A CRISE - PARTE III
Morrer. Eu quero morrer. Estou cagando e andando se você está preocupado comigo. Pouco me importa a quantos dias estou sem fazer uma refeição. O meu prato predileto ou mais amargo gosto de fel não fazem a menor diferença para o meu paladar. As suas palavras de preocupação e carinho apenas me fazem querer desaparecer instantaneamente. Com você por perto eu tinha mais pena de mim. Eu não tinha a mínima empatia por mim mesmo.
Eu estava temporariamente afastado do único conforto que poderia me servir naquele momento, o do álcool, por prescrição médica e precisava dar os meus pulos. Lidar com a realidade estava ficando cada vez mais tortuoso e a ansiedade gerada pela expectativa dos efeitos dos medicamentos só aumentava.
Ali estava eu, sentado na varanda de casa pressionando um charuto por entre os lábios embora não fosse um hábito fumar seja lá o que fosse. Era uma maneira de ficar sozinho, longe de qualquer vigilância, já que ninguém estava disposto a ficar ali ao meu lado sob a companhia de baforadas de fumo fedorentas.
Naquele momento em meio a um turbilhão de emoções e pensamentos cada vez mais quebrados me vi como uma ilha, isolada e inacessível, mas que implorava, implicitamente, para ser descoberta por seja lá quem fosse. Eu precisava de ajuda, embora tivesse dificuldades para reconhecer isso. Talvez o meu orgulho seja a minha última morada. E talvez fosse hora de pôr fogo naquela casa.