TRANSPARÊNCIA NAS RELAÇÕES INTERSUBJETIVAS
A experiência mais gratificante que podemos ter na vida é fazer algo pelas pessoas sem esperar algo em troca, realizando ações pela própria responsabilidade que está implicada e implícita nelas.Pois quando não esperamos nada mais das pessoas, é que estamos em condições de viver com menos frustrações e mais libedade interior. Apenas esperamos que de tempos em tempos possamos encontrar nós mesmos um sentido último para a vida que vivemos.
O que pode amenizar nossa condição de seres limitados espaço- temporalmente, à medida que nos defrontamos, no cotidiano, com uma vida que é cheia de lutas e esforços incessantes? Uma alternativa possível é deixar de lado rancores e ressentimentos, cujo intento é se despir das velhas crenças ou superstições, de modo que a alma possa se sentir liberta dos grandes abalos provocados pelas vivências traumáticas e angustiantes.
Mas antes de qualquer ação, é importante que sejamos o habitáculo da graça, do amor e do espírito de Deus em nosso ser, criando alicerces fortes para o aprimoramento de laços salutares, vínculos que sejam de grande valor para a vida, onde não haja qualquer máscara ou disfarce para uma co-existência permeada de paz e benevolência.
O único fundamento que liga duas pessoas ao mesmo objetivo é o amor que se constrói entre elas por intermédio do respeito, da cumplicidade e de uma reciprocidade que não visa outra coisa senão o fato de uma pessoa existir na vida da outra.
É o dom gratuito do cuidado uma disposição que nos tira da zona do conformismo e da inércia para nos colocar diante de uma situação que exige engajamento, aptidão, coragem e resolução para superar as adversidades que emergem no caminho de todos aqueles que dedicam seu tempo semeando virtude na vida de quem necessita.
Esperar do mundo (como se a esperança se reduzisse a algo tão ínfimo!) reconhecimento, glória, fama ou valorização só nos mantém frustrados e amargurados, porquanto ficamos a mercê e do olhar do outro para nos sentirmos satisfeitos,além de nos mantermos vulneráveis ao abismo da mais nefasta fragilidade sentimental.
Porém, quem consegue corajosamente rasgar o espesso véu de ilusão que esconde o nosso verdadeiro ser, se libertando de um desejo mesquinho e interesseiro ao alçar voo de transcendência (para além de nossa condição de seres decadentes), consegue estabelecer uma outra maneira de se relacionar com a vida, com a natureza e com o mundo em que vive.
Por outro lado, quem consegue, de forma sincera e apaixonada, desenvolver a aptidão para a prática diária do cuidado, da amizade e da solidariedade, é capaz de se desvencilhar de pensamentos obssessivos ao direcionar todas as energias para atividades edificantes e restauradoras, ao mesmo tempo desenvolvendo de maneira mais saudável as potencialidades de seu ser, buscando estabelecer relações interpessoais que sejam movidas pela empatia e pela compaixão.
Vale ressaltar, que todas as práticas que envolvem alteridade e sabedoria (sendo esta composta por: discernimento, conhecimento e sensibilidade para não nos prendermos às grandes ilusões de nossa sociedade), exigem de nós maturidade emocional e firmeza de caráter, especialmente quando buscamos ser nós mesmos, seja por exemplo na recusa de nos mantermos submissos aos ídolos de nosso tempo (cronos), seja na adesão sábia às grandes oportunidades da vida (Kairós).E, se for necessário, para sermos realizados em nossas conquistas pessoais, até mesmo andar na contramão de uma sociedade altamente consumista e competitiva, para que, no fim das contas, possamos manter viva a chama triunfante da integridade pessoal.
Quando somos integros e sábios para não nos afundar no lodo dos enganos do mundo, temos condições de manter relações interpessoais duradouras, sendo transparentes com aqueles que estão ao nosso redor, pois não estamos criando vínculos para nos autopromover, ou até mesmo ganhar algum reconhecimento social, mas antes para criar uma comunhão profundamente verdadeira com aqueles que estimamos e compartilhamos os mesmos ideais temperados pela graça de Deus.
É na simplicidade e na transparência de uma relação, onde está implicado o compromisso de um ser para com o outro, que o espírito de Deus vem habitar de forma milagrosa e inusitada, pois não está presente qualquer jogo de interesse, nem mesmo qualquer ambivalência de sentimentos perversos distorcer um diálogo genuinamente autêntico. Pelo contrário, a honestidade de um olhar e de uma fala sincera, ou então a franqueza de gestos repletos de gratidão e preocupação apaixonada, prevalecem sobre tantas armadilhas provenientes desse mundo. Quando existe transparência nas relações intersubjetivas, não impera confusão e tampouco falta de comunicação, principalmente no elo daqueles que são guiados pelo caminho da justiça, porquando foram sábios em se manter nos braços acolhedores do altíssimo.