A LIBERDADE (2ª versão)
A liberdade é tão importante em nossas vidas, que seria impossível viver sem essa dádiva (nesse caso não seríamos seres humanos dotados de escolhas e vontades, desejos e decisões autênticas), pois a lliberdade se revela na capacidade de darmos um sentido mais elevado à vida, significando circunstâncias e vivências novas, ao mesmo tempo em que podemos reavaliar aquelas situações, acontecimentos e até mesmo fatos antigos, outrora despercebidos ou desconsiderados, impensáveis ou memoráveis... (pelo resgate de nossas vivências pela memória, somos capazes de reconstruirmos as ruínas do que se foi, do que se perdeu em algum instante da vida). Envolve, portanto, nossa capacidade de criar, corajosamente, novas possibilidades em meio tantos esforços deseperançados e a tantas lutas infrutíferas.
Ao criarmos novas possibilidades para vivermos, somos responsáveis por tudo aquilo que construímos e projetamos, pois através dos nossos sonhos e desejos é que sedimentamos nossos valores, nossas crenças e convicções, nunca deixando de considerar que podemos mudar o nosso modo de ser, haja vista a fluidez inerente a nossa própria condição de seres sujeitos ao transitoriedade e à finitude. A dimensão da liberdade está tão presente no ser humano que é através desta que a cultura é fomentada, apesar de ser a cultura, e muitas vezes contradizendo a experiência coletiva da liberdade, um legado histórico de servidão e domínio sobre a massa.
É a própria experiência que fazemos de nossa liberdade quem nos permite sonhar e realizar nossas potencialidades adormecidas, pois se perseveramos num sentido realizador, ficamos, mesmo diante de tantos empecilhos, em condições de elaborar nossos projetos de vida, sem que as adversidades que a mesma está repleta limite nossos movimentos; moovimentos esses que são direcionados para uma vida mais digna e repleta de esperança, ou ainda, para uma vida que se prostra diante de DEUS, reconhecendo com gratidão o seu infinito amor.
Na verdade, conseguimos fazer essa experiência quando não decaímos numa falsa consciência de si mesmo ou numa perversão do espírito, haja visto que podem nos fustigar quanto mais acreditamos, soberba e ousadamente, que estamos em condições de estar acima do bem e do mal, achando que é possível determinar o destino de outras vidas, tal como muitos homens (vitimas de si mesmas) tem feito até então.
Bem diferente é aquele que, humilde e sabiamente, alçou voos sublimes de gratidão e amor, reconhecendo a glória de DEUS e do seu filho amado que reina para toda eternidade. Este, sem dúvida,, ao conhecer a verdade que liberta, aprendeu o segredo de sua própria salvação, fundada no amor de Jesus Cristo, o salvador de toda humanidade.
O importante, para quem quer obter uma compreensão da liberdade, é não se enganar a respeito dela. Sem dúvida, a liberdade tem seu lado negativo, muitas vezes até sendo um fardo e que pode nos deixar prostrados, provavelmente quando não percebemos a direção e o rumo que precisamos tomar; acontecendo em muitas circunstâncias do indivíduo ficar à deriva, sem qualquer consolo e alegria diante da vida...Podemos dizer, então, que a liberdade primordial de atribuir sentidos e significados, diante de tudo o que nos cerca, onde há responsabilidade do indivíduo pela sua própria existência, se converte em escravidão, sem que haja um cativeiro propriamente dito, apenas a limitação extrema do indivíduo que não soube superar tal estado de perturbação doentia. Nesse caso em específico, temos o exemplo do indivíduo que experimentou o absurdo da vida, ao ponto de se afundar de vez no fastio e no tédio da própria existência, cotidianamente enrijecida pela dor e pelo sofrimento. Um ser humano nessa condição perdeu a capacidade de atribuir algum sentido ao seu viver, embora, sinceramente falando, tenha tantas possibilidades para serem escolhidas e vividas.
Podemos pensar em nossa emancipação também em situações de completo esvaziamento, no sentido de estar livre daquilo que ludibria grande parcela dos seres humanos; ou, o que também pode acontecer, em situações de prisão, mais precisamente quando nos recusamos em aderir de corpo e alma, ou seja, integralmente, a uma ideologia que consideramos nociva para a enriquecimento de nossas potencialidades e perspectivas.
É nessa situação-limite, de extrema dificuldade, que a problemática existencial se revela com toda a sua nitidez. Um indivíduo nessas condições, limitado pelo meio e pela sociedade em que vive, pode ser autentico e livre, mesmo vivendo preso pelas armadilhas de seu tempo, ou seja, não abrindo mão do que acredita para se adequar a uma mentira social alienadora. E se for perseverante o suficiente, pode, com grande coragem,escapar de sua própria condição, mas não importa: pois o mais importante de tudo é que sua liberdade de expressar o que pensa, e de professar no que acredita, não foi vendida em troca de migalhas e seduções vãs ou ilusórias.
A nossa própria autodeterminação, quando somos movidos pela nossa vontade de ser e de deperseverar, faz com que a nossa superação, seja a busca primordial que orienta nossa existência em busca de novas possibilidades, rumo a libertação do meio na qual estamos limitados e aprisionados; mas é somente procurada por aquele que é livre no pensamento e é responsável pelas escolhas que faz na vida. Quanto mais responsabilidade e zelo tivermos pelas nossas vidas e pelo outro, mais somos adornados de sabedoria e autenticidade em nosso modo de ser.Pela responsabilidade que temos com nossas vidas, é que somos capazes de ter maior preocupação com nós mesmos, sondando nossos dramas mais secretos e íntimos e, ao mesmo tempo, adquirindo maior firmeza diante da dor e do sofrimento, ambos oriundos de nossas paixões mais avassaladoras.
Pensar a liberdade envolve atitudes e posturas que envolvam responsabilidade; pois, assim, não dá para sermos libertos senão tivermos um senso de responsabilidade pelo outro. Uma vida imersa no puro egoísmo não pode ser livre, pois é escrava de si mesma e de suas próprias armadilhas; porém aquele que conseguiu rasgar véu do egoísmo está aberto ao diálogo, uma habilidade que transcende a covardia da mesquinhez em direção a alternativas mais redentoras! O amor e a compaixão sem dúvida estão no extremo oposto do egoísmo, pois uma pessoa assim é incapaz de manifestar esses sentimentos em profundidade pelo fato de não conseguir transcender a si mesma; mas aquele que supera a si mesmo, dando abertura para a aventura do diálogo com o outro, está mais próximo de edificar sua vida espiritual através da liberdade de amar o seu semelhante!
É quando a vida passa a ser dotada de novo significado, não somente como um fardo, onde estamos sujeitos às fatalidades e aos enganos do mundo, mas também como uma oportunidade para ganharmos sabedoria, nos aproximando do que verdadeiramente nos enriquece espiritualmente e, além disso, nos tornando pessoas mais solidárias a todos os seres que povoam esse mundo repleto de significados, que são constantemente atribuídos por cada indivíduo, nação ou cultura estabelecida.
Se por um lado podemos vender a nossa liberdade em troca de segurança e conformismo, servindo aos padrões e aos valores que são impostos pelo sistema em que estamos imersos; por outro lado, podemos vencer e triunfar sobre essa condição que é responsável por obscurecer nossos horizontes, nesse caso buscando outras alternativas de vida que possam ser mais condizentes e favoráveis ao nosso desenvolvimento pessoal, e também das pessoas com quem nos relacionamos, esbanjando atitudes mais favoráveis a emancipação, ainda que seja de pequena repercussão.
Muitos encontram na revolução e no engajamento das grandes causas o terreno fértil para a conquista da liberdade, semeando grandes obras que possam, para usar uma expressão de Kant, servir de norma para toda a humanidade. Esse modo de ser sem dúvida envolve riscos em razão de sairmos do conformismo habitual que caracteriza a vida de muitos, sem falar da angústia que invade nosso ser quando entramos em conflito com as condições socias e históricas em que vivemos. Mesmo assim, permanece válido para aquele que se aventurou pelos caminhos que o conduzem para própria libertação de algo que o ameaça.
Mas ainda que possamos lutar pela nossa liberdade com toda nossa paixão, uma busca possível e favorável para o nosso ser, muitas vezes as nossas limitações (que se tornam mais evidentes em razão de nosso meio social e, ainda, pelas nossas condições físicas) nos deixa presos de alguma forma, ainda que nossa capacidade de pensar e de criar se sobreponham ao que nos mantém presos. É quando sentimos que somos limitados e frágeis, que não encontramos outra alternativa na vida (tornando ainda mais evidente nossa espiritualidade e nosso ímpeto religioso!) senão confiar em nosso pai celestial, nosso magnífico DEUS, a fim de nos forças e coragem para vencermos a dissolução e a morte que rodeia nossa existência. Deus não só nos responde ao nosso apelo de cuidado, como também presenteia com a dádiva do amor quando o buscamos com toda a nossa sinceridade de coração.
É a fé em nosso senhor Jesus Cristo e também o amor que nos faz aproximarmos de DEUS, que o horizonte da esperança se descortina em nossa frente, abrindo espaço para a liberdade se fazer presente em nossas vidas, onde somos de agora em diante agraciados com discernimento e doses diárias de sabedoria para transcendermos nossos limites e emergirmos do abismo que muitas vezes nos mantém suspensos sob imensa e intensa angústia.
Pela solicitude e benevolência do Grande Cuidado (por ser dotado de grandiosidade e amor, é o único que pode nos curar e remir da maldição dos pecados, além de apaziguar nosso sofrimento e nossas angústias mais secretas), continuamos relutantes em depositar uma confiança irrestrita no seu amor eterno; tamanha confiança é a oportunidade de estarmos acima do que nos mantém cativos, é onde a luz da eternidade, trazida pela palavra revelada, vem a ser até o fim nossa existência, a candeia que nos guia pelos caminhos sombrios e trevosos desse vasto mundo. As nossas angústias e o desamparo não só são amenizados, mas diante do altíssimo somos presenteados, de uma só vez, com serenidade de alma, amor e a liberdade que nos faz pairar acima de nossa mísera condição.