O DESPERTAR DO SER NA ANGÚSTIA
Desfazendo-se das ilusões geradas pela nossa cultura e das aspirações e vontades mais inquetantes de grande parcela dos homens, passamos a encarar a vida sob uma nova perspectiva e sob novos horizontes, atribuindo sentido a uma realidade que poucos valorizam, de modo que possamos viver a cada instante experiências sobrenaturais e de grande intensidade espiritual, sendo indispensáveis para transcendermos as circunstâncias banais em que vivemos.
Ainda que a angústia seja o primeiro passo para o pleno florescimento das potencialidades espirituais do ser, poucos estão dispostos a fazer renuncias na tomada de decisões que envolvam prudência, sensatez e bravura. Vivemos numa era (numa situação histórica onde nunca houve tanta infelicidade e doenças psíquicas!) em que grande parte das pessoas de nossa sociedade, com o intento ficarem aliviadas das insatisfações e das frustrações cotidianas, passam a vida tentando correr atrás de prazeres e satisfações imediatos, criando a ilusão de que o consumismo exacerbado de coisas que estão na moda podem ajudá-las de alguma maneira na superação de suas cisões e crises existenciais.
Segundo Bauman, ao abordar a problemática da insatisfação humana e do consumismo desenfreado em nossa sociedade, no seu livro intitulado A vida para o consumo, pedemos entender que: ‘’Sem a repetida frustração dos desejos, a demanda de consumo logo se esgotaria e a economia voltada para o consumismo ficaria sem combustível. (...) A sociedade de consumo prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus membros (e assim, em seus próprios termos, a infelicidade deles)’’.
Muitos, ao se evadirem da vertigem que a angústia provoca em seu ser, sucumbem ao vício e a obssessão consumista, na ãnsia exagerada de prazeres fugazes, nutrindo a esperança infrutífera de que podem encontrar uma felicidade instantânea realizando algo que traga status, fama ou simplesmente algum reconhecimento social.
Jung já dizia de forma bélissima que não há despertar de consciência sem dor e para sermos pessoas de luz requer antes de qualquer coisa que clareamos a escuridão de nosso ser. De fato, se buscamos desenvolver a aptidão para a virtude, precisamos nos policiar de nossos erros ao iluminar os recintos mais escuros de nossa alma. Essa é, sem dúvida, uma empreitada que demandará sempre muito refinamento e humildade para amadurecer as nossas potencialidades latentes.
Heidegger, um dos maiores pensadores do século XX, na obra Magna ‘’Ser e Tempo, já dizia que: ‘’A angústia é a disposição fundamental que nos coloca perante o nada"; e Soren Kierkeggard, no livro ‘’Conceito de Angústia’’, ao abordar sobre a angústia que as escolhas humanas geram, disse: ‘’Escolhemos porque percebemos existir possibilidades. Muitas delas podem excluir-se mutuamente, então, não há escolha que não seja angustiante.’’ A partir dessas ideias, percebemos que o primeiro passo para a descoberta de si mesmo e das verdades que dizem respeito a cada um de nós individualmente, ou então para a missão e para o propósito de cada ser humano, é a sensação da angústia diante frente ao nada e as inúmeras possibilidades de ser no mundo que precisamos escolher no decorrer da vida.
E Para dizer com franqueza, sem as sintomáticas palpitações da angústia nos momentos mais silenciosos e solitários, ou então sem a dor taciturna que nos faz crescer em sabedoria e profunda espiritualidade, não saberemos manifestar esperança numa realidade que transcende o tempo, tampouco nos alegraremos com as boas novas do evangelho em toda sua sapiência.
Buscando um amparo no horizonte da revelação irradiada pelo filho de Deus, somos capazes de vislumbrar em espírito uma nova realidade para vivermos. De agora em diante, nada se torna mais confortador do que sonharmos com uma vida banhada de liberdade, amor e felicidade perenal sob a direção da palavra redentora de Deus.
Pois, de fato, é pela angústia que descobrimos a verdades essenciais da vida, além de desmascararmos com consciência as opressões desse mundo cheio de enganadores e falsos profetas. Na angústia, descobrimos outras maneiras possíveis de ser; e, sem qualquer apego ao que outrora estávamos habituados, sem qualquer comodidade e falsa segurança, renovamos nossa vida em busca de um significado que oriente nossa existência.
Mas para que possamos descobrir essas verdades essenciais, precisamos muitas vezes fazer renuncias radicais durante nossa jornada existencial, sem falar que temos ao nosso alcance a liberdade de escolha enquanto condição para sermos pessoais mais responsáveis pelas nossas vidas. Sem angústias profundas, não conseguimos ir longe, tampouco saberemos edificar nossas almas através de conteúdos resplandescentes de verdade e de sabedoria.
Quando temos em vista as promessas perenes e inauditas que provém das boas novas do verdadeiro evangelho de Cristo, e buscamos encontrar significados eternos para nossas vidas, ao invés de significados relativos e provisórios, encontramos milagrosamente uma riqueza que não se compra nesse mundo, uma riqueza procedente da graça e do amor infindo de Deus. Sentindo o derramar das belas dádivas em nosso ser, ficamos adornamos com vestes de leveza, de alegria e de serenidade nunca antes sonhado (...) todavia sem esperar qualquer riqueza material comprada com nosso orgulho, uma vez que o único sonho louvável, para os que vivem da honestidade e da transparência, é com a dádiva preciosa da vida eterna!
No que diz respeito as dádivas e as virtudes espirituais (longanimidade, benevolência, reverência, amor, compaixão, caridade, retidão, coragem e justiça), as que podem enriquecer o coração do homem e selar o seu destino, nem o tempo, nem os vermes, nem os ladões e nem tampouco o sistema em que estamos inseridos, farão perecer e esgotar de nosso ser, pois já está escrito que o que é de Deus e do seu filho, enfim prevalecerá!
E como Já dizia o Pai Eterno no coração de seus fiéis: ''Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor'' (Rom 8:39).E, para concluir essa explanação, há um versículo no qual Jesus deixa evidente o que é mais essencial e urgente para o homem viver em liberdade: ''nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede de Deus''(Lucas 4:4).