MULHER

Por Gecílio Pereira de Souza (geciliop@terra.com.br)

A terra é feminina, as nuvens são femininas, as estrelas são femininas, a chuva é feminina, a brisa é feminina, a poeira é feminina, a fumaça é feminina, a água é feminina, a natureza é feminina. A história....ah, essa nem de longe designa algum traço do gênero feminino. Ocorre que o termo história circunscreve a seu invólucro hermenêutico o designativo mais vital e admirável de todas as espécies, exatamente o feminino que, em regra, evolui para o clímax da plenitude humana, que é a genitoria. Os atos e os fatos que compõem o conteúdo da história têm investidura máscula, uma espécie de oratório varonil onde o culto ao varão é celebrado por meio da múltipla linguagem da cultura.

O amor e o sol são masculinos e, do ponto de vista metafórico, presidem o mundo, retrucariam os machistas. Mas eles não devem se esquecer que o amor se dilui na alma e essa, assim como a justiça, a dignidade e a magia de toda existência, são femininas. O amor se manifesta pela alma e esta, na sábia leveza da sua essência, extrapola o distintivo sexual, desconhece a intolerância de gênero e equipara os seres racionais. O sol designa a luz que encanta e guia a alma, numa metamorfose representativa e deflagradora do feminino, onde o gestar e o parir catapultam a mulher à suprema escala da espécie humana. Em contrapartida, o mal e o ódio que dele deriva, o medo, o autoritarismo e o preconceito, são essencialmente masculinos que não gestam nem parem, mas se movimentam na contramão do substrato da vida.

Na trama original da existência, lá pelos recônditos da formação do nosso ser, os papéis se invertem, pois da mulher o masculino em forma de óvulo (ovo), e do homem emerge o feminino em forma de sêmen (semente). Este fenômeno embriona-se numa impressionante trajetória que se imprime no feto, naquele particular e especial ambiente que se chama útero. Trata-se de mais um termo masculino, mas que retrata a incontestável e instigadora maternidade.

Mas a história omitiu o feminino e, com a sua silente omissão, reverenciou o masculino ao forjar um Deus másculo representante e protetor de todos os gêneros e espécies. Lançou-se as bases do autoritarismo religioso em que o culto ao Sumo, ao Divino, ao Eterno, ao Santo, ao Todo Poderoso, ao Senhor, ao Bom, ao Justo e Sábio, acorrentou e secundarizou o feminino. Se assim não fosse, teria registrado e brandido, com plena fidelidade, presença feminina, a sua marca, o seu sinal, as suas pegadas..... A história negligenciou o papel da mulher, subestimando o seu vigor e superestimando a sua “fraqueza”. Fez-se de cega para uma verdade incontestável: a de que, na fertilidade, você guarda paralelo com a terra; na mobilidade, se assemelha às nuvens; no brilho, concorre com as estrelas; na fecundidade, inspira-se na chuva; na suavidade, sugere a brisa; na complexidade, lembra a poeira; na arte de difundir perfume, se espalha como a fumaça; na vitalidade, seu símbolo é a água; na transformação (irrigação sanguínea) é a miniatura de toda a natureza.

Mensalmente você se renova, o vosso húmus é irrigado com a água rubra que se converte em vida. Ou, quando, inibido tal processo, se transforma em rebento, se faz gente e se traduz em humano. Por isso, mulher, o seu dia não é um. E nem deveriam dedicar-lhe um mês, um ano, um século.... O tributo mais elevado e valioso seria o reconhecimento do seu lugar, inscrevendo o seu nome definitivamente nos anais da história. Todavia a história se maqueia e, na sutileza de uma masculinidade omissa ou travestida de reverência ao feminino, potencializa a resistência dos seus pseudo-autores ao reconhecimento da relevância feminina na construção da própria história.

Mas, não obstante a velada subtração do seu espaço multidimensional, você se mantém inabalável e refratária às históricas agressões que a tornaram espezinhada, aviltada, tripudiada e moralmente rebaixada. Eis que ressurge, embalada pelo vigor do próprio sangue, nutrida pela substância da própria feminilidade, para anunciar aos quatro ventos que o mundo seria diferente se tivesse o nome de MULHER!!!!

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 27/11/2016
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