QUARESMA

A quaresma para os cristãos em especial, católicos, ortodoxos e luteranos é muito importante em seu calendário litúrgico, pois ela representa os 40 dias e 40 noites em que Jesus Cristo se recolheu no deserto para um período de jejum e oração. É o momento que o fiel se prepara para comemorar a Páscoa, através de jejuns e orações, uma forma de purificar seu espírito. Porque quaresma? Quaresma é uma palavra de origem latina que quer dizer quadragésima o qual se refere ao número quarenta. Segundo os dogmas da igreja católica, este retiro de Jesus aconteceu logo após o mesmo ser batizado por João Batista no rio Jordão, sendo ele, conduzido pelo Espírito Santo a um deserto da Judéia, para um tempo de jejum e oração.

Neste período de jejum o demônio o tentou muitas vezes para que renunciasse a Deus e se unisse a ele, oferecendo poderes materiais e benesses outras. Desta forma travando um grande combate entre o bem e o mau. Após os quarenta dias jejuando, Jesus volta para a cidade e a partir deste momento inicia sua vida pública pregando a palavra de Deus a todos os povos da região. Primeiramente vai a sinagoga de Nazaré, na Galileia, depois vai á Cafarnaum ás margens do mar da Galileia e em seguida começa a anunciar: “Convertei-vos, pois o reino dos céus está próximo” (Mt 4, 17).

Partindo do princípio, que um dogma em uma religião é praticamente imutável, pois ele se faz representar por uma lei canônica, este dogma passa a ser uma verdade absoluta para seus clérigos e fiéis. A priori não se deve contestar um dogma até que este deixe de ser assim considerado pelas leis canônicas. O dogma do jejum no deserto de Jesus, onde ele travou uma batalha de 40 dias entre o bem e o mal, penso ser uma parábola de muita importância. Pois devemos estar atentos aos fundamentos filosóficos e teológicos desta narrativa. Esta batalha entre o bem e o mal nos representa nossos embates diários, onde somos a cada instante desafiados a escolher caminhos retos ou tortuosos. Os conflitos internos o qual muitas vezes nos levam a tomar atitudes equivocadas trazendo sofrimentos sem estarmos preparados para enfrenta-los. Quantas vezes optamos por caminhos fáceis, tomando atalhos que não chega a lugar algum, desviando de obstáculos sem termos a noção de que aquele obstáculo é que daria a resposta necessária para tal problema. Assim à Jesus, também foi oferecido benesses fáceis. O demônio na sua sutileza tentou desviar o foco mostrando facilidades que não levavam a lugar nenhum. No entanto Jesus estava alerta em sua fé, mesmo correndo o risco de sucumbir, ele se manteve firme, não considerou a oferta. A passagem no evangelho que diz: “Orai e vigiai” tem tudo haver com a quaresma católica. Devemos estar sempre em alerta. Baden-Powell no escotismo colocou como máxima do movimento fundado por ele: “Sempre Alerta”, o que significa dizer que devemos estar atentos, preparados para as surpresas, às decepções e delas sairmos com galhardia. Podemos dizer com convicção que a quaresma devemos vivenciá-la diariamente. Não precisamos ir para o deserto jejuar e rezar. O nosso deserto é aqui e agora no nosso dia a dia aprendendo com as pessoas, principalmente aquelas que nos causam perturbação, mal estar. Os demônios internos causadores de depressão, insatisfação, medos, irritação. Diante de tudo isso podemos afirmar que a quaresma católica é uma metáfora para nós acordarmos para a vida. Uma vida de vitórias, de amor incondicional, solidariedade, perdão, fé, perseverança e muita felicidade. Ter Deus como nosso pai e Jesus como referencial de vida.

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) Fevereiro/2017