Meu 4º texto mais lido - (1770 leituras)
O sentido das coisas
Um esboço de ensaio - (17/02/2009)
O sentido das coisas não se perde de repente, o sentido das coisas vai se perdendo aos poucos, de maneira insidiosa. As coisas vão perdendo sabor, até que a língua não sinta mais nada. As coisas vão perdendo forma, até a invisibilidade feita de nadas intocáveis. As coisas, sem cheiro. As coisas, sem saber nenhum. De tudo, restam os pensamentos, o olfato, o tato, a visão, o paladar sem objetos reais. Restam os nadas, sem saber, cheiro, forma, cor, sabor.
O sentido da coisas não se perde nunca. O sentido das coisas permanece, quando nós perdemos o sentido das coisas. Permanece, nos outros; em cada outro, outro sentido de cada coisa, sentido alheio desde sempre e para sempre ao nosso paladar, à nossa visão, ao nosso tato, ao nosso olfato, ao nosso pensamento. Por isso, não há palavra nem silêncio nosso que permitam ao outro alcançar o sentido das coisas em nós. Por isso, não há silêncio nem palavra que permitam ao outro fazer-nos recuperar o sentido das coisas, através do sentido das coisas que permanece nele, no outro. Também nada cala nem fala ao outro, da nossa fala ou mudez, quando esse outro nos tenta comunicar a perda do sentido das coisas em si próprio, a sua própria perda do sentido das coisas.
Quando o outro nos diz que perdeu o sentido das coisas, nós tentamos compreender tal perda a partir do único referencial que temos: o modo como o sentido das coisas se articula em nós, se não o perdemos; como se articulou, se já não o temos. Este modo de articulação, se ainda em nós, não nos permite, a não ser através de analogias precaríssimas, apreender a real natureza da perda do sentido das coisas no outro. Se já não temos o nosso próprio sentido das coisas, não nos sendo possível reconstitui-lo, nem pelos órgãos dos sentidos, nem pelo pensamento, a tarefa de sintonizar,minimamente que seja, com a natureza da perda do sentido das coisas no outro, tal tarefa se torna absolutamente impossível.
Quando o sentido das coisas se perdeu em nós e o sentido das coisas se perdeu no outro, sendo esse outro um próximo demasiadamene próximo, nos dói infinitamente mais a perda do sentido das coisas neste outro do que a perda do sentido das coisas em nós próprios. E, mais ainda do que a dor da partilha da perda do sentido das coisas neste próximo-amado, dói-nos não nos ser possível devolver-lhe, a este amado, o seu próprio-perdido sentido das coisas, muito menos doar-lhe o nosso também pretérito sentido das coisas, que já não nos pertence mais.
O sentido das coisas é preciso? Por que e para quê precisam as coisas de sentido? Por nós? Para nós? O segredo, que não existe, talvez seja apenas ficarmos com as coisas, entre as coisas, apenas sendo e existindo com elas, como apregoava Alberto Caeiro. Sem sentido nenhum.
Texto escrito nos dias 16 e 17 de fevereiro de 2009.
O sentido da coisas não se perde nunca. O sentido das coisas permanece, quando nós perdemos o sentido das coisas. Permanece, nos outros; em cada outro, outro sentido de cada coisa, sentido alheio desde sempre e para sempre ao nosso paladar, à nossa visão, ao nosso tato, ao nosso olfato, ao nosso pensamento. Por isso, não há palavra nem silêncio nosso que permitam ao outro alcançar o sentido das coisas em nós. Por isso, não há silêncio nem palavra que permitam ao outro fazer-nos recuperar o sentido das coisas, através do sentido das coisas que permanece nele, no outro. Também nada cala nem fala ao outro, da nossa fala ou mudez, quando esse outro nos tenta comunicar a perda do sentido das coisas em si próprio, a sua própria perda do sentido das coisas.
Quando o outro nos diz que perdeu o sentido das coisas, nós tentamos compreender tal perda a partir do único referencial que temos: o modo como o sentido das coisas se articula em nós, se não o perdemos; como se articulou, se já não o temos. Este modo de articulação, se ainda em nós, não nos permite, a não ser através de analogias precaríssimas, apreender a real natureza da perda do sentido das coisas no outro. Se já não temos o nosso próprio sentido das coisas, não nos sendo possível reconstitui-lo, nem pelos órgãos dos sentidos, nem pelo pensamento, a tarefa de sintonizar,minimamente que seja, com a natureza da perda do sentido das coisas no outro, tal tarefa se torna absolutamente impossível.
Quando o sentido das coisas se perdeu em nós e o sentido das coisas se perdeu no outro, sendo esse outro um próximo demasiadamene próximo, nos dói infinitamente mais a perda do sentido das coisas neste outro do que a perda do sentido das coisas em nós próprios. E, mais ainda do que a dor da partilha da perda do sentido das coisas neste próximo-amado, dói-nos não nos ser possível devolver-lhe, a este amado, o seu próprio-perdido sentido das coisas, muito menos doar-lhe o nosso também pretérito sentido das coisas, que já não nos pertence mais.
O sentido das coisas é preciso? Por que e para quê precisam as coisas de sentido? Por nós? Para nós? O segredo, que não existe, talvez seja apenas ficarmos com as coisas, entre as coisas, apenas sendo e existindo com elas, como apregoava Alberto Caeiro. Sem sentido nenhum.
Texto escrito nos dias 16 e 17 de fevereiro de 2009.