QUANDO A BOMBA BEIJAR O CHÃO
Habituada estava
Ao ato de uma rejeição polida
Algo muito educado
Delicado até
Mas que doía tão profundamentete
Que chegava a faltar ar em seus pulmões
Tinha uma missão estranha:
Aconselhar, acolher, resolver
Socorrer os aflitos
Consertar asas quebradas
Enquanto suas próprias eram machucadas
Sempre e tão habitualmente
Que a todos era normal
Ninguém lhe perguntava como estava
Ninguém se preocupava em lhe ouvir
Ninguém sequer lhe acolhia em dias chuvosos
Mas ela lá estava
Pronta ou não
Sua missão era estar lá
E o cansaço lhe ocorria
E lhe secava a crença em si mesma
E lhe faltando o tal ar nos pulmões
Respirando com dificuldade
Avançava um pouco mais
Quem sabe na próxima curva -pensava
Quem sabe na próxima alma -sonhava
Quem sabe um dia -torcia
A fé lhe fugia das veias
Mas seus passos seguiam adiante
Com tamanha bravura
Que se agigantava aos olhos dos outros
E, infelizmente mais gente inspirava
A lhe trazer mais e mais
Asas quebradas.