O FENOMENO DA GLOBALIZAÇÃO

INTRODUÇÃO

A globalização não é um fenômeno da atualidade. Desde os tempos antigos verificamos que ela aconteceu ao longo de toda a história. Falaremos a seguir sobre dois períodos distintos: a civilização grega, a globalização na atualidade e seus efeitos, e a leitura da a antropologia filosófica em tempos de globalização.

1- O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO NO PERÍODO GREGO

A filosofia grega visava o conhecimento da natureza, associada ao bem-estar social do homem; mas num determinado momento de sua história aparece como auxiliar de uma moral preocupada em proporcionar a cada pessoa sua salvação individual. Esse momento produz à dissolução das velhas estruturas políticas, seguido de rápidas mudanças de hábitos, costumes, etc.; a inclusão de uma atitude pessimista, desconfiada e triste com o “cosmolitismo”, em lugar do patriotismo, cuja atribuição era favorecer a identidade ao homem grego, pois se vivia e morria pela pátria. Esse ideal produzia uma qualidade na vida coletiva, pois essa identidade não se esfacelava mesmo em momentos de “humilhação”.

O pontapé inicial dessa crise foi com a morte de Alexandre, o grande em 323 a.C, e a de Aristóteles no ano seguinte. A filosofia passou a ser vista como a “arte da vida”. As filosofias da época como o Estoicismo, Epicurismo e Ceticismo surgem no contexto popular, como arte, difícil, mas acessível a todos os que buscavam viver felizes, mesmo quando as condições eram desfavoráveis. (Santos 2001 p.7-8).

A dominação dos gregos pelos romanos a partir de 200 a.C a 476 d.C, predominou o aumento da disparidade entre ricos e pobres; a prosperidade ficou restrita as classes dominantes, entre eles os governantes. O salário do trabalhador de Atenas foi reduzido pela metade, na época de Péricles. O custo de vida era alto com o aumento dos impostos e o desemprego era grande. Nessa época, a escravidão foi reduzida, pois era mais barato contratar um trabalhado livre, que ter e manter um escravo. A pobreza e a fome era tanta que, o Estado dava trigo à população para evitar a morte do povo. Santos citando Toynbee (2001 p. 3) chama de fenômenos da globalização, uma época de decadência política e filosófica, com uma visão negativa, pois ela representa o “desmoronamento das religiões, das culturas nacionais, das convicções pessoais e do senso patriótico. A visão positivista produziu a idéia de que a humanidade pode ser concebida como um todo, inserida no contexto da história universal”, não apenas nacional e, por conseguinte, “não está limitada à história particular de cada cidade”.

1.1 A Perda do Senso Patriótico nos Gregos

Antes, com uma perspectiva de cidadão legitimado pela polis, passou a situação de súdito, e a pluralização da polis grega ao estado romano. Nesse contexto, o cidadão que servia pelo bem patriótico, passou a ver a “coisa pública” como alvo de disputas, com interesses escusos, e sem a missão de geri-la adequadamente. As mudanças que se seguiram, tornaram o homem, voltado para si mesmo, enquanto indivíduo, ao mais, com a visão de “educação para formar cidadãos”.

O avanço econômico foi evidente, havia crescimento financeiro, partindo de uma economia monetária internacional, tendo como moeda forte o ouro e a prata. Os bancos se desenvolveram, criaram-se instituições de crédito, cujo termo grego era “emporion”, espaço físico onde se efetuavam compra e venda. Como não poderia deixar de, a ganância, o surgimento de “empresas” que geriam o mercado, onde era possível comprar e vender tudo, do escravo a prostituta, de gêneros alimentícios aos artigos sagrados. Assim a perda da identidade e endereço cultural, tornou o homem grego apto “assimilar a cultura estrangeira sem questioná-la, tornando-se passivo, sem ação para lutar por não saber contra quem lutar”. Observa-se o descrédito da filosofia, enquanto sistema econômico, religioso e político. Ainda assim, mesmo dominados, exercem influência, tanto filosófica quanto cultural no império romano e isso durou até 529 d.C. até o momento em Justiniano legitimou as religiões antigas gregas. (SANTOS 2002).

2. GLOBALIZAÇÃO E SEUS EFEITOS EM NOSSOS DIAS

As características da globalização, fenômeno esse que está modificando as relações e a economia mundial internacional; eventos ocorridos em um determinado país afetam a situação de outros pelo mundo afora.

O sistema capitalista nasceu das transformações por que passou a Europa feudal a partir, sobretudo do século XIII. O fundamento da riqueza deixou paulatinamente de ser a terra, e a economia de mercado começou a estruturar-se com base no trabalho artesanal. A partir do século XV. As relações mercantis ampliaram-se geograficamente com as Grandes Navegações e a inserção de novas terras no sistema capitalista de produção. Desenvolveu-se então, a fase do chamado capitalismo comercial. O ciclo de reprodução do capital estava inserido principalmente na circulação e distribuição de mercadorias realizadas entre as metrópoles e as colônias.

O crescimento e o aumento do número de cidades favoreceram o desenvolvimento de relações mercantis e propiciaram a diversificação e os movimentos sociais até então praticamente inexistentes. As trocas comerciais entre diversas regiões estimularam as transformações no mundo do trabalho, com o surgimento do trabalho assalariado e de uma irrelevante divisão técnica das atividades.

Com o término da Guerra Fria, desfez-se a oposição entre os dois blocos que predominavam desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O capitalismo tornou-se hegemônico na maior parte do planeta, e os Estados Unidos se afirmaram como a única superpotência mundial, com a formação de grandes conglomerados econômicos e de um grupo de potências, o chamado Grupo dos Sete, constituído pelos sete países mais ricos do mundo: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá. Graças à sua força econômica, esses países influenciam os padrões mundiais de desenvolvimento, controlam a maior parcela da produção econômica mundial e, como conseqüência, interferem no destino de toda a humanidade.

Os avanços tecnológicos permitiram que uma quantidade de informação cada vez maior circulasse pelo planeta, atingindo até as regiões mais distantes. Nesse contexto, surgem os microprocessadores de última geração, como um grande avanço tecnológico acessível à grande parte da população. O uso dos computadores interligados numa rede mundial encurtou distâncias e aproximaram os indivíduos, principalmente os jovens.

A evolução tecnológica fez surgir novas mídias. A geração jovem, familiarizada com os códigos e linguagens dos meios cinético-audiovisuais e informáticos, rapidamente se dispôs a navegar pelo mundo virtual recém-revelado, deslizando o mouse e digitando o teclado. Passou a descobrir sites, baixou músicas, criou blogs, falou com amigos usando novas formas de escritura, fez download de programas de seu interesse e buscou conhecê-los por percursos próprios ou por outros que envolvessem a cooperação de seus pares. Vivenciou, assim, princípios de auto-aprendizagem e de aprendizagem colaborativa. Com isso, intervém no desejo de se repensar educação, na medida em que se mostrou um ‘aprendente’ partícipe de mundo fortemente tecnologizado e, além disso, interessado em construir o curso da história da vida coletiva, sempre – ou quase sempre – revelada aos sujeitos por olhares e dizeres mediatizados. (Luci HILDEBRAND- 2004)

O mundo foi dividido em grupos hegemônicos de poder, a saber: os países ricos, os paises emergentes, e os países subdesenvolvidos. Categoricamente divididos em alianças como o Nafta, o Mercosul, e a possibilidade da Alca, o Mercado Comum europeu, os tigres asiáticos, etc. Essas parcerias tornam realmente o mundo numa grande “aldeia global”.

2.1 A Antropologia Filosófica em Tempos de Globalização

Cassirer (2001 p. 42) diz que em nenhum período do conhecimento humano, o homem tornou-se mais problemático para si que em nossos dias. Como dissemos anteriormente, produziu uma antropologia cientifica, filosófica e teológica que nada sabem um do outro, “não se possui mais qualquer idéia clara e coerente do homem, causada pela multiplicação das ciências particulares, mas em sua atuação confundem e obscurecem mais que elucidam”.

Outro pensador, Morin, vai dizer que “somos culturalmente hipnotizados desde a infância [...] Há fenômenos culturais de alucinação coletiva, ela faz ver o inexistente no existente e o existente no inexistente”. O homem moderno é inconstante e mutável, é vulnerável frente as correntes ideológicas, diante do capitalismo, legitimado pelo pragmatismo neoliberal e antidogmático, como enfatiza Mondin (1979), pois é avesso a qualquer verdade ou princípio absoluto; é questionador da tradição, cujos itens inclusos estão à religião, o direito, a pedagogia, o moral, a política e a economia. Poderia se dizer que essa refutação as verdades, buscam o novo, frente à falta de reflexão filosófica de qualidade. Se isso é real, o que definimos na contemporaneidade sobre o que é filosofar?

O homem pós-moderno é um ser dividido: é secularizado quando busca soluções não em Deus, mas em si mesmo e no outro, que tanto pode ser o psicólogo, o advogado, o político, o banqueiro, o médico etc.; por outro lado, observa-se que ele está envolvido num emaranhado de religiões místicas, de efeito rápido, cujo beneficio está implícito o pagamento, e tornando o indivíduo iludido e fraco diante de falsas promessas de contribuir para o reino de Deus. (Santos 2002).

O pragmatismo não dá espaço para que o homem pare para pensar, meditar na cultura. As palavras de ordem são: fazer, produzir, trabalhar. “O homem não é o que pensa, mas o que faz”. Santos (Ibid p. 24) ao citar Habermas diz “que tudo está no mercado, inclusive o sagrado”.

O homem é um ser sintonizado na história, é hábil em estabelecer uma relação entre o passado e o presente com perspectiva de futuro. Sua consciência histórica é um privilégio! É ético e moral, mas está perdendo essa capacidade, motivado por uma nova concepção de vida ética, do que é vantajoso, é antimetafisico porque trabalha as conseqüências e não as causas, como elabora a metafísica. Por vezes, é utópico, uma vez que está ciente de que a ação do progresso cientifico atinge todas as esferas do conhecimento e de toda a sociedade.

A socialização é uma necessidade premente, pois é através da comunicação que as distancias se encurtam. A palavra de ordem é interdependência, por isso como ser teme a solidão, pois se encontra isolado, mesmo quando tudo é comum. Seu valor é medido a partir da sua identificação, cujo documento mais importante é seu CPF; mesmo tendo o direito de ir e vir, de ser livre, se sente oprimido. É desorientado, é inseguro e, não sabe mais identificar categoricamente o bem do mal, entre o que licito ou ilícito, o moral do imoral ou amoral; tudo é relativo. Encontra-se ilhado e o medo é um fantasma sempre presente em sua existência, tornando-o refém de si mesmo. É alienado; uma vez que a opressão social o atinge, produz a alienação que produz a marginalização. Nesse sentido, o homem moderno é um alienado político, cultural, econômico e religioso, indivíduo sem pátria e sem identidade. Tornando-se dependente, vícios até dos “prazeres da vida”, antes contestador de carteira, tornou-se amedrontado, sem realmente poder dizer o que pensa. O humanismo nesse momento tem um papel importante, no sentido de procurar reverter essa situação.

Pensadores como Adorno, Horkheimer e Habermas têm procurado tirar do homem a postura subserviente, para em seu lugar, surgir um contestador e um espírito crítico. Pode se ler principalmente na dialética do esclarecimento de Adorno e Horkheimer. Se por um lado, o homem é frustrado em seus instintos, é egoísta, invejoso, mentiroso, fraudulento, de uma sensualidade exacerbada, tornando-se refém de seus próprios instintos; por outro, é um ser com perspectivas e capacidade de transformar o que está ao seu redor. Encontra-se perplexo muitas vezes, diante da possibilidade em escolher entre o que é essencialmente bom e o que é essencialmente mal. Nessa ambigüidade de ser, o homem tem duas naturezas, o bem e o mal, ambos são fortes e com grande potencial de ser ampliado; nesse caso, vence aquele que estiver mais forte.

CONCLUSÃO

O homem pós-moderno tem descoberto que não há liberdade absoluta, pois isso não poderá ser em si, se não puder ser com os outros. Não pode se isolar ou excluir do grupo sob pena de um não existir autêntico, melhor dizendo, sob pena de perecer.

Nesse momento, o ponto em questão é o que ser um pensador? A resposta mais plausível é viver numa atitude crítica e questionadora da realidade, é caminhar, refletir sobre sua existência e seu papel como ser biopsicosocial e, religioso, vivendo a realidade do seu tempo, inserido na perspectiva sócio-histórico, dotado de possibilidades, de se aventurar sempre, de se isolar jamais.

A globalização trouxe consigo, significativas mudanças, tornando a realidade mais complexa, desafiadora e competitiva e atingiu todas as esferas do conhecimento. A extensão de sua ação se deu ao longo do Século XX, principalmente após duas grandes guerras mundiais e outras tantas guerras locais, produzindo efeitos, cujas mudanças atingiram as ideologias políticas, econômicas, culturais e ambientais.

A mundialização do capital, a revolução industrial iniciada no século XIX e, os movimentos como Taylorismo, Fordismo, o Toyotismo e tantos outros, insurgirão como poder econômico e posteriormente ideologia mercantilista e política. Esses movimentos produziram um comportamento massificante. Vê-se o homem pós-moderno um ser frustrado, isolado, submisso e compartimentalizado; no entanto, continua com as mesmas necessidades básicas: de alimento, moradias, educação, saúde, lazer e religião.

O mundo como uma “aldeia global” está tornando o homem um “ser sem pátria”, com o vislumbre de cidadão do mundo, mas sem identidade; está aprendendo a repetir o que se espera, como uma peça indispensável da máquina capitalista, cuja compensação está em fornecer meios de explorar os prazeres da vida. No entanto, esse “homem sem pátria” é um ser que busca persistir em direção a verdade como “alimento do espírito”. O prazer é importante em sua vida, desde que seja em equilíbrio.

Redescobrir-se como ser que se situa no particular, mas que se expande a trans-universalidade, que não se acomoda diante da violência e, não admite o desrespeito diante de questões de políticas públicas como saúde, educação, moradia e cidadania. Não se ausenta diante da injustiça, pois igualmente deve conhecer as leis que lhe dá acesso ao conhecimento dos seus deveres e direitos e a dignidade a partir da Constituição Federal e das leis vigentes de cada país.

O pensador filosófico é importante para resgatar o homem na globalização contemporânea, servindo-se do exemplo da busca filosófica em relação à globalização a partir da dominação romana por aproximadamente mais de 600 anos, na construção do seu caminho. Também há lugar para o homem encontrar Deus nessa reconstrução de si, como um ser aberto, livre, cheio de sentimento, emoções e vontades. É nessa dimensão temporal e finita que encontra a infinitude, a eternidade em Deus e descobre-se como sua imagem e semelhança.

BIBLIOGRAFIA.

CASSIRRER, Ernest.

SANTOS, João Ferreira.