A dúvida
O velho cientista Emerson estava na cadeira de rodas na sua varanda, considerado um dos cientistas do século, parecia que entendia o universo como ninguém, inteligência acima da média, mas teimoso como uma mula no seu radicalismo em ser ateu. Dava a impressão de que ele jamais imploraria aos céus um alívio para os seus males: uma intensa atrofia em todos seus membros, uma doença terrível. Ao olhar o céu seus pensamentos voavam, aliás sempre foi um pensador. A tarde já tinha dado lugar para a noite que mostrava um magnífico céu recheado de estrelas.
Emerson olhava e analisava o extenso e belo universo. Só que no cérebro do enigmático cientista não sentia aquela maravilhosa existência das coisas criadas. Formulava equações infinitamente difíceis para um ser humano normal. pensava e até falava para ele ou até mesmo se tivesse um mortal por perto escutaria as barbaridades:
Criador!... Como esta imensidão de coisas foram criadas por esse tal de Deus?
- veja só, o filho desse Deus nascer, viver e morrer neste minúsculo insignificante planeta que nada mais é do que menos de um grão de areia em relação ao universo.
--- Criador!... como esta imensidão de coisas foram criadas por esse tal de Deus?
--- Absurdo falar que Jesus é o filho desse Deus, nascer, viver e morrer aqui?!...
--- Seres escolhidos pelo Criador! Pois nossa existência tudo baseado em fracassos, por mais que evoluirmos estaremos cavando a nossa destruição...
Uma névoa nefasta parecia estar em volta do excêntrico homem que dominava o conhecimento da ciência, mas completamente isento das coisas espirituais. O sobrenatural para ele era um absurdo inconcebível. Seu íntimo enchia de rancor quando lembrava da época que era professor universitário. Numa aula em que falava do poder da ciência sobrepondo até na crença do poder de Deus. Exemplificou os feitos dos cientistas em poder até criarem seres vivos em laboratório sem a interferência do ser Criador. Um de seus alunos o interpelara dizendo:
--- Professor, a ciência só conseguirá criar esses seres vivos em laboratório se usar os materiais já existentes!...
A discussão foi tremenda nesse dia na sala de aula, tanto com o professor cientista com o aluno e os demais alunos, uns apoiavam e aplaudiam o aluno que contrariou o “magno” mestre, outros apoiavam fielmente o professor. No final a maioria estrondosa foi do lado que defendia o poder de Deus...
Envolto nessas lembranças talvez fizesse com que as dores aumentassem assustadoramente, ele não conseguia espantar o ódio ainda latente do ocorrido que pra ele era desastroso. Então as dores em todos os membros faziam com que ficassem cada vez mais retorcidos. Na sua privilegiada mente os cálculos milimétricos demonstravam a impossibilidade dele ser curado ou simplesmente ser aliviado de todo sofrimento. A morte aproximava passo a passo.
Morte!... Esta palavra martelava na sua mente. Ele em sua vida tinha pensado pouco nessa possibilidade de morrer. Não teve jeito, a morte ia aproximando do grande cientista. No seu leito completamente imóvel pensou na possibilidade de alguns seus colegas cientistas estarem certos, principalmente os estudiosos da mecânica quântica e também a física quântica. Alguns dados na realidade fogem da realidade natural das coisas, e se a morte realmente seja uma passagem... se o amor entre as pessoas seja realmente o mais importante de tudo, sendo que se existir mesmo Deus ele realmente fez seu filho nascer mesmo aqui?
Emerson ainda continuava pensando em seu leito de morte, baseando nisso tudo dito como mistério, nem ele ou qualquer homem se conseguisse usar todo o cérebro não poderia entender. Agora o estranho disso tudo é que seria mais fácil as pessoas humildes supostamente ignorantes é que entenderiam e ao mesmo tempo felizes pelas esperanças vindouras. Ele faz as perguntas que lhe surgiram por um instante:
-- Será que é por isso que sempre fui infeliz?!
-- E se os seres humanos forem mesmo os seres especiais, com seus cérebros, um órgão extremamente importante e além disso possuir mesmo uma alma, ela seria imortal, então a morte não seria o fim, mas apenas uma passagem?
E parecendo que não existisse tempo, depois destas analises todas, o grande cientista morre.