A FALSA MORAL CRISTÃ, E A INÚTIL EXPORTAÇÃO DO PECADO

Nesse texto, não tenho como premissa provar ou não a existência de um Deus cristão, nem tão pouco acrescentar ou diminuir suas virtudes. Se Este ou suas virtudes existem, existem por si só, independentes de mim. Se não existem fazer provas disso seria também desnecessário. Intento questionar a hipocrisia coletiva do pensamento cristão atual, comparando o que se afirmam crer, com o reflexo oposto daquilo que dizem ser a fé cristã. Provar ou não que um ser é real ou fictício não muda em nada a conduta de muita gente. Levar pessoas a refletirem seus atos no meio em que vivem, mediante suas alegações de fé pode mudar muita coisa. Num mundo de humanos, as pessoas perdem muito tempo aprendendo se a relacionarem com os deuses e a estes prestar sua devoção e respeito, tornando vã a própria fé, quando perdem o respeito pela vida alheia.

“Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,

de vossa alta clemência me despido;

porque quanto mais tenho delinquido,

vos tenho a perdoar mais empenhado”. (Gregório de Matos)

Nossa literatura estar repleta de falas como essas, reproduzidas por meio de orações, letras de músicas, peças teatrais e as mais diversas formas de expressões verbais e não verbais, que reflete um profundo sentimento de respeito a uma divindade, pedindo clemencia o tempo inteiro, sabe-se lá o porquê, por pecados nunca dantes cometidos e uma clara falta de respeito ao próximo, por meio de ações cotidianas, previamente planejadas, que causam danos físico e morais a outrem, e não demonstramos o mínimo de arrependimento. Em um país cristão, pouco se sabe sobre o cristianismo (como estilo de vida) e sobra muita hipocrisia e falso moralismo em constante conflito com a própria ideia de ser cristão. Rituais, liturgias, dogmas e os mais diversos conceitos foram substituídos pela busca do relacionamento perfeito entre as pessoas, para que assim, tivéssemos acesso ao divino que há em nós como foi ensinado por aquele que dizem ser o Cristo.

Vejamos alguns casos de falso moralismo e falsa cristandade:

Nos tribunais de justiça, alguns advogados e clientes cristãos, parecem deixar de ser cristãos, quando deliberadamente planejam falas, maquinam argumentos e conseguem provas falsas para levar vantagem sobre outros ou pelo menos se esquivar de suas obrigações nas causas apresentadas em uma audiência. Depois ambos irão prestar culto de formas diferentes, em igrejas diferentes e pedir a divindades diferentes, não por aquele erro cometido, mas apenas para cumprir a formalidade litúrgica de seu grupo religioso. Poderiam e deveriam sentir vergonha por atos indecorosos e previamente planejados contra seu semelhante, mas comemoram e sentem orgulho quando conseguem pela oratória ou pela falta de faltas de provas tornar o inocente culpado e o culpado inocente. E ambos continuam sendo cristãos. Esquecem a lei da partilha e encarnam a “lei da depenação”, e tiram até o último centavo da contra parte se achar parcialidade no que julga a causa. Dizem que querem morar no céu, mas se tiver chance, se apossam de tudo que é do outro aqui na terra, não pelo desejo de justiça, mas pelo desejo -de tirar vantagem sobre o outro e vê-lo no pó. Nesses casos, a derrocada do outro é mais valiosa que a correção de um dano causado.

Um político cristão, patrocinador de eventos litúrgicos para as mais diversas formas de culto sob sua autoridade política, parece deixar de ser cristão, quando de comum acordo veta projetos beneficentes a toda uma comunidade, só por que foi criado pela “concorrência” e não pelo seu partido. Comemoram o veto ao benefício público como sendo uma atitude de gênio, para depois se beneficiar do mesmo projeto no futuro apenas no intuito de engradecer o nome do seu próprio grupo. Em períodos eleitorais, parecem que a maior parte dos políticos e eleitores cristãos, deixam de ser cristãos por alguns dias, para se envolverem em falcatruas, compra e venda de votos, baixarias, perseguições, atentados, calunias, difamações e construções de provas falsas para incriminar o oponente. Participam ou escondem a sujeira do outro por 4 anos inteiros, para só em períodos de campanhas eleitorais vir tornar a público os fatos, não pelo desejo de justiça, mas pelo desejo obscuro de usar o erro do outro em benefício próprio. Depois, políticos e eleitores, estarão diariamente em suas rezas e orações pedindo perdão por pecados que nem existem, e esquecendo-se do mal que fizeram a outros. Ambos pedem ajuda aos seus santos pela derrota e miséria do outro para poder satisfazer seu desejo diabólico de vitória. Mortes planejadas de modo que pareçam acidentes estão entre os planos fabulosos de políticos e eleitores cristãos em período eleitoral. Nesses grupos, quem não ora ou pede ajuda todo dia as suas divindades, pelo menos uma vez por ano sai com a multidão em romarias e procissão para demostrar seu “cristianismo”, “arrependimento” e “devoção” em público. Tais políticos, ainda parecem se despir de suas cristandade, quando cobram propina, superfaturam obras públicas, cometem peculato e usam a máquina pública para fins pessoais. São pagos pelo povo para trabalhar para o povo, no entanto escravizam o povo e tornam suas vidas o mais difícil possível, para que gere dependência dele e as pessoas lhes implorem, e os tratem como patrões quando na verdade são nossos funcionários.

Alguns médicos cristãos, parecem não ser cristãos, quando na rede particular de saúde, atendem as pessoas de forma bem humoradas, demonstram carisma, atenção e respeito aos pacientes, mas quando estão na rede pública de saúde, os mesmos dormem em serviço, faltam em seus turnos, são grossos, indelicados e arrogantes e quando não, passam a todos o mesmo receituário apesar de patologias diferentes. Esquecem o juramento de HIPROCATES e assumem o juramento dos HIPOCRATAS usando dois pesos e duas medidas quanto a vida humana. Depois, em suas orações, pedem perdão a divindades esculpidas ou imaginarias por um crime que não cometeu contra estes, mas não sentem culpa pelo que fizeram aos pacientes, pelas centenas de mortes futuras ocasionadas pela sua negligencia, tornando tão fútil, um serviço tão nobre.

Alguns magistrados, policiais e outras autoridades civis de peso, parecem não serem cristãs, nesse pais de maioria cristã, quando abusam de sua autoridade, absolvem o mais rico, incriminam o mais pobre, influenciam ou se deixam influenciar pelos mais diversos favores, ou se tornam imparciais quando o título lhe vem à cabeça. Sinceramente eu não sei pra quem esses rezam, pois alguns se acham estar no topo da cadeia alimentar e parece não haver nada acima dos mesmos. Suas preces deve ser para algum reptiliano ou draconiano miserável qualquer, apesar de publicamente usarem faixada cristãs para não contrariarem o público.

Milhares de servidores públicos das mais diversas categorias, pago com dinheiro do povo, para servir ao povo, parecem deixar de ser cristãos, quando no exercício de suas funções, são arrogantes, desleixados, indelicados, irresponsáveis e quando são confrontados por suas ações, usam sempre a frase “DAQUI NÃO SAIO, DAQUI NINGUEM ME TIRA, como se fosse algo bonito de se dizer e ainda completam:” Passei nessa droga de concurso e só saio daqui quando me aposentar”! Esses malditos, passarão quase 30 anos de suas vidas, tornando a própria vida e a de muita gente perturbada, tediosa e infeliz. Poderiam estar fazendo qualquer coisa na vida que lhe fosse agradável, mas em troca de um status idiota preferem estar ali, mesmo sem gostar do que fazem, tornando tudo mais difícil a todos, inclusive a si próprio. Depois os mesmos irão as suas igrejas, impressionar as lideranças com seus altos dízimos servindo-se mais uma vez disso para também impor seu mau comportamento entre esses, por que estão pagando pra estarem ali, pois até em locais ditos sagrados, compram camarotes para não se juntar com o povão comum. Em suas orações também os tais pedem perdão por pecados imaginários e ocultam seus verdadeiros crimes contra todos que ofendeu.

Milhares de comerciantes e negociantes cristãos, parecem não ser cristãos, quando de modo consciente, compram mercadorias roubadas por uma “pechincha” para vender pelo preço normal, obtendo assim lucros fabulosos. Nisso alimentam o mercado dos trambiqueiros e assaltantes, fazendo com que esses atos aliados a falta de impunidade, sejam um incentivo para que tantos outros entrem nesse caminho da perdição. Depois de um tempo, os próprios ladrões que lhes vendiam o fruto do roubo de outros, serão os mesmo que roubarão deles mesmos para vender pra outra linha de desonestos. Nesse mercado há todo tipo de “investidor”: do que só tem dinheiro pra compra um produto roubado no valor de 10 reais, até aqueles que tem condições de comprar frutos de roubo com valores superiores a 10 milhões de reais. Todos esses são “cristãos”, oram, rezam, fazem o sinal da cruz e pedem proteção aos mais diversos deuses quando saem nessa “nobre” missão de se apossar do que é dos outros indevidamente. Depois vão pedir perdão por um pecado que não cometeu, sem jamais se arrependerem dos erros previamente planejados. Vale lembrar que alguns desses são dizimistas fieis em algumas igrejas cujos líderes sabem previamente a origem do dinheiro, e ao invés de repudiar tais atitudes, oram para que o “comercio” desses cresçam mais para assim doarem mais a “casa do senhor”.

Vários líderes eclesiásticos cristãos, das mais diversas ramificações diferentes de cristianismo, parecem não ser cristãos, quando usam de sua autoridade e “unção”, para perseguir, difamar, caluniar, amaldiçoar e planejar os mais diversos males aos que são de dentro de sua igreja e não se submetem ao seu “senhorio”, quando reconhecem nestes, um ser infantil, imaturo e imoral com roupas de santidade. Também, tantos outros líderes eclesiásticos cristãos parecem não ser cristãos, quando usam de sua posição para a pratica de pedofilia com crianças inocentes ou a pratica de adultério com mulheres desavergonhadas ou potencialmente “carentes e seduzíveis”. Nesses casos tem o diabo, claro, fruto também de uma mente cristã medieval, construído exatamente para fazer parecer santos os próprios “demônios”, após cometerem seus atos pecaminosos premeditados. Esses também, como os outros, irão pedir perdão por crimes que não cometeram a uma divindade qualquer, mas jamais se retratarão com as vítimas de seus abusos. Pior que as vítimas, por serem cristãs, são incentivadas pelo próprio grupo a não delatarem seus líderes para não trazerem escândalos a “obra do senhor”, para assim, não serem punidas ainda mais, pois pior que ser abusado por um marginal, é expor esse crime a sociedade, denegrindo assim a imagem do bom Deus...Santa paciência! Aliás, segundo as crenças internas, somente no dia do juízo e somente pelo próprio Deus, esses tais criminosos cristãos serão julgados. Às vezes eu penso que o prêmio de muitos cristãos na eternidade não será um paraíso cheio de flores e carneirinhos berrando alegremente. Às vezes acho que a recompensa de pessoas assim será uma carroça de burro carregada de pedras, para os mesmo puxarem em ladeiras de estradas de barro por toda eternidade por serem tão tontas e deixarem de usar suas faculdades mentais.

Vários repórteres, radialistas e profissionais de comunicação em massa que se denominam cristãos, parecem não ser cristãos, quando para manter seus empregos, concordam em veicular informações falsas com intuito de proteger uns, perseguir outros ou colocar a população em polvorosa para depois lhes mostrar algum tipo de messias, surgido de algum partido político qualquer, que tão logo assumem o cargo, já se percebem o tamanho da maquiagem que foi feito para que este viesse a se erguer. Até os canais, que oficialmente se declaram de donos cristãos, servem a intuitos não cristãos e os profissionais envolvidos parecem seres zumbizados, apenas cumpridores de ordem do chefe maior.

De modo geral, nossa sociedade cristã, parece não ser cristã diante do sofrimento, prejuízo ou desastre alheio. Mediante um acontecimento em que deveria despertar sentimento de mobilidade e cooperativismo, as pessoas param para filmar, fotografar, ou simplesmente serem testemunhas oculares das desgraças alheias. Quanto mais espalhar a dor, o sofrimento o prejuízo ou a vergonha alheia melhor. Curta, compartilhe e comente são as leis áureas da cristandade que vive em busca de caçar desgraças. Se não tiver qualquer desgraça alheia pra comentar pelo menos uma vez por dia, suas pobres vidas perdem o sentido. Depois fazem campanhas e mais campanhas de orações e jejuns para que coisas boas aconteçam. Fazem passeatas e quebra-quebra exigindo mudanças...Como algo pode mudar para melhor se em seus corações o desejo que prevalece é sempre ligados a dor e sofrimento? Triste repertorio vazio de sentido é o que se ouve nas orações diárias de nossa cristandade. Pedem paz, mas se não tiver a guerra, não há pra quem torcer. Sua fé e sua sintonias nunca coincidem.

Afinal: é realmente cristã a nossa sociedade cristã, ou somos apenas seguidores dos mais diversos rituais litúrgicos antagônicos aos ensinamentos do Cristo? Contra quem deveríamos lutar? Contra um diabo imaginário ou contra nosso orgulho, inveja, soberba, ganancia e raiva sem direção? A quem devemos pedir perdão? As divindades esculpidas e desenhadas e a seres do imaginário por pecados nunca dantes cometidos, ou devemos nos corrigir com nosso próximo cada vez que de modo livre ou intencional lhe causarmos prejuízo?

Quem tem mais poder para pôr fim aos males da humanidade? A força conjunta de todos os deuses já inventados e cultuados por nossa raça, ou pequenas ações de diplomacias por chefes de estado de boas intenções? Por incrível que pareça, uma simples caneta, uma folha de papel, e a assinatura de tratados de paz por pessoas comuns, são mais poderosas do que a onipotência dos mais diversos deuses prepotentes já criados por nós. Aliás, pelos registros históricos dos livros sagrados das mais variadas crenças, esses deuses adoravam ver derramamento de sangue, e as pessoas em eternos conflitos. Eles tem uma ira incontrolável e sem motivo destroem povos e nações inteiras pela mínima bobagem. Existem as mais diversas promessas de ameaças de vários deuses para um “dias D”, todos eles relacionados a falta de conhecimento de alguma divindade, ou da insubmissão aos seus representantes aqui na terra, já que os tais deuses nunca foram vistos pessoalmente orientando a ninguém.

Por sorte, há vários modelos humanos a serem seguidos. Vários sábios do passado e do presente, das mais diversas culturas. Se não forem reais tais humanos, vários dos seus ensinamentos podem ser seguidos com efeitos e resultados. A lei da reciprocidade é um dos modelos que funcionam, pregados por vários sábios ao longos das eras.

A essência do cristianismo não está em saber falar em línguas, ter dons sobrenaturais, exibir suas conquistas materiais ou ser um “chegado” de lideranças cristãs. Segundo o próprio Cristo, a vida cristã deveria ser pautada pelo exercício da honestidade, da boa-fé, do cooperativismo mutuo, da lei da partilha, do respeito ao próximo, e o de se pôr sempre no lugar do outro. Levar vantagem sobre o outro o tempo inteiro, viver em busca desenfreada pela fama, dinheiro, status e posição social não são bases de seus ensinamentos. Mentir, enganar, ocultar, oprimir, coagir, caluniar e derrubar o outro para crescimento próprio também estão longe de serem atitudes cristãs.

É possível ser cristão apenas para pedir clemencia ou pedir perdão por pecados nunca cometidos? Ou será que o cristianismo estar se tornando uma válvula de escape para produzir gente irresponsável por suas atitudes, tendo como Deus ou o diabo como pai de todas as suas ações? Será que o cristianismo ao longo dos séculos, tem servido apenas como ferramenta de opressão e massacre? Será que o atual cristianismo não tem nada melhor a oferecer que fantasias e submissão cega? Será que não foram trocados a cadeia de valores a ser seguido? Será que não trocaram a marca pelo conteúdo? Algo a se pensar...

Se exportar significa expor, direcionar para o exterior, vamos exportar sinceridade e não hipocrisia, verdades e não mentiras. Se tivermos de pedir perdão por um pecado cometido, que seja àqueles que são cometidos contra outrem, e não aqueles pecados imaginários, que fazem partes da liturgias e orações cristãs, tornando patético algo tão sagrado: a reconciliação entre o ofendido e o ofensor por meio da reparação do prejuízo cometido. Sagrado e santo seriam atitudes como estas. Não há sacralidade nenhum em se dobrar diante de uma imagem esculpida ou de um ser imaginário para lhe rogar perdão. Mas algo divino acontece quando reparamos nossas relações tumultuosas. A sacralidade das coisas estar mais atribuído as nossas intenções do que nas nossas orações.

Há uma linha tênue, muito fina e curta que separa o sagrado do profano. Essa linha não é visível segundo os olhos de nenhuma religião. Somente com os olhos do coração é que podemos observa-la. De coração pra coração é que podemos entendê-la. Até o divino torna-se pecaminoso diante de intenções profanas. Mas o que foi dito profano torna-se sagrado quando deixarmos ritos sem sentidos, e passamos a ser mais humanos uns com os outros. A quem interessar, busquem a essência do cristianismo nos ensinamentos daquele que dizem ser o Cristo e não em dogmas, liturgias e rituais sem sentidos e parem de exportar o pecado como lei áurea dessa crença.

Saúde e sanidade a todos nós!

Escrito em 18/12/16

*Antônio F. Bispo é Bacharel em Teologia, Estudante de Religião em Filosofia e Capelão Ev. Sem vínculo com denominações religiosas desde 2013.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 18/12/2016
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