A meritocracia em Refluxo
A política de bônus implementada no Estado de SP pela lei complementar n.º 1.078 de 2008 não deixa de ser uma iniciativa bem vinda para melhorar os índices da Educação no Estado de SP, não obstante ao longo dos anos mostra-se falha, venal, inapropriada e carrega uma falácia em questão de mérito, afinal não posso tratar como mérito de um indivíduo o destino ou os anseios subjetivos de outro indivíduo? Em outras palavras, um discente que desiste da escola por motivos particulares não pode determinar uma razão de mérito para a escola, ou para o corpo docente. Acompanhemos a história de Abel.
Abel adora estudar, sempre consegue boas notas, um sapientíssimo aluno, ora, seus pais atravessam um período de dificuldade financeira e resolvem sair do Estado. Abel acompanha seus pais e agora os ajuda na produção de coxinhas que são vendidas em estrada. Ele saiu sem dar satisfação, apenas alguns comentários incertos, sua saída no terceiro bimestre recai na nota de fluxo da escola, assim como na prova externa, pois Abel era um ótimo aluno. Dentro da política do fluxo, os professores são culpados? A escola é culpada? Sim, a nota tende a cair!! Dar-se-á o mesmo com a reprovação de Caim, um discente sem maturidade, desmotivado, que nada fizera ao longo do ano.
A nota de fluxo é um sistema de correção de fluxo, não é pedagógico em si, pois não leva em conta a aprendizagem do aluno, antes é uma forma de correção aritmética do sistema, por exemplo, o governo exigir que os bebês comecem a andar com a idade de um ano e oito meses, caso contrário a culpa será dos pais!
A proposta do fluxo é de gerenciar recursos e prever dados intergeracionais, afinal com a retenção cria-se uma demanda alternativa que o sistema rejeita e em longo prazo tende a superlotar séries iniciais, sobretudo quando não se reformula a parte pedagógica do próprio sistema. Transformando em falácias: reprovar o aluno prejudica seu sucesso; reprovação não garante aprendizagem (aprovação também não), reprovar não é educar, et caetera. Ademais, quando se junta à nota de fluxo ao bônus por resultado cria-se uma tendência de aprovação automática, afinal o professor que reprovar perderá dinheiro.
Uma política de bônus deve se pautar apenas em provas externas, pautadas no currículo, oriundas de um banco de dados feito por professores e academia; ora, a nota de fluxo não é meritória, pois o professor não pode ser culpado por desistência do aluno, ou obrigar o professor a aprovar os alunos, uma compra de notas paga pelo governo do Estado. Mais vergonhoso que isso, só o salário dos professores do Estado de SP.
( Ricardo Gomes Pereira )