O imperativo categórico
Assis Silva
“Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre novas e crescentes, quanto mais frequentemente e com maior assiduidade delas se ocupa a reflexão: o céu estrelado sobre de mim e a lei moral em mim”.
Immanuel Kant
Quase sempre estamos fazendo julgamentos acerca das ações, dizendo que é boa ou má. Porém, cabe perguntar: qual o critério que se usa para dizer que uma ação é má e outra boa? (Ou melhor, moral ou imoral). Definir um critério de moralidade não é fácil e muitos já tentaram, configura-se um dos grandes desafios para quem trabalha ou estuda essa área.
O filosofo Kant em sua obra Fundamentação da metafisica dos costumes tem esse objetivo, buscar e identificar o princípio supremo da moralidade. Para John Rawls, embora este livro não dê uma visão geral da filosofia moral de Kant, “proporciona uma consideração analítica razoavelmente completa da lei moral”.
Filho do iluminismo, Kant pensava que o princípio da moralidade devia ser ordenado pela razão. Faz-se necessário ressaltar que a filosofia moral de Kant está ligada com a sua teoria do conhecimento. Na Crítica da razão pura, tratou sobre a questão do conhecimento, e propôs responder, o que podemos conhecer, demostrando quais as possibilidades do conhecimento. Na sua filosofia moral procura demostrar como a razão pura pode ser prática. Uma das grandes críticas de Kant em relação à questão do conhecimento de seu tempo é que as condições do conhecimento eram postas no objeto, e não no sujeito conhecedor. Ele insiste muito na questão do a priori das leis da ciência e o a priori só é possível no sujeito conhecedor e não nos objetos. O a priori nas ciências significa que algo deva ser dado antes do objeto do conhecimento ou no caso da moral antes das ações. Thadeu Weber diz que “o paralelismo entre a Crítica da razão pura e a Crítica da razão pratica indica que, se a razão determina a priori as condições de possibilidade do conhecimento, deve também determinar a priori a vontade dos sujeitos, através do imperativo categórico, para que seus atos tenham valor moral”. Na Crítica da razão pura, ele diz que a razão só compreende o que ela mesma produz segundo seu projeto, assim também é na Crítica da razão prática a razão só compreende as leis que ela mesma se dá.
E aqui entra dois conceitos importantes, vontade e autonomia. A vontade tem que ser autônoma. O que é uma vontade autônoma? É aquela na qual ela mesma se dá a lei. Segundo Kant, o princípio da autonomia é: “não escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal”. A moralidade não deve ser tirada da experiência, nem da sensibilidade. Por exemplo, não devo agir por medo de ser punido ou por ter tido uma promessa de elogios. Quando falamos de moralidade, não falamos daquilo que vemos, mas do que não vemos.
Pois bem, a razão deve ordenar a ação, e aqui entra outra questão, que é o dever. Devemos agir por dever, e não conforme o dever. Pensemos no seguinte princípio ordenado pela razão: devemos preservar a vida. Uma pessoa que por uma série de desgraças vê que lhe é muito mais vantajoso se matar do que continuar vivendo. Suponhamos que baseado no princípio de preservar a vida ela não se mata, foi por dever que ela não se matou, porque lhe seria bem mais confortável para ela, se tivesse se matado. E essa sua ação foi uma ação moral.
Kant elenca dois princípios, um que é hipotético e outro que é categórico. Enquanto que o hipotético uma ação é boa com intenção de se conseguir outra coisa, o categórico a ação é boa em si mesma e é ordenado pela razão. O hipotético não tem valor moral, enquanto que o categórico tem. Kant coloca o imperativo categórico como princípio (critério) supremo da moralidade que consiste em: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”.
Quando formos agir (antes conscientemente _ consciência é um termo importante para a moral) devemos perguntar se nós gostaríamos que todos agissem assim. Se por um acaso nos consideramos que seria legal se todos agissem assim como nós estamos agindo, (o imperativo categórico deve ter valor universal, ou seja, todos os seres racionais devem aceita-los) então nossa ação seria uma boa ação e teria valor moral. O motivo a ação deve ser puro e deve ter sido ordenado pela razão. A moralidade não deve ser derivada da antropologia, nem da teologia e é da extrema importância uma metafisica dos costumes que não tenha nada de antropologia. E o que tudo indica o imperativo categórico tem essas características. O imperativo deve vir da razão e não do sentimento.