A LIBERDADE (1ª versão)
A liberdade, que é manifestada na própria ação do ser humano diante do contexto em que está situado e inserido,pode ser pensada como ausência de servidão ou escravidão; por outro lado, é possível a sua experiência quando o próprio indivíduo, na sua singularidade, assume a responsabilidade pela sua própria existência e pelas consequências das escolhas que faz no mundo em que vive. A experiência da liberdade sempre acontece quando temos consciência da importância desta em nossas vidas, e do quanto precisamos dela para realizarmos nossas potencialidades, que são sempre fomentadas pelos nossos sonhos imbuídos de sentidos.
Pela liberdade é que conseguimos sentir a importância de ser nós mesmos, seja em nossas escolhas, seja em nossas decisões e atitudes, onde a cada instante da vida corajosamente nos superamos, até que consigamos alçar grandes voos pela amplidão do possível. Sendo de uma grande preocupação da vida, a luta pela liberdade, em meio a tantas crises ou obscurecimentos da virtude ( que é é irradiada por homens de imenso coração), só demonstra a perseverança do ser em manter compromisso com sua própria existência, ou seja, sempre cultivando o que tem de mais valioso e essencial em si mesmo; porém desprezando o que rebaixa nossa condição a um mero amaranhado de causalidades e fatalidades.
A liberdade se torna tão importante em nossas vidas, que seria impossível viver sem essa dádiva (se não fosse assim não seriamos seres humanos), pois a liberdade é a capacidade de dar um sentido maior e mais elevado à vida, ressignificando situações e vivências antigas, mas também dando significado em momentos vividos e circunstâncias novas, outrora impensáveis e despercebidas...Envolve, portanto, nossas escolhas e a criação de novas possibilidades para vivermos, a fim de conseguirmos desenvolver nossas potencialidades; mas desde,é claro, que sejamos honestos conosco e com as pessoas que estabelecemos relações, sem decairmos numa falsa consciência ou numa perversão do espírito, pois nesse caso a própria liberdade se transforma em escravidão devido ao caminho tortuoso que escolhemos obstinadamente trilhar.
O importante é não se enganar a respeito da liberdade, pois ela também pode ter seu lado negativo, sendo muitas vezes um fardo ou algo pesado e esmagador que pode nos deixar prostrados, quando todo o encanto, inerente a cada ser humano, se perde, dando abrigo ao tédio que minimiza o sentido da própria liberdade.Nesse caso, temos o exemplo de um indivíduo que experimentou o absurdo da vida ao ponto de nada do que faz ter importância; a sua vida perdeu a direção e foco (um naus navegando à deriva, sem destino ante águas turbulentas) embora haja diversas possibilidades para serem escolhidas e vividas.
Mas, ainda sim, podemos buscar a emancipação em situações de completo esvaziamento ou, o que também pode acontecer, de prisão, é quando temos a consciência do valor que a liberdade- e o sentido de sermos livres- representa para nossas vidas. Nesse caso a problemática existencial se revela com toda a sua nitidez e um indivíduo nessa condição, mesmo que esteja acorrentado à grilhões, pode ser livre quando coloca essa problemática de não se deixar perecer por uma situação de extrema penúria, podendo se for perseverante o suficiente escapar de sua condição.Assim, a própria determinação de nossa vontade, onde fazemos com que esta pulse em nosso ser de acordo com nossas necessidades e capacidades, faz com que nos movemos em busca de novas possibilidades, somente procurada por aquele que é, no mais profundo de seu ser, liberto de tudo aquilo que o ameaça de enclausuramento e fechamento de seus horizontes e aberturas, sobretudo quando queremos verdadeiramente vislumbrar a superação e consolidar grandes mudanças.
Pensar a liberdade envolve responsabilidade; não dá para sermos libertos senão tivermos um senso de responsabilidade pelo outro.Uma vida imersa no puro egoísmo não pode ser livre, ainda que seja livre para se limitar ao fechamento de suas possibilidades, pois é escrava de si mesma e de suas próprias armadilhas, mas isso não significa que a sua própria vontade não seja livre para querer; logo, aquele que conseguiu rasgar o véu do egoísmo está aberto ao diálogo, uma habilidade que transcende a covardia da mesquinhez em direção a alternativas mais redentoras... O amor e a compaixão sem dúvida estão no extremo oposto do egoísmo, pois uma pessoa assim, escrava do seu próprio eu, é incapaz de manifestar esses sentimentos em profundidade pelo fato de não conseguir transcender a si mesma; mas aquele que supera a si mesmo está mais próximo de erigir sua morada na liberdade!
Se por um lado podemos, para escapar de uma extrema angustia, usar de nossa liberdade, nos alienando a uma situação que nos deixa mais tranquilos e irresponsáveis (nesse caso nos tornamos mais conformistas com as circunstâncias e, além disso, nos tornamos obstruídos querendo nos livrar da angústia inerente à nossa condição); por outro lado, podemos, sob extrema angústia e inquietação, nos tornarmos livres, ou seja, escolhendo uma outra possibilidade: não, em hipótese nenhuma, nos obstruirmos a uma situação que nos deixa calados e passivos...Nessa atitude há riscos, pois um indivíduo que resolveu se aventurar nesses caminhos nem sempre será compreendido e muitas vezes será vítima daqueles que venderam sua liberdade sob um extremo temor...de serem livres!
A importância dessa atitude, muitas vezes acusada de radical, é a proximidade com a sua própria autenticidade, enquanto a verdade de suas ações na vida prática é o resultado de um esforço incessante que só pode ser amenizado quando de acordo com seus objetivos almejados.Mas só podemos sair do estado de angústia e de inquietação quando buscamos na fé um amparo, a fim de chegarmos mais próximos de DEUS; nesse caso, não há alienação alguma e sim uma perseverante busca em transcender os paradoxos e os contrastes da vida, sendo os milagres e o amor incondicional de DEUS, quando muito presentes em nossas vidas, capazes de restabelecer a nossa unidade, pois quando temos essa oportunidade conseguimos obter o privilégio que almejamos, a fim de de superarmos nossas cisões internas; é Deus, portanto, o único que pode nos dar, tudo junto, liberdade, serenidade e esperança infindável, não esquecendo que pode redimir nossas culpas, amenizar nossas angústias, temores e desespero!
Pois se pensarmos que a fé em Deus pode muito bem evanescer todas as inquietações de nossa alma, bem como todas as dificuldades e limitações inerentes a condição humana, trazendo o esplendor de uma paz almejada (pela simples razão de ser uma dádiva àqueles que se entregam de corpo e alma nessa aventura incompreendida por muitos), então podemos acreditar que é possível acreditar na possibilidade do impossível e, consequentemente, podemos também ampliar os horizontes de nossa liberdade pela incrível confiança que depositamos no GRANDE CUIDADO, sendo o nosso verdadeiro e único um guia de nossa passagem pelo mundo, através do qual nos sentimos regozijantes em contemplar a vastidão do inaudito permeado de serenidade, silêncio e paz, elementos que todos nós, que procuramos ser autenticamente livres, almejamos ardentemente.