Por que as fêmeas humanas têm uma posição subalterna em todas as sociedades?

Penso que leões agem como leões, leoas como leoas. Bodes agem como bodes, cabras como cabras, e, do mesmo modo, todos os outros animais, machos e fêmeas. Penso que isso pode ser afirmado sem medo de errar.

Nosso modo de ver o mundo, no entanto, estabelece que a maioria dos machos do mundo animal age de modo dominante, enquanto a maioria das fêmeas, sob nosso modo de ver, é tida como subjugada pelos machos. Muitas fêmeas mantêm-se distantes de machos, evitando assim, aos nossos olhos, qualquer relação de poder com eles. Umas poucas fêmeas são vistas por nós como dominantes; é o caso, por exemplo, da hiena, maior e mais forte que o macho da espécie.

Penso que, do nosso ponto de vista, o papel dos machos humanos é visto como dominante, o das fêmeas humanas, as mulheres, como subalterno. Penso ser esse o ponto de vista de nossa sociedade atual, outras talvez não considerassem o fenômeno do mesmo modo. Pessoas de outras sociedades podem considerar, por ex., que os machos ajam governados pelas fêmeas, sob encantamento.

Machos humanos são consideravelmente maiores que as fêmeas. Isso decorre do sistema de acasalamento da espécie, sugere a presença de haréns. Em muitas espécies, machos lutam pelas fêmeas, que se reúnem em bandos enquanto torcem e aguardam os machos vencedores. Machos grandes tendem a vencer as lutas, ficar com as fêmeas e gerar descendentes igualmente grandes. Machos pequenos tendem a perder as lutas, sendo desprezados pelas fêmeas, e não se reproduzindo. Em sistemas assim, determinados conjuntamente por machos e fêmeas, os machos são maiores que as fêmeas. Grandes haréns, como os dos leões marinhos, produzem machos imensos, e os vemos como dominantes.

Outras espécies se associam aos casais. Nessas, machos e fêmeas tendem a ter o mesmo tamanho, o melhor para a sobrevivência.

Nossas sociedades se originaram dessa matriz comum, de machos e fêmeas com predileções específicas e pré-determinadas. Nossa espécie é extremamente plástica e capaz de imensas variações no modo de vida, mesmo assim, certos atavismos se revelam marcantes. Atletas, cantores e atores possuem, hoje, haréns imensos, produzindo, alguns deles, centenas de descendentes. Fêmeas humanas preferem machos maiores e agressivos, potencialmente mais capazes de vencer lutas. Os machos preferidos pelas fêmeas humanas (para a cópula) têm essas características, são grandes e agressivos, tendendo a exercer papéis definidos como dominantes. Em contraste, as fêmeas tendem a assumir o papel passivo, subalterno. Penso serem essas, as linhas gerais da dinâmica que governa as relações humanas de acasalamento.

Em espécies muito agressivas, como a maioria dos felinos, por ex., as fêmeas tendem a repelir os machos, mesmo quando no cio, forçando-os a um embate, a uma luta. Em tais espécies, as fêmeas só se entregarão a machos capazes de as subjugar em uma luta. Tal predileção molda o comportamento da espécie, tornando-a especialmente agressiva.

Apesar de definida por um conjunto de comportamentos usuais, a espécie humana apresenta um vastíssimo espectro de variações, mais ainda após o aumento populacional humano recente, fator causador de relaxamento de seleção, favorecendo a diversidade de tipos. É possível que influências culturais possam amenizar a maioria desses atavismos, apesar disso, somos governados, fundamentalmente, por nossas preferências específicas, sendo essa a força central delineadora de cada espécie, entre as que se reproduzem sexualmente.

De um modo, ou outro, somos o fruto da preferência de nossas mãe, avós e todas as outras ancestrais. Aquilo que somos, foi determinados por elas, por suas escolhas, dadas por suas preferências. As preferências dos machos também têm um papel significativo no que somos; a preponderância evolutiva, no entanto, é das fêmeas. Sob o ponto de vista biológico, ao contrário de pontos de vista sociais, políticos, religiosos e outros, as fêmeas possuem papel preponderante na evolução e na conformação do que somos. Somos o que somos, fundamentalmente, porque esse é o desejo de nossas fêmeas.

Desse modo, a posição das fêmeas em nossa sociedade é, fundamentalmente, fruto das escolhas das fêmeas, sendo esse o resultado de suas preferências (talvez por adorarem machos agressivos). Nossa visão atual sobre o tema, nosso ponto de vista que postula a dominância do macho, corresponde a uma visão cultural; outras culturas não veriam dominação entre nossos papéis masculinos e femininos, ou talvez postulassem a dominação inversa neles. A dominância biológica é sempre das fêmeas; machos, quando existentes, são apenas acessórios.