REFLEXÕES SOBRE POLÍTICA E EDUCAÇÃO

Pagamos um alto preço com a falta de investimento em educação no nosso país. O resultado não podia ser mais lamentável e desesperançoso: falta de cultura, de conhecimento e de senso crítico de uma enorme parcela da população.

Um povo que prefere deixar os seus direitos de lado para viver uma existência medíocre e sem conhecimento da própria condição, se torna vítima dos descasos e da corrupção que se espalha diariamente por todo o território nacional; em muitos casos sem encontrar sentido para o total absurdo em que está submetido desde a infância.

O conformismo de todos os dias, a ignorância cotidiana, os preconceitos mais enraizados, a falsa necessidade de ''ser aceito'', a prostituição dos talentos, a mesquinhez de todos os dias, são sintomas de nossa nação impregnada pela fraude e pelo escândalo.

A história do povo brasileiro mostra que a miséria na qual esteve submetido há muito tempo, ou melhor, desde quando foi colonizado, continua assombrando os quatro cantos de nosso pais através dos frutos da ganância, da ''malandragem'' e da prostituição, estando a educação cada vez mais prejudicada pelo descaso generalizado.

E quem sofre com toda essa situação? Os jovens, principalmente; afinal são eles quem, no fim das contas, arcam com as consequências desastrosas ao viverem sem qualquer acesso ao conhecimento de qualidade e desprovidos de um amparo que poderia ser dado pelo governo brasileiro.

O que pode ser mais desesperador em nosso pais do que ver jovens sem qualquer sensibilidade e amor pelo próximo e também desprovidos de qualquer senso crítico para quebrar as muralhas da própria miséria moral? O que pode ser mais assombroso do que presenciar inúmeros jovens embriagados pela violência, pelas drogas, pelos vícios e por uma total falta de perspectiva, impelindo-os precocemente à criminalidade?

Pois só temos condições de refletir e de criar novas possibilidades de vida, se temos acesso ao conhecimento disseminado pelos grandes pensadores, artísticas, cientístas e, especialmente, por aqueles homens de grande sabedoria; do contrário, nos afogamos na tirânia do senso comum, na falsa certeza dos soberbos e nos velhos estereótipos culturais que impedem a libertação dos homens rumo a autorrealização.

Além do mais, só conseguimos mudar as nossas vidas se tivermos consciência do que estamos fazendo com nós mesmos, tendo sabedoria para nos posicionarmos frente a essa situação histórica em que o nosso país enfrenta.

Enquanto isso (ao fomentarem manobras para que as massas fiquem corrompidas e adoecidas no total embrutecimento do espírito), os nossos políticos, até mesmo aqueles que lutaram tão energicamente contra os nossos ditadores em tempos memoráveis, exploram cinica e desumanamente a miséria do povo, proporcionando uma educação precária: insuficiente para formar pessoas capazes de perceber a realidade por um outro viés.

Em dias de eleição uma bagunça generalizada se espalha pela cidade, quando o que está em jogo é a candidatura de homens corruptos.A consequência disso não podia ser mais detestável: milhares de pessoas trabalhando desesperadamente para homens oportunistas, espertos o suficiente para subir no poder às custas da incapacidade e da "insignificância" de muitos.A recompensa recebida pelos que trabalham para os abutres do poder, nesses dias quase apocalípticos, não paga a ignorância a qual foram voluntariamente submetidos desde a infância, quando foram desestimuladas a ler e a escrever; a refletir e a amar ao próximo.

Durante muito tempo a educação foi tratada como um instrumento de disciplina e de coação, em vez de ser disseminada com o objetivo de estimular os voos da autonomia e da liberdade; muitos viam nela uma forma de domesticar a massa através de um discurso ideológico bem aprimorado, ''uma mentira que, contada inúmeras vezes, se transforma em verdade para as massas''.Nos dias de hoje, a escola não auxilia os alunos a se expressarem e, tampouco, a refletirem sobre os assuntos mais pertinentes de nosso tempo; prefere, ao contrário, prepará-los para a concorrência desenfreada no mercado de trabalho.

É como se fossemos um produto vendido em estabelecimentos: cada um tem o seu preço determinado, um valor estipulado pelo mercado da oferta e da procura que exige que todos os homens sejam "felizes" e "bem sucedidos". Em contrapartida, aqueles que estão à margem desse processo, são logo tratados como engrenagens descartáveis e sem qualquer utilidade, obsoletos ao sistema falido e decadente. A objetificação do ser humano tomou conta de todas as esferas sociais, chegando a ser tratado como ''funcionário'', seja na esfera pública, seja na esfera privada. Mas se por acaso um aluno começar a pensar um pouco diferente da grande maioria de seus colegas é logo desprezado, quando não é vitima de humilhações sem limite, o que não passa de um grande absurdo.

E o que dizer daqueles que denunciam a corrupção de forma sincera e apaixonada? Correm o risco de desaparecerem caso se tornem uma ameaça ao andamento das trapaças e das fraudulências, tão frequentes em nossa nação! Com isso, não há benefício algum para quem tenta levantar a bandeira de uma educação libertária e engajadora, pois poucos a levam a sério realmente tal empreitada.Mesmo assim, é louvável e continua sendo, não importa o contexto em que vivemos, que haja um espírito que insista em clarear -através do conhecimento, do ensino e da sabedoria- essa floresta de pedra tão escura e sem vida, essa floresta desolada chamada sociedade pós-moderna!

Uma educação libertária ainda é requisito básico para formar pessoas com grandeza de espírito,para formar seres humanos cuja meta é encarar a vida de maneira mais apaixonada, com necessidade de disseminar o amor e a caridade àqueles que necessitam. Ao contrário daquela forma apática e descompromissada, sem qualquer respeito pela condição dos demais seres, é importante que a consciência do respeito mútuo e da solidariedade seja cada vez mais valorizada por cada um de nós.

Defendo uma educação libertária não no sentido de ensinar as pessoas a fazerem o que bem entender, e sim como um instrumento que dê condições de pensarmos criticamente os problemas de nosso tempo e da situação a qual estão submetidas muitas pessoas, pois muitas ainda vivem desprovidas de uma vida digna, chegando muitas vezes a não terem sequer forças para interiorizarem sentimentos em profundidade e, o que é mais grave, impossibilitadas para irradiarem tamanha nobreza pelo mundo afora.

O protesto pacífico nos moldes de Ganghi, ainda hoje é a luta mais inteligente e saudável para quem busca se engajar num projeto de mudança social; mas infelizmente, muitos precisam morrer para nos darmos conta de que só disseminando a luz do amor é que podemos reacender lamparinas de esperança e de virtude sobre o mundo em que vivemos, contribuindo para afugentar as trevas que a nossa sociedade em colapso entrou...Francamente, não há outro caminho para escaparmos desse impasse! E ainda que seja uma pequena faísca de humanidade em meio às densas trevas de nossa fria modernidade, não deixa de ser uma pequena e tênue contribuição capaz de reavivar a esperança das almas mais sensíveis, inconformadas e que ainda vivem com senso de justiça.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 09/11/2016
Reeditado em 09/11/2016
Código do texto: T5817717
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