Etimologia da Língua Portuguesa nº57

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva nº57.

Cabaré veio do francês cabaret, casa de diversões,que inicialmente oferecia bebida comida e espetáculos artísticos.Já personagem teve origem no francês personnage, pessoa fictícia posta em ação numa obra dramática.

Cabaré: do francês cabaret, casa de diversões, que originalmente oferecia bebida, comida e espetáculos artísticos. Tornou-se o lugar preferido de sátiros e descambou para casa de prostituição, representada em filmes e telenovelas como lugar de festa e alegria, omitindo os dramas que levaram as mulheres a ser agenciadas por cafetinas. O Dicionário Houaiss dá o ano de 1936 como seu primeiro registro escrito em português, na revista Fon-Fon. A palavra teria chegado ao francês do árabe khâmarât. Aparece no título do romance A Santa do Cabaré, do jornalista Moacir Japiassu, que, de acordo com a irreverência e a verve habituais de seus textos, entretém e diverte o leitor com uma história bem escrita, que pode ser lida e entendida todos.

Expulsar: do latim expulsare, jogar fora, rejeitar, repelir. O verbo tem aparecido na imprensa dando conta de que o Partido dos Trabalhadores ( PT) vai expulsar a senadora Heloísa Helena e os deputados federais Luciana Genro e João Batista Babá. No passado expulsou ,os deputados federais e Bete Mendes e Airton Soares por terem votado em Tancredo Neves ( 1910 – 1985) e José Sarney no Colégio Eleitoral, respectivamente para presidente e vice-presidente. Hoje, as figuras que lideram a expulsão daqueles parlamentares e levaram a ex-prefeita de São Paulo Luíza Erundina a deixar o PT têm em José Sarney um de seus maiores aliados. Comentando a saída da prefeita, a professora Marilena Chauí declarou à revista Primeira Leitura: “ Erundina não decidiu sair.Ela foi expulsa. Essa é uma das coisas das quais eu não perdôo o PT. Ela é uma figura gigantesca sob todos os pontos de vista, politicamente, eticamente, socialmente, como história pessoal, como trabalho na cidade de São Paulo, como história de vida. Até o fim dos meus dias, eu não perdoarei o que o PT fez com ela.O fato de que isso pudesse acontecer com uma pessoa como ela indica que há traços autoritários, sim, no PT.”

Personagem: do francês personnage, pessoa fictícia posta em ação numa obra dramática. Derivou de personne, do latim persona ,máscara de ator. Para representar, na Grécia e em Roma, primitivos atores desenhavam expressões em pedaços de madeira que, no palco, punham diante do rosto. Quase sempre, os personagens de romances são pura ficção e não aludem explicitamente a ninguém. Mas vários personagens de A Santa do Cabaré levam nomes de figuras conhecidas, como Lenildo Tabosa Pessoa ,jornalista de posições políticas e conservadoras, e o presidente Ernesto Geisel, que no romance contrata um pistoleiro para dar lições de tiro a soldados da Paraíba. Em entrevista a André Nigri, que lhe perguntou se “ tratar pessoas conhecidas como personagens de ficção não cria problemas “ , o autor assim se expressou: “Se algum parente não entender e reclamar, posso fazer como Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), autor de um poema intitulado O Sátiro, que é assim: ‘ Hildebrando, insaciável comedor de galinha/Não as comia propriamente -- à mesa/ Possuía-as, como se possuem e se matam mulheres/ era mansueto e escrevente de cartório .’ “ Quando o poema saiu, em Lição de Coisas, um sujeito de Itabira (MG), chamado Hildebrando, escreveu ao poeta reclamando. Drummond respondeu: “ Retire-se do meu poema ! “ a Santa do Cabaré apresenta verdadeira redenção para nossas letras, constituindo-se em providencial antídoto a jovens escritores que, influenciados pela aridez dos cadernos literários ,podem cair no equívoco de achar que escrever bem é escrever difícil. Exatos 74 anos após a inauguração do Romance de 30 – que começa em 1928 -- , coube a um jornalista retomar os temas daquele importante movimento literário, espelhando temas e problemas em linguagem bem-humorada, mas sem ceder a gracinhas. Ao contrário, Japiassu faz ferramenta de fundas reflexões sobre a condição humana.

Sátiro: do grego saturos, pelo latim satyros, designando, na Grécia e em Roma, um semideus rústico ,de orelhas grandes e pontiagudas, nariz achatado, chifres pequenos, rabo e pernas de cabra. Era companheiro de farras de Dioniso, deus da sensualidade e do vinho. No Brasil e em Portugal, Sátiro era também sobrenome, de que é exemplo Ernani Aires Satyro e Sousa , mais conhecido como Ernani Satyro (1911 – 1986). Foi poeta, cronista, romancista e ensaísta. Também ministro do Supremo Tribunal Militar, era deputado federal quando a atriz Maria Fernanda o procurou para que a ajudasse a liberar na Censura Federal a peça Um Bonde Chamado Desejo, do americano Tennessee Williams (1911 – 1923 ). Segundo relata o jornalista Sílvio Porto (1923 – 1968), “ lá pelas tantas, a atriz deu um grito de “Viva a democracia! “ . e o deputado retrucou: ‘ insulto eu não tolero ‘ “ O episódio está registrado em Festival de Besteiras que Assola o País, série de livros que ele publicou sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta.

Deonisio da Silva, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo e escritor e autor de Guerreiros do Campo e A Vida Íntima das Palavras ( Siciliano ),entre outros 27 livros. E- mail: deonisio@terra.com.br

Revista Caras 2002.

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 03/12/2016
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