POR QUE TEUS AMIGOS TE ABANDONAM?

POR QUE TEUS AMIGOS TE ABANDONAM?

Reflexões sobre relações humanas

Por ANTONIO F. BISPO*

Quem nunca viu em redes sociais, ou ouviu em rodas de conversas algumas frases feitas sobre amizades desfeitas, cujas falas parecem englobar toda uma verdade de vida em apenas uma citação? Frases do tipo: “se te deixou por que não era teu amigo”, faz com que uma pessoa carente pela falta de atenção seja levada a crer que aquela é uma citação que encerra um paradigma. Seria cômico se não fosse trágico.

Vamos analisar esse tipo de pensamento tendo o ponto central de partida a questão que envolve todo tipo de relação humana: AS PESSOAS QUANDO NÃO ESTÃO BUSCANDO PRAZER, ESTAO FUGINDO DA DOR. Sempre assim, você pode comparar, extrair, refletir, mas sempre irá chegar nesses dois pontos de partida. Fica mais fácil entender as relações a partir desse ponto, e depois entender que às vezes as pessoas querem apenas se abrigar em ti ou extrair algo de ti, ou as duas coisas juntas, e quando uma coisa ou outra não der certo, as pessoas perdem o interesse em nós, ou nós pelos outros. Lembrando que não estou aqui condenando ou endeusando essas ações, até por que todos funcionam em torno disso, apenas intento ajudar a entende tais ações para sair da auto tortura e procurar um equilíbrio pessoal.

Super normal e prazeroso desfrutar da companhia de pessoas que gostamos. Super normal e comum evitar pessoas que só nos causam dor e desprazer. Basta só entender quando uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, quando algo parece ser o que não é.

Após analisado esse ponto, partimos para outro de suma importância. A IDÉIA DE POSSE. Relações costumam serem desfeitas devido a esse sentimento oculto, quase nunca percebido. Quando não estamos querendo possuir o outro, o outro pode querer estar nos possuindo. Nem sempre possuir no sentido literal, mas na tomada de decisões, influencias e decisões sobre quantas outras pessoas mais podem ou não se relacionar conosco. Isso também estar oculto na premissa acima, ou seja, a idéia de posse também é uma das maneiras que achamos para fugir da dor ou buscar prazer.

Geralmente atraímos, ou somo atraídos para pessoas que pensam, agem, ou tem gostos semelhantes aos nossos. Esta relação estará bem, até que uma das partes procure evoluir, ou passe a regredir. A famosa lei da atração diz que semelhantes atrai semelhantes. Ninguém gosta de estar em companhia de quem vive discordando de si o tempo inteiro. Por isso criamos grupos, sejam eles políticos, religiosos ou filosóficos, a fim de manter ao nosso lado o maior numero possível de pessoas que compartilhem nosso ideal. Isso nos faz bem e gostamos de estar com tais pessoas.

Tomemos por exemplo um casal de namorados: os dois têm pontos em comuns, se gostam, casam, tem filhos e vivem mais ou menos bem. De repente, um dos conjugues entra numa escola superior, faz vários cursos, passa a conhecer gente diferente, aprende coisas diferentes, se torna cada vez mais culto e racional e objetivo, enquanto o outro conjugue, para no tempo e no espaço, não apenas pelo fato de não querer estudar ou aprender coisas novas, mas pelo fato de esse outro conjugue passar a desenvolver interesses medíocres e doentios, cujo único assunto e tema de pesquisa diária é a vida alheia. Esta pessoa se tornou perita em escarafunchar, pesquisar, e falar da vida alheia como ninguém e nesse nível de mentalidade, encontrou outras pessoas do tipo. Sabem de todo e qualquer segredinho que rola na cidade. Sabem quem traiu, quem foi traído, quem roubou, quem deixou de roubar, quem é amante de quem, quem estar saindo com quem, quem foi a filha de fulano que perdeu a virgindade, quem será o futuro contemplado na cidade com um par de chifres...Informações lixo. Informações que para nada servem. Informações que no futuro só vai ocasionar vários desconfortos para si próprio e para outros. Percebes o caminho em que ambos estão andando? Enquanto um “queima os miolos” procurando soluções praticas para problemas pessoais e sociais, o outro esquenta a língua falando da vida dos outros. Impossível um matrimônio de esse tipo ficar de pé. Isso vale para amizades também. Quando amigos começam a seguir pensamentos diferentes, logicamente seus rumos serão diferentes, e essa amizade não precisa virar inimizade, apenas não encontrarão entre si mais motivos para andarem juntos. Coisa super normal. Um se render ao outro apenas para salvar a própria amizade, pode estar matando a si próprio, principalmente se a causa for vã, como usar ou não um brinco, fazer ou não uma tatuagem, ir ou não a uma igreja, tomar ou não uma cerveja...Há coisas mais importantes pelas quais lutar, se for pra lutar.

Quem também nunca ouviu a célebre frase: as pessoas gostarão de você até o dia em que puderem extrair algo de você, depois disso sua “amizade” será desnecessária. Isso é verdade. Não se sinta culpado por isso, afinal ninguém tem uma bola de cristal pra saber o que se passa na cabeça dos outros. Mas o contrário dessa frase também é verdadeiro: algumas pessoas só gostarão de você, até o dia em que você precisar delas, no dia em que você for independente, elas poderão sentir raiva de você.

Estranho não é? Do mesmo modo em que existem pessoas que gostam de ti apenas por que podem extrair algo de ti, seja atenção, serviço voluntário, dinheiro, influência sobre outros, e status social por esta ao seu lado, e quando você cortar esse fornecimento, elas cortam essa “amizade”, também haverá aqueles que querem e desejam te dar algo, como dinheiro e conselhos, atenção e conselhos, influencia e conselhos, meter o dedo em sua vida e conselhos, conselhos, tudo isso por quem tem prazer em achar que estar te manipulando,só por que te banca. Quando você diz: “basta”,“muito obrigado”, “chega”, “já deu”, “ você estar se metendo demais em minha vida”, “seu limite acaba aqui”, então essas pessoas passam a te ver com agressor, ingrato, falso, duas caras, e não mais como amigo. De santo você vira demônio só por que quer andar com as próprias pernas. Cada coisa agente esconde embaixo do tapete, não é? Tudo isso disfarçado de bondade.

Esse comportamento de “doar” em troca de atenção e amizade é mais visto em alguns grupos sociais. Vejamos alguns:

• Pais ou familiares que sofrem da síndrome do ninho vazio farão de tudo, doando tudo, facilitando tudo aos seus filhos, ou parentes próximos, para que em troca esses fiquem eternamente ao seu lado em tudo, da companhia até as mais diversas opiniões, do certo ao errado. É uma forma disfarçada de esconder o medo de estar só ou não ter controle sobre outros. Em casos como esses, se um filho chegar e disser que a partir daquele instante ele já tem condições de pagar sua própria faculdade, um apartamento, ou manter sua própria família sem precisar dos recursos dos outros, este já se torna uma ofensa das grandes aquela pessoa que doava tudo e bancava tudo. Uma possível inimizade pode começar a partir daí. Um esfriamento e um mi-mi-mi se aproximam dessa relação. Geralmente quem banca outro com ocultos interesses espera obediência e submissão e não independência.

• Grupos religiosos: se há um motivo para líderes religiosos fazer cada vez mais prosélitos em nome de uma divindade, esse sentido seria o de pegar “perdidos” e “pecadores”, ou pessoas com sérios problemas de vícios, ajudá-las a encontrar seus rumos, e depois se alegrar com sua partida quando estes estiverem prontos, alegrando-se em saber que ajudou alguém na vida a encontrar seu rumo. Mas não! Eles querem criar comunidades de gente dependentes, impotentes, fracassadas, com sentimento de que o mundo gira em torno daquele grupo, e sem a supervisão ou liderança dele como líder, literalmente as vidas dessas pessoas lá fora, serão um caos, por isso elas têm de permanecerem ali para sempre, até Jesus voltar. Sério mesmo, eles dizem isso! Pegam pessoas sãs e transforma em doentes, repetindo diariamente para elas que elas são pecadores, moribundas, desprovido da graça e condenadas a perdição. Pegam pessoas que realmente tem distúrbios comportamentais e as deixam piores ainda usando-as como marionetes, levando-as de show em show para que essas contem seus “testemunhos” apenas para atrair mais pessoas ou lucro financeiro. Todo líder religioso, deveria se comportar como um bom professor. Todo bom professor sabe que estar preparando o aluno para uma nova fase da vida, e não para fase final, por que não há fase final, a vida é um eterno aprendizado, e manter uma pessoa dos cinco aos cinqüenta anos numa sala de alfabetização, seria um prejuízo irreversível para o aluno, para o professor e para toda sociedade em geral, por isso professores ensinam e deixam ir, torcendo para que você avance mais. Líderes religiosos te prendem em currais, te chamam de ovelhas e faz ameaças toda vez que você quer dar um passo mais a frente (estudar, por exemplo), dizendo que o lobo devorador estar as portas para devorar qualquer um que saia daquele “aprisco”. Bom ficar de olho nesse tipo de gente. Todo líder que usa ameaça para coagir a um propósito não merece confiança. Estar apenas escondendo suas reais intenções.

• Grupos políticos: se existe um campo onde amizades são desfeitas e refeitas como num passe de mágica é no mundo dos partidos políticos. Nesse mundo, amizades de mais de 5 décadas são desfeitas em menos de 5 minutos, e inimigos com mais de 50 anos, se tornam amigos apenas com uma trocar de olhar na multidão. Muito rápido fácil e simples. Você nem precisa estar bêbado, não precisa ser culto, inteligente, ser bonito, rico, ou feio. Só precisa concordar com os ideais do partido. Só precisa dizer que o grupo A é a solução e grupo B é o fim da picada para o povo. Não precisa fazer curso, tirar diploma, freqüentar escola, fazer teses, criar teorias, nada! Basta discordar de um e concordar com outro. Você desfaz um montão de amizades e cria outras com num passe de mágica. Numa cidade com 20 mil eleitores, por exemplo, você pode perder dez mil amizades num minuto, e conseguir outras 10 mil no minuto seguinte. Basta um sim, colar um adesivo no peito, levantar uma bandeira ou gritar o nome do candidato em publico. Pronto! A forma mais simples de criar e perder amizades no mundo são no período eleitoral. Irracional pra resumir a história. Como eu disse desde o principio, fuga da dor, ou busca pelo prazer regem nossas ações. Não estou dizendo que seja certo ou errado. Estou apenas descrevendo um comportamento típico de um povo. Não estou criando o comportamento. Apenas delatando-o.

Viver se torna bem menos doloroso quando entendemos que coisas vêm e vão, que não somos dono de nada, que apenas “estamos e não somos”, que o outro é tão livre quanto eu sou, que o outro pode ou não permanecer conosco e que sempre encontraremos alguém ou um grupo para nos encaixar, seja o de catador de latinhas depois carnaval, àqueles que sonham em colonizar o sistema solar. Seja dos que vêem maldade em tudo e todos na vida, quanto àqueles que expiram gratidão, exalam amor e refletem inspiração de vida. Sempre existe uma tampa para cada panela. Você nunca vai estar só no mundo.

Você sofrerá menos quando esperar menos dos outros. Você pode esperar tudo de alguém e nada ao mesmo tempo. Não criar expectativas nem achar que nossa felicidade depende dos outros nos ajuda a manter o equilíbrio. Aprender a encarar e contornar as situações nos faz heróis anônimos todos os dias.

Imagine uma moça bonitinha, realmente de boa aparência, bem gordinha, pesando quase 120 kg em 1,60 cm de altura. Ela projeta em seus sonhos um homem alto, forte, saradão, todo definido, que esteja disponível a ela o tempo inteiro e lhe faça juras eternas de amor (idéia de posse). Suponhamos que ela encontre todas as características físicas em um cara. Agora resta saber a projeção mental dele. Será que ele projetou em seus sonhos uma moça “fortinha” ou uma moça magérrima? Se as características físicas do nosso pretendente coincidir, mas se os interesses não coincidirem, não podemos culpar o outro, afinal este também tem o direito de escolha.

Do mesmo modo que sonhamos e projetamos outros também podem fazer o mesmo. Ou será que o nosso ego deve podar o sonho dos outros em detrimento ao nosso? Vale lembrar que sonhos são como sementes de algumas plantas: passam até 50 anos numa terra seca, largada, esquecida, sem qualquer chance de sobreviver, mas ao primeiro sinal de chuva, essa semente desabrocha e pode se tornar uma poderosa arvore. Assim são os sonhos de cada pessoa. As vezes, nem nós sabemos quais sonhos foram enterrados ou esquecidos, mas ao primeiro sinal de compatibilidade eles desabrocham. Os que estão conosco podem se sentir traídos. Vale apenas lembrar que foi o outro quem se decepcionou, não nós quem o decepcionou. Esse é um dos motivos que muitos não entendem de algumas pessoas, que após anos vivendo ao lado de pessoas famosas, milionárias, poderosas e influentes, largam essa companhia, para viver ao lado de pessoas simples em lugares simples sem luxo e sem lixo. Há um momento que cansamos de viver os sonhos dos outros, e passamos a viver os nossos. Nem todo mundo quer ser famosa, dar autógrafos, aparecer em jornais ou se tornar celebridades. Algumas pessoas preferem a companhia verdadeira dos bichos, do que companhia falsa que a fama e o dinheiro proporcionam. Não é difícil entender. Difícil apenas o medíocre de espírito aceitar.

Nem todo mundo quer ter uma empresa que chegue ao todo do mundo. Alguns querem apenas um tipo de negocio que lhe traga segurança financeira ao prestar serviço em sua comunidade. Nem todo mundo quer ter o melhor emprego ou comprar o carro mais caro do mundo. Alguns querem apenas o pão de cada dia e o direito de estar todas as noites com suas famílias. Não precisamos viver o sonho de ninguém. Podemos chegar a um consenso. Desapegar não quer dizer descartar. É apenas uma maneira educada de deixar o outro se livre.

Quando conhecemos a nós mesmos, entendemos melhor o outro. Quando isso acontece, criamos outra realidade, evitamos sofrimentos desnecessários, somos co-criador do nosso destino, e paramos de culpar Deus ou o diabo pelo nosso fracasso.

Escrito em 16/10/2016

*Bacharel em Teologia, estudante de religião e Filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 16/10/2016
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