Não dá Nada é VeRãO...
Os colonizadores europeus vieram de além – mar embarcados em naus e caravelas no período quinhentista transportando especiarias, degredados, navegadores e escravos, impregnando o novo mundo com tecnologias e formas de pensar diferentes e antagônicas as populações indígenas que viviam nessas terras a milhares de anos. Um choque cultural que conformou o litoral brasileiro e pavimentou o curso da História com a implantação de povoados e modos de produção que atendiam os anseios mercantilistas. O litoral foi desgastado pelo intenso povoamento alavancado pelos incessantes processos migratórios. Na era do Turismo as migrações tornam-se sazonais e a procura pelo mar ganha uma áurea pitoresca e mística. O banho de mar é um privilégio que atrai milhares de pessoas que planejam suas férias anuais para um grande encontro com o oceano, propagando os hábitos da balneoterapia com uma versão atual. A estação de veraneio é uma curtição regado a momentos sem limites desfrutando cada segundo com intensidade como um sonho de verão, uma festa sem fim ou uma ilusão desvairada. Paixões arrebatadoras, feitos heróicos, dias prolongados à beira –mar e a noite estrelada com uma brisa refrescante e a pele ardida com a exagerada exposição ao sol, deitado na rede besuntado de creme ao som do violão ou inebriado com a trama da novela predileta. Em cidades consagradas como destino turístico, eventos como a celebração do ano novo cristão (Reveillon) é uma verdadeira confusão de emoções e caos urbano. Áreas fantasmas da cidade que passam o ano desocupadas brilham com suas luzes e um movimento típico de uma cápsula que se abre apenas nos dias contados do verão. Outras zonas são acometidas com inefáveis violações seja no trânsito ou nos acampamentos improvisados dispersos nas praças e na orla. A agitação toma conta de tudo e de todos e cenas inusitadas são protagonizadas. O contato inter-étnico é inevitável com a presença de senegaleses, ganeses, haitianos, argentinos, uruguaios, chilenos nordestinos, indígenas e ciganos. Viajantes do mundo se reúnem no litoral, uns trabalhando enquanto outros aproveitam o ócio e o lazer. Em meio a frouxidão dos costumes dos meses quentes um dito popular ecoa entre a população local - que sempre encarou o verão com promessas de prosperidade econômica que mantivesse as intempéries do inverno – quando decisões inconsequentes ou esdrúxulas são tomadas: Não dá nada calça floreada! Uma nítida alusão as vestimentas coloridas dos turistas que causa estranheza entre os marisqueiros. “Não dá nada é verão tudo pode acontecer” é a premissa básica dos gozadores do cotidiano em que suas atitudes inconsequentes são abrandadas pela falta de juízo. Seria a modernidade líquida do saudoso intelectual polonês Z. Bauman (1925 – 2017)? A incógnita leva a transformação de paradigmas vigentes no sentido de apontar alternativas. Na permissiva temporada de verão, muitos verão que o messianismo anunciado por ações imediatistas impelem a incoerência como a transgressão dos Direitos Humanos e o aumento de crimes ao patrimônio histórico e a danos ambientais severos. O Brasil do “Não dá Nada” está cobrando um alto preço pela histórica omissão dos seus dirigentes, como o intelectual Darcy Ribeiro alertava na década de 1980, exigindo que maiores investimentos fossem aplicados na Educação como pilar para o desenvolvimento do país como forma de prevenir uma futura crise no sistema carcerário, e ainda complementava apontando o descaso com as políticas educacionais como fruto de um projeto de aniquilação do povo brasileiro pelas elites que fizeram questão de perpetuar a desigualdade social na terra da abundância. Com a afeição do carismático Jorge Ben reconhecemos que moramos num País Tropical abençoado por Deus e bonito por Natureza e a filosofia do “Não Dá Nada”, não dá para s-u-p-o-r-t-a-r...
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