O MUNDO, EU E O OUTRO

A vida nem sempre é um lago de águas tranquilas por onde navegamos ao sabor do vento. E, se um dia assim o foi, pode mudar a qualquer instante e tornar-se um mar bravio, de altas ondas que, sim, podem nos fazer naufragar. Diante de tal situação há algo a ser feito que possa mudar o rumo das coisas? Tudo depende do contexto em que estamos. Há situações em que não há o que fazer, acredite. O jeito é se deixar levar sem resistência. Sabe aquele exemplo do galho que se enverga até o chão enquanto a tempestade cai? Então. Chamemos de MUNDO o vetor sobre o qual não temos controle: a natureza, a doença e a própria morte. Você não pode prever um tsunami e, certamente, sofrerá com as consequências dele. Uma epidemia desconhecida assola seu país e você não sabe como se prevenir dela. Assim, também, a morte é um termo inescapável. Há ainda outras tantas forças que podem nos imobilizar, temporariamente, e que sobre elas não temos, de imediato, poder algum; algumas, somente a longuíssimo prazo podem ser acessadas e controladas. É o caso da economia e da política, por exemplo. Quando o governo decidiu congelar as poupanças, milhares de pessoas ficaram reféns dessa decisão. Houve muitos casos de adoecimentos psíquicos e mortes. Muitas pessoas não souberam lidar com essa decisão. Eles somatizaram em seus corpos físicos a impotência. A partir desse exemplo, nossa primeira lição seria: não se deixe adoecer/matar pelo que está fora de seu controle; entenda, não depende de você. Se entregue e pare de lamuriar-se. Acredite que o tempo ruim vai passar, minimize os danos e procure a melhor maneira de lidar com isso. Use você a seu favor. Como assim? O seu EU é o segundo vetor importante nessa balança de forças e poderes. E, quando você se conhece ou está em constante busca de autoconhecimento, você consegue mover a sua energia pessoal a seu favor. As coisas que acontecem a sua volta não são determinantes em sua vida; determinante é a sua forma de lidar com elas. O conjunto de valores, crenças e cultura que formam a sua identidade e fazem você ser quem você é imprescindível para estabilizar a sua vida. Portanto, melhore a si mesmo identificando seus pontos vulneráveis. Fortaleça a sua mente e o seu emocional. Busque aprofundar a sua espiritualidade. Reconheça suas habilidades e competências. Você deve ser o vetor que você domina; e isso fará uma enorme diferença quando estiver enfrentando a adversidade. O grande problema das pessoas é que muitas só percebem suas fragilidades quando já se encontram no olho do furacão. Outras fazem pior, sabem de suas fragilidades, mas não agem sobre elas por medo. Penetram no mundo do misticismo e esquecem que muita coisa pode ser resolvida no mundo material, basta um tanto de esforço e boa vontade. Por outro lado, existe o vetor o OUTRO. Os relacionamentos fazem parte de nosso cotidiano e, às vezes, o tsunami está justo neles. Se aprendermos a olhar para os outros, compreendendo - os como seres, tais como nós, orgânicos, cheios de potencialidades e fragilidades também, teremos uma parte do problema equacionado. Quando legitimamos a existência do outro e o seu direto de divergir, abrimos espaço para o diálogo. Esforce-se para compreender que aquele ser que lhe aborrece nem sempre está movido por forças diabólicas. Ele, de fato, carrega dentro de si um mundo de valores, crenças e cultura, diverso do seu, mas tão legítimo quanto. Esforce-se para entender que ele, movido por essa bagagem, realmente acredita no que faz, pensa ou diz. Quando você parte dessa compreensão, o relacionar-se com o outro deixa de ser a imposição do seu EU sobre o OUTRO. Ou, simplesmente, a aceitação irrefletida da vontade alheia. Você pode até convencê-lo a aceitar o seu ponto de vista ou acompanhar o seu raciocínio e propósitos, mas isso só será agradável para ambos se sua argumentação incluir o reconhecimento prévio da diferença que ele representa. E, se fazendo tudo isso, você não obtiver o que deseja, volte para o início. Dê tempo ao tempo. O tempo, Deus Chronos, é suficientemente capaz de inverter papeis e colocar o EU ao lado do outro e cada qual no seu lugar devido.

Adelaide de Paula Santos em 08/02/2017, às 23:05

P.S.: Nenhuma pessoa entra em nossa vida por acaso.

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 09/02/2017
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