APRISIONAMENTO DE UMA OUTRA VIDA
Num relacionamento ''amoroso'', quando há uma relação de domínio e de submissão, dificilmente é possível frutificar um amor singelo e verdadeiro entre duas almas; mas sim uma relação de fachada alimentada por um desejo que pouco esconde ou camufla a sua real intenção, a saber: a de um anseio sádico de controle e domínio sobre outra pessoa (por outro lado, existem pessoas que, inclusive, vivem motivadas por um desejo de se submeterem aos desejos perversos de seu parceiro).
A melhor definição que é possível dar a um relacionamento com esse grau de complexidade é o de posse. De fato, numa interação permeada de controle e humilhação, há sempre a possessão doentia de um ''ser humano'' sobre uma outra vida, uma vida provavelmente enfraquecida. Como alguém pode gostar de outra pessoa, através de humilhações e desfeitas, como se fosse dono desta?
E é justamente pela pretensão de ser dono de uma outra vida, que há pessoas empenhadas em escravizar outras com a justificativa de um amor sem limites, quando na verdade é apenas um desejo pervertido de anular a liberdade alheia.
Não é por acaso que muitos políticos se serviram da arma do domínio e do controle para escravizar uma nação inteira sob uma avalanche de discursos ideológicos e propagandas disseminadas cinicamente. É que a época era propícia para isso e muitos não tinham forças sequer para escapar de uma lógica perversa como a dos totalitarismos de esquerda e de direita. Por onde o comunismo infiltrou sua ideologia, acabou se tornando um fiasco, e todas as promessas de um paraíso na terra se converteram em um inferno, tal como idealizado por Dante em sua obra ''A divina comédia''. Mais uma vez uma relação de dominação se fez possível, mas desta vez ocupando um espaço extremamente amplo.