O VALOR DA PALAVRA
Eu faço da palavra o meu melhor suporte para escrever o meu sentimento e compor os meus sonetos. O intelectual precisa conhecer a palavra que é o seu instrumento de trabalho quando realmente escreve algo importante. O beletrista não pode escrever bem se não tiver conhecimento da palavra própria dentro do texto literário. O bom escritor procura ler bastante para dominar o vocabulário que dá vida ao bom texto e prazer ao leitor. Não podemos compor um bom soneto, ou um bom poema se a gente não domina bem a sinonímia que enriquece o texto literário e dá um gosto sublime ao leitor sincero. Eu procuro sempre ler os bons dicionários e aprender o suficiente para escrever os meus sonetos sem repetição de palavras. A maior pobreza de um texto literário está na repetição de palavras corriqueiras que pouco chamam a atenção do leitor e nem o obriga a ir ao dicionário para procurar o sentido dos termos e poder interpretar o pensamento do autor. Desde as minhas primeiras leituras que procurei aprender os sinônimos e exprimir os meus sentimentos de acordo com a linguagem técnica e a forma erudita como escreveu o poeta Augusto dos Anjos e o nosso Euclides da Cunha. A prosa de Machado de Assis está escrita num vocabulário autêntico que os jovens de hoje não são capazes de domina-lo. O autor de O Alienista não tinha formação nenhuma, no entanto, sabia escrever como ninguém. Eu não posso deixar de cultivar a palavra porque ela faz parte da minha vocação literária. Quem primeiro me obrigou a ler dicionário, foi o nosso Coelho Neto, que sabia muitos sinônimos e escrevia sem repetir o mesmo termo dentro do mesmo período, como disse Brito Broca, crítico da literatura brasileira. Os contos de Machado de Assis são riquíssimos em sinônimos e o leitor é forçado a ler bons dicionários e dominar a palavra se quiser entender o que está ali escrito. A nossa escola atual não se preocupa mais com isto porque o aluno não se interessa em aprender coisa nenhuma e não lê mais o que a gente lia há trinta anos. Eu não me canso de ler bons livros e muito menos os bons dicionários que me dão um conhecimento enorme sobre a palavra, sobretudo, como deve ela ser escrita.