VERGONHA DO PASSADO: O ROQUEIRO PASSAGEIRO JUVENIL

Os mesmos jovens que "saem do movimento metaleiro" quando finalmente pensam ter chegado a um certo nível de maturidade são os responsáveis indiretos por fortalece e oxigenar a mesma cena metal que desertaram por julgar que "estava definhando", que afinal só tinha a perder com adolescentes acéfalos que encaravam o som como uma moda social desde o início, inconscientemente (em que pese sempre a cena se alimentar de novas levas com essas características).

Isso fica muito claro para aqueles que passaram a adolescência "escutando e freqüentando o metal", mas depois se formam, se inserem no mercado de trabalho, arranjam outro círculo de amigos, provavelmente também se casam com uma não-metaleira (muitas vezes também ex-metaleira) e seguem suas vidas ouvindo seja sons mainstream ou indies, contanto que não o maculado heavy metal. Essa época da vida deles é considerada funesta (por eles próprios) e eles não voltam a escutar as bandas de então, que tanto aparentavam, nos "anos dourados" (ou "negros", devido à indumentária e outros valores compartilhados pelo meio), preencher sua personalidade e ser indelevelmente úteis.

Ou seja, existem aqueles de conformação mental pré-moldada a amar esta arte e continuar se aperfeiçoando nela, e os deploráveis "desistentes", que abandonam os artistas mesmo que ainda gostem deles, por sentir uma espécie de vergonha diante de qualquer reiteração da associação com a panela ou universo metal, por terceiros e pela própria consciência em remorso. Extremamente raros seriam aqueles que continuam a ouvir o som em casa, mas que deixam de ir a eventos, "escondendo" suas preferências "mórbidas". O padrão é que eles cortem qualquer laço com a época, promovam uma ruptura radical e completa, irreversível devido a sua perfeição e rapidez. Desconheço se sofrem algum trauma ao fazê-lo. Provavelmente não, porque o que seria encarado por um "continuísta da cena" como traumático é um ritual de passagem "purificador" para eles, repleto de sinais apenas positivos.

Estão, de nosso ângulo, perdidos, mesmo, logo não manifestam consciência de qualquer perda sentimental devido a esse rompimento brusco com o passado. Sua vida adulta não guarda relação com seu caráter durante a infância ou a juventude. O adulto existe de per se, desconecto, incoerente, como novo ser fundado do zero. Os desertores do underground não formam um todo contínuo, em suas vidas, um dia após o outro, a não ser em suas parciais representações.