendo talvez apenas pra os cruzados. Quando pessoas normais perguntam por que ele matou tanto, adoradores apenas dirão ser os planos de deus e como ele era extremamente obediente e tinha um coração puro, obedecia. Vai entender...
Salomão, seu filho, o segundo sujeito mais citado como exemplo de adorador, foi o que mais construiu altares para os mais diversos tipos de divindades, e inclusive prestou culto junto com suas mais de 1 mil esposas e concubinas que possuiu. Também é o sujeito tido como pai dos principais ritos de ocultismo que se tem registro, e coisas suspeitas aconteceram sobre seu reinado, dando-se a entender, que ele descobriu um tipo de força ainda desconhecido (ou ocultado) aos que o veneram. Mortes, planos de vingança e trabalho escravo para construção de vários templos marcam seus 40 anos de reinado. A versão histórica que o povo repete é apenas a do sábio e rico, ocultando todos os outros fatos sobre seu reino, mesmo estando escrito na bíblia.
Do mesmo modo, falando das pessoas que secretamente falavam com esse deus, desde Samuel até os últimos dos profetas, a mensagem praticamente era uma só: morte e destruição aos que não se renderem a essa forma de culto, e pragas, mortes e pestilências a todos, incluindo ao próprio povo escolhido toda vez que eles se voltam a outro deus, mesmo só havendo um deus declarado.
Percebemos que esse ser, tinha uma personalidade forte, era ciumento, exigente, megalomaníaco e tinha mania de perseguição. Seus seguidores eram o retrato falado dele (ou era o contrário?). Historiadores sérios, revelam, que esse deus, a princípio chamado de javé, ou Jeová, era uma entidade entre várias outras cultuado pelos antigos povos da Suméria, antes de Abraão, cujo ser era também chamado de “o deus da guerra”. Os judeus os chamavam de O senhor dos exércitos”. Bom, ninguém cria um exército pra plantar flores, não é?
Boa parte dos seguidores desse ser encarnaram esse personagem ao longo da história, e em seu nome, deixaram um rastro de sangue sem fim. Vários dos salmos começam assim: Louvai ao senhor, por que ele é bom, por que matou…Louvai ao senhor por que ele é bom, por destruiu...Destruídos, envergonhados e condenados sejam todos os inimigos de deus...
Difícil manter uma comunidade pacifica quando os seus deuses incitam a guerra e a violência mediante a pontos de vista divergentes.
Para os Judeus, esse ser é imutável, indissolúvel e inalterável. Continua sendo o mesmo desde o princípio e nada mudou em sua personalidade. Continua sendo apenas 1. Para os cristãos ele se divide quantas vezes for necessário. Há dois mil anos, ele deixou de ser apenas uma pessoa, e passou a ser duas: agora ele era o pai, que nasceu em forma humana, que virou filho, mas continuava sendo pai. Depois de 400 anos, a partir do primeiro concilio, quando ainda não existia bíblia, e os livros que iriam se tornar sagrados, estavam sendo escolhidos a dedo entre milhares de livros, determinou-se que a partir de então já não eram duas pessoas, e sim três, então foi necessário fazer alguns arranjos nos textos que falavam do seu nascimento e foi criada para tanto uma ideia de concepção milagrosa em que o deus pai, enviou ele mesmo como terceira pessoa em forma de pomba branca, para engravidar um virgem na Judeia, e desse modo ele viesse a nascer como segunda pessoa em forma humana. Entendeu? Um ser indivisível até aquele momento, envia a si próprio, para engravidar uma virgem, para que por meio desse ato ele mesmo viesse a nascer em forma humana. Não entendeu ainda? Ahhh! Não se preocupe! Em 1600 anos, ninguém ainda entendeu isso, apenas concordou para não ser excomungado da igreja. Se quiser se manter livre de ataques faça o mesmo. Jamais questione isso! É assinar sua sentença de morte! Apenas diga que aceita e fica tudo em paz. Você não tem ideia de quantas milhares de pessoas já foram queimadas vivas ou torturadas por não entender esse fenômeno. É complicado...
Para os Judeus, autores desse modelo de deus ocidental universal que seguimos hoje, o ser supremo continua sendo o mesmo, e essa divisão é inaceitável e inconcebível. Para os cristãos, é como pegar um 14 Bis e transformar em um Jumbo 747 (só que com fortes probabilidade queda devido a mau funcionamento), ou seja, você pega uma ideia original de um povo e adapta as suas necessidades e pronto! Agora você diz ser o criador original da versão, sendo que tomou pela força as peças dessa criação e fez a sua própria, numa versão melhorada. Não se admire com isso, por que basicamente todo ser imaterial cultuado é a mistura de personalidade de vários outros seres.
Quero citar que no meu ponto de vista, o endeusamento de um personagem, não faz invalidar em sua totalidade os ensinamentos que a esse personagem foram atribuídos (quando há ensinamentos) Os ensinamentos atribuídos a um personagem, as vezes são muitos anteriores ao seu personagem, e que muitos deles, considero como de grande serventia para amenizar diversos males da humanidade. A lei da partilha, do perdão, da reciprocidade, do cuidado com as difamações e julgamentos precipitados e alguns outros ensinamentos que sejam aplicáveis em sociedade, tem demonstrado de grande efeito para nos elevarmos como pessoas. Não desclassifico os ensinamentos válidos atribuídos a nenhum personagem, sejam estes reais ou imaginários só por que este foi endeusado ou demonizado por quem quer que seja. Isso vale para escritores, cientistas, políticos, lideres religioso ou qualquer outra figura que se atribua algum ensinamento útil. Se for útil, aplicável e tem benefícios para o bem de todos, acho que não se deve demonizar os ensinamentos só por causa do que se diz sobre o personagem que citou. Vale lembrar que alguns ensinamentos são cíclicos e temporais, e só valem para determinado povo, época, situação e local. Querer aplicar toda uma gama de “mandamentos” em épocas, lugares e povos diferentes é forçar de barra também.
Sobre a personalidade desse deus que era um ser e se dividiu em dois, a sua segunda versão era mais dócil, menos agressiva, compassiva, se irritava contra as injustiças e mantinha contato pessoal com todos e não apenas com as lideranças (coisa que os deixou irritados), já que era tradição ao longo da história, um deus que se revelava apenas para as classes dominantes e não para a ralé. De um ser extremamente irado, colérico e irracional, que atira pra depois perguntar, agora ele se tornara símbolo universal (até a chegada de Gandhi) da não violência, entregando-se a si mesmo para ser humilhado e morto como um criminoso. Um ser que passou milhares de anos, com toda arrogância e petulância, ocultando-se de todos, e a única coisa visível nele fora as costas de suas mãos, quando na fenda de um monte falou com Moisés, agora estava ele ali próprio, inteiro, inclusive sangrando e morrendo, para tentar corrigir um erro cometido no começo. Essa atitude, sinceramente foi bem melhor que a do diluvio. A princípio ele matou toda humanidade para corrigir um erro em nossa programação e criar uma raça mais aperfeiçoada. Então viu que não funcionou, agora matava-se a si próprio com uma morte violenta para pagar todos os pecados da humanidade. Apesar de tudo, uma característica manteve em sua personalidade: a adoração exclusiva ao pai, que era ele próprio, que agora podia ser dividida em três.
Para os cristãos católicos romanos, a partir do ano 900 de nossa era, não eram mais 3 e sim 4 dignos de adoração, pois surgiu a partir daí a necessidade de culto a Maria, a mãe de jesus, coisa que, causou divisão no catolicismo dividindo em dois até os dias de hoje. Agora era Deus pai, deus filho e deus espirito santo e por último tinha Maria, que apesar de ser criatura feita por deus, era mãe do próprio deus, já que jesus era deus, e desse modo ela era mãe de deus. Entendeu? Também não procure entender. Apenas aceite se queres paz com o mundo. Várias pessoas também já morreram por não entender como isso funciona. Se uma turba encolerizada tiveres de escolher entre uma pessoa que assassinou outra com 100 facadas e depois picou em pedacinhos e você que diz não entender esse “mistério”, fique sabendo que você não será inocentado, sua pena por não entender, será maior que a de um serial killer por cometer vários homicídios.
A minha visão pessoal, é que para os evangélicos de estilo pentecostal, esse mesmo ser que era um, depois virou dois, depois três, passou a ser uma quarta pessoa, ou pelo menos mudou de identidade, a partir do ano de 1906 na rua Azuza, num subúrbio de Nova York. A partir daquele ano, numa casa de culto protestante, coisas estranhas começaram a acontecer nos rituais de culto e pessoas começaram falar uma língua, com mistura de dialetos africanos, com palavras ininteligíveis e sem significado algum e começaram a atribuir isso ao espirito santo. A pomba branca, que depois que engravidou Maria pouco se ouviu falar e só servia para enfeitar vitrais de igrejas em 1500 anos, agora surge com todo vapor, entrando no corpo de pessoas de várias classes sociais, fazendo com que estas fizessem as coisas mais estranhas possíveis.
Hoje em dia não se precisa ir muito longe nem entrar em um culto evangélico para ver a ação dessa versão melhorada da terceira pessoa da trindade. Com a chegada da internet, quase tudo é filmado e publicado instantaneamente. Se alguém ainda não conhece o modo como ele trabalha posso descrever um pouco. Antes era só o fenômeno de línguas, depois passou-se a curas, depois foram atribuídos a ele características de vidência, clarividência, clari-audiência e alguns casos até de necromancia. Hoje é impossível descrever com exatidão seu raio de atuação, pois todo dia, pessoas revoltadas ou gananciosas saem de uma igreja, abrem outra, e em cada uma delas o “espirito santo” assume novas funções.
As coisas mais bizarras tem acontecido e podem ser presenciadas e atribuídas a esse ser nesses recintos. Pessoas na frente uma igreja se jogando aos monte de cara no chão, comendo capim, gemendo e urrando, alegando estarem cheias desse espirito. Pessoas entrando em vagões de ônibus e metrôs, entregando profecias e ameaçando de morte todos que não ouvirem, debocharem ou não aceitarem suas falácias. Líderes religiosos cuspindo na cara dos fiéis. Líderes religiosos alegando ter esperma ungido que cura útero de irmãs doentes. Cenas de socos, lutas, murros, pontas pés, bate cabelo, aviãozinho e palavras de insultos e humilhações em público...a coisa mais bizarra do mundo é ver esse tipo de cena. Essa quarta pessoa, ou terceira pessoa com versão atualizada é muito diferente do deus 1,2 e 3 originais, mas uma coisa também tem em comum: exige adoração, respeito e submissão total dos seus súditos. As vezes este ser encarna nas pessoas, então essas fazem gestos zumbis, se torcem toda, reviram os olhos, fazem uma voz cavernosa e diz: “eu sou deus e te digo...” Uma pessoa que nunca viu essa cena se borra toda. Assim como nas outras versões, aconselho que se você quer ter paz nesse lugar, não questione, apenas aceite. Uma enxurrada de maldições é derramada sobre a vida de qualquer um que questiona esse fenômeno. Dizem que é o único pecado no mundo que não tem perdão. Em alguns rituais de culto religioso como esse, tem mais ameaça de morte do que em reuniões de grupos armados. Já vi centenas de vezes pessoalmente por 25 anos, tantos líderes como pessoas comum, seguidoras desse espirito bater na mesa com toda força, ou apontar o dedo na cara de outras pessoas e dize: deus vai matar...e ainda dava um prazo e dizia: se assim não acontecer, deus não é deus...a maioria das vezes nada acontecia, mas bastava um parente de quinto grau dessa pessoa quebrar apenas uma unha em uma raio de 1 mil quilometro de distância, pra aquele profeta dizer: ”ta vendo ai? Deus não fez de um jeito mas fez de outro...” Oh, deusinho violento esse senhor dos exércitos, viu?
Então eu levo ao que ler a refletir: são os deuses quem usam as pessoas para fazer tudo isso, ou são as pessoas que criam as personalidades dos deus e depois encarnam o próprio personagem criado no inconsciente coletivo? São os deuses quem encarna no homem ou o homem encarna os deuses? Somos todos nós atores, criadores, roteiristas, e coadjuvantes na própria peça de teatro que criamos? Criamos o personagem e seguimos o roteiro, ou seguimos o roteiro por que criamos o personagem?
Observe na própria bíblia o comportamento desse deus: ele não aceita ser questionado, ameaça todo mundo o tempo todo, mata pessoalmente ou manda matar os que tem a menor sombra de dúvida sobre sua existência, e apesar de alegar ter feito o ser humano, ele parece não entender o mínimo de psicologia ou emoções humanas para concluir que as pessoas agem de modo imprevisível quando estão vivendo sobre medo, tensão, fome ou pressão. O ser a quem se atribui ter criado tudo, parece não conhecer nada do próprio ser humano que ele criou e só dar ao povo duas opções: ou se sujeitem a ele e o venerem, ou ele mata todos, não importa quem seja. Outra característica desse personagem Javé, é que ele apesar de fazer o mal o tempo todo, ou ordenar matanças em seu nome, ele insiste em dizer que é bom, e ordena que todos digam o mesmo. Geralmente a maioria dos salmos em louvores a ele começam assim: Louvai ao senhor, por que ele é bom, por que matou...(egípcios, cananeus, amorreus, e dezenas de outros povos); Louvai ao senhor por que destruiu...(Jericó, Basã, Ogue e várias outras cidades). O motivo principal dos rituais de adoração a esse ser, era sempre por que ele mesmo matou ou mandou matar e destruir outros povos que não se sujeitava a ele, e assim mesmo ele insiste em ser chamado de bom por toda eternidade. Realmente um caso clinico gravíssimo de distúrbio de personalidade. Os deuses que construímos depois do surgimento da psicologia moderna, quem sabe venham sem esse defeito de fabricação.
Agora veja o comportamento dos cristãos, fundamentalistas se não é igualzinho ao desse tipo de deus. Vejam se eles não encarnam esse personagem chamado Jeová, e vivem ameaçando as pessoas o tempo todo quem não concorda em receber esse “deus bondoso”. Os que não dão com facilidade dinheiro as lideranças são ameaçadas com pragas, gafanhotos, e maldiçoes financeiras. Os que não acreditam de imediato em coisas mirabolantes são chamados de incrédulos e ameaçados de morte, perdição futura e quando um “crente” perde um debate com alguma pessoa de mente sã, parte logo pra agressão verbal, e diz que vai fazer jejuns e campanhas pra deus matar aquele “herege”. Tal pai, tal filho! Tal ídolo, tal idolatra! Cara de um, retrato do outro! O idolatra nada mais é que a projeção do próprio ser que ele mesmo criou ou venera. Vale lembrar que esse objeto de culto chamado javé, se dividiu em objeto de adoração para cristãos, judeus, e mulçumanos qual disputam a paternidade (ou real filiação) desse ser cultuado, e por questões como essas estão há milhares de anos, tentando aniquilar um ao outro. O bom de adorar um ser imaginário é que cada um dar a forma que quer, e diz o que quer a respeito dele. Nada melhor que criar um deus particular só pra você, pra matar seus inimigos toda vez que você se irritar com eles. Igual a criar um cão feroz, que basta você dizer: pega! E ele estraçalha aquele que invadiu seu território. O mesmo deus universal pai de todos, e que ama a todos, é também um deus particular para uso pessoal. Coisa boa é ter fé! Apenas a fé sem a lógica e a razão. Dá pra ser, ter ou fazer o que quiser!
Pode um ser único, indissolúvel e indivisível se dividir tantas vezes ao longo da história? Pode um ser imutável, não influenciável, onisciente e invariável ter tantos picos variados de humor e fazer com que todos paguem por seu momento de depressão? Pode um ser eterno e preexistente ter suas características acrescentadas cada vez que teólogos se juntam pra falar sobre ele? Poder um ser que se diz ser o único deus do universo e que não existe outro, viver o tempo todo com ciúmes de seus adoradores com receio que este possa estar adorando a outro, sendo que só existe ele e mais ninguém? Com um homem poderia ter suspeitas de traição de outro homem, morando numa comunidade de amazonas, onde só existe ele de homem, inclusive seus próprios filhos homens são mortos ao nascer? Os deuses são paranoicos? Tem mania de perseguição? Ou eles apenas são o reflexo de nossa personalidade? Quem cria quem ou quem manipula quem?
Por favor, muito cuidado! Não precisam responder a essas perguntas. Não quero uma comunidade de loucos! Não quero respostas, quero apenas instigar questionamentos! O tolo tem resposta pronta pra tudo. O sábio pensa, se necessário espera anos pra depois responder, apesar de em algumas ocasiões já ter respostas pra si próprio. É a si próprio que você deve responder e não a mim. Assim nasce a reflexão. Tudo é possível ao que crer. Se você apenas crer, siga, obedeça, e vive feliz como crianças a espera de papai Noel. Essas indagações não são para pessoas assim. Continue apenas crendo e terás paz de espirito (enquanto seu corpo padece). Me dirijo em ocasiões como essa para os que não se contentam com respostas prontas, e não considera nenhuma verdade como absoluta e que derrama toda agua do copo ser for necessário receber agua nova.
Nesse palco da vida, as vezes precisamos parar e ler o roteiro e não apenas viver o personagem que nos foi sugerido representar. Você pode criar outros roteiros, encarnar outros personagens, viver dramas, poesias, romance, ficção...e não apenas encarnar “o deus da guerra”. Pegue um livre, dê uma volta no mundo. Viaje com grandes exploradores da mente, do comportamento humano ou da história universal e conheça versões de personagens que você nem sequer sabia existir. Você vai perceber que o mundo não gira em torno de sua crença, apenas parte do ocidente. Vai ver que alguns povos foram abençoados por não se submeterem a certas crenças.
No paco da vida, alguns personagens que foram encarnados são belíssimos, outros dramáticos, outros melancólicos, outros são gênios incompreendidos. Uma grande maioria ainda vive na peça “o inferno de Dante” e só veem capetinhas em tudo quanto é canto esperando pra ferroar seus bumbuns, enquanto um ser irado e iracundo estar lá em cima com seu raio, pronto pra te atingir, basta só você errar uma fala do seu script. De repente tudo que você precisa é mudar o cenário, o roteiro, ou trocar o diretor. Pronto! Um novo cenário, novo script e novo personagem. Não esqueçam de encarnar um que tenha menos gosto em ver sangue inocente derramado ou que ameaça todos que não se submete a ele.
Nunca esqueçam que os deuses proclamados pela humanidade todos eles são ricos, majestosos, imortais, poderosos, auto existentes, eternos e de nada precisam. Nada do que façam ou deixemos de fazer os deixarão mais rico ou mais pobre em nada, pois já estão com a vida ganha e já existiam mesmo antes de nós existirmos e já brigavam entre si mesmo antes de nós brigarmos por eles. Então vamos cuidar de nossas vidas, ajudar uns aos outros que ganhamos mais. Quem tudo tem e tudo quer não pode ser chamado de bondoso e sim de ganancioso. Tenho certeza que os deuses não são assim. Ou são? Se nossa vida é como um flash aos seus olhos, acredito que eles não se importarão que vivamos nossas vidas ajudando uns aos outros. Tenho plena certeza que na sua bondade e misericórdia, eles não nos castigarão quando ofertarmos mais ajuda aos nosso semelhantes ao invés de tantos tributos a eles.
Um brinde a racionalidade!
Texto escrito em 11 /3/17
*Antônio F. Bispo é Bacharel em Teologia, Estudante de Religião em Filosofia e Capelão Ev. Sem vínculo com denominações religiosas desde 2013.