Deus e o universo: conversa com um crente
– Quem ou o quê é Deus?
– Um ser divino, criador de tudo que existe, da vida, do universo, dos seres humanos e da eternidade.
– Como provar a existência de Deus?
– Não se prova a existência de Deus, Ele é uma questão de fé, ou acredita-se Nele ou desacredita-se.
– A pessoa nasce com fé ou a adquire com o tempo?
– Há mais mistério no universo que nós podemos compreender. Se você disser que a fé é uma coisa inata então poderemos compreender mais facilmente que quando se nasce a pessoa é concebida pelo milagre da vida e traz consigo tudo que precisa para sobreviver nesse planeta.
– Se fé é algo que nasce com a gente, então porque nem todos têm fé?
– Deus é único. Isso quer dizer que o mesmo Deus que criou o ateu é o mesmo que criou o crente. A diferença é que ele deu liberdade de escolha tanto para um, quanto para o outro.
– Então isso não significa que a liberdade de escolha é algo que inutiliza a fé?
– De forma alguma, a fé é um requisito para se alcançar a vida eterna.
– Mas para alcançar a vida eterna não é preciso também ter boas obras?
– Exatamente.
– Então podemos dizer que primeiro não vem a obrigatoriedade das obras e depois a fé?
– Não porque uma coisa é inseparável da outra.
– Mas se a fé é algo inato e a prática é o resultado da fé então isso significa que toda pessoa que age de acordo com boas práticas ou boas obras está agindo com fé. Ora, se isso for assim mesmo, podemos dizer que todo ateu que age de acordo com boas obras está agindo pela fé. São crentes acima de tudo, ainda que não creiam. Como pode uma pessoa ter fé e ao mesmo tempo não ter? Isso não soa muito contraditório?
– Nosso conhecimento é um, o de Deus é outro. Então nem Deus nem o universo são confusos, nós é que confundimos tudo a ponto de muitos negarem a existência de Dele.
– Como “Deus” criou o universo?
– Criou a partir de seu poder infinito. Criou a luz, a escuridão, a água, o céu, a natureza e os seres vivos em dias distintos. Como Ele é o nosso criador, Ele tem um plano para cada um de nós.
– Como você sabe de todas estas informações?
– Sei por que estudo a bíblia e ouço pregações do evangelho pelo pastor e por todos aqueles que Deus usa para falar em seu nome.
– Você acredita no islamismo?
– Deus me livre. Acredito na santíssima trindade. Essa religião é violenta e prega a violência. Deus é amor.
– Então essa religião é errada?
– Com certeza. Basta a gente vê as práticas de membros vinculados a ela.
– Mas no antigo testamento também não houveram práticas igualmente violentas praticadas por religiosos e pelo próprio “Deus”?
– Houve, mas foram necessárias para aquele tempo.
– Como você sabe que foram necessárias para aquele tempo e não são agora?
– Por que Deus estava presente e o povo já estava corrompido.
– Mas você não acabou de dizer que “Deus é amor”?
– Disse. Mas disse também que o conhecimento nosso é um e o de Deus é outro. O que pode ser certo para nós pode não ser certo para Deus. Além disso, o tempo de Deus é um e o nosso é outro.
João saiu um pouco contrariado. A fé não podia explicar tudo que ele conhecia. Por isso, entendeu a "fé" como a capacidade de acreditar e a "razão" como capacidade de julgar ou raciocinar. Se por um lado eu disser que tenho fé, não preciso provar nada, pois fé não exige provas, acredita-se e pronto. Mas, a partir do momento que eu digo: "Deus" existe e procuro dar fundamentos para isso através de raciocínios e de juízos, posso facilmente dizer que em tal caso fé e razão estiveram em conformidade. Por outro lado, quando eu digo: tenho razão, mas não tenho fé, minha capacidade de julgar e de raciocinar não poderá exigir algo que não possa ser comprovado cientificamente. Daí resulta a oposição entre ciência e fé.
As atrocidades são mais cometidas por aqueles que agem pela fé e esquecem da razão. Portanto, João pôde concluir o seguinte: após "Deus" ter criado a fé, percebeu que precisava criar a razão para por limites nela.
(Fragmento do livro "Entre dois mundos: a saga de João para compreender a possibilidade de um (não) Deus".