Os sinóticos e São João: uma mirada possível na hora antes da Paixão de Jesus

Jesus é apresentado em duas perspectivas bíblicas intrigantes, não contraditórias em si: uma bem marcadamente angustiante nos evangelhos sinópticos e outra, a visão de um homem forte e decididamente aberto à hora do Pai pela salvação dos homens em João.

Em Marcos, há algumas proto-referências sobre os contextos antes da Paixão de Jesus.

"E disse-lhes ("E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João

Marcos 14:33"): A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui, e vigiai." Marcos 14:34

E ainda a agonia de Jesus é visualizada assim:

"E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.

E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres." Marcos 14:35,36

O "Pai, se queres, afasta de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!” (Lucas 22, 42) e "Pai, se foi para esta hora que eu vim...", seja feita como queres!

Por duas vezes, Mateus reforça o argumento de Jesus:

"Seguindo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Ó meu Pai, se possível for, passa de mim este cálice! Contudo, não seja como Eu desejo, mas sim como Tu queres”.

Mateus 26:39

"E afastando-se uma vez mais, orou dizendo: “Ó meu Pai, se este cálice não puder passar de mim sem que eu o beba, seja feita a tua vontade”. Mateus 26:42

João admite que Jesus sofre terrivelmente diante dos últimos momentos de sua entrega ao pai: " Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora." João 12:27

E a conclusão possível de São João: "Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.' João 12:24

O processo de salvação implica esvaziamento, aniquilamento por amor, obediência ao Pai, cumprimento das Escrituras, desmistificação do messianismo davídico real para ser o Cristo servo Sofredor de Isaías, representação do povo humilhado, elevação de Jesus no madeira: "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.

E dizia isto, significando de que morte havia de morrer." João 12:32,33

Ora "toda escritura é inspirada" e santa, vem de Deus para nosso bem e salvação. E a Bíblia nos aponta a maneira pela qual Jesus fez a vontade de Deus em meio a sofrimentos tremendos e torturas intensas. "Por isso, Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu um nome" sublime diante do qual nos prostramos até hoje.

Ele é nosso mestre e divino salvador.

Esse mistério tão imenso e infinitamente amoroso nos ultrapassa de tal modo que parece para nossa lógica como estranho e ruim, absurdo, desumano... Mas, é um mistério de salvação, digno de fé:

Por isso, rememoramos na missa tal verdade de fé na transubstanciação presente na Eucaristia: "E, havendo pegado um cálice, Ele deu graças e ordenou: Tomai do cálice e partilhai entre vós …" Lucas 22:17-20

Mateus 26:42

E afastando-se uma vez mais, orou dizendo: “Ó meu Pai, se este cálice não puder passar de mim sem que eu o beba, seja feita a tua vontade”. Mateus 26:42

E essas verdades não racionalistas que indicam a fé católica estão:

Naquela ocasião, em resposta, Jesus proclamou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, pois escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos." "Mateus 11:25

Os pequenos do Jesus estão abertos à verdade de Jesus: humildade é a pequena suave alegria dos que amam e querem ser contentes com o que dá sentido à vida: bondade, fidelidade, pureza, esperança, paz, seguimento no bem e para o bem.

Não nos esqueçamos que o bem exige renúncia e dedicação, paciência, perdão, olhar diferenciado em várias situações, evitando o pecado e dando testemunho de Jesus em meio aos homens.

Em Marcos, as palavras de Jesus nos levam a refletir no sentido maior de sua entrega e como devemos nos corresponder ao Senhor: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." Marcos 14:38

É preciso contar com Jesus para não cair como Pedro e ter coragem para seguir em meio a perseguições e incompreensões de toda ordem.

"O discípulo não é maior que o mestre!" Nesse sentido, há uma inferência de que o Senhor é o modelo e fonte de sustentação e resiliência no bem e na perseguição e martírio: "E alguns começaram a cuspir nele, e a cobrir-lhe o rosto, e a dar-lhe punhadas, e a dizer-lhe: Profetiza. E os servidores davam-lhe bofetadas." Marcos 14:65

Em Lucas, a experiência do Monte das Oliveira é o lugar da solidão de Jesus e profunda adesão ao projeto do Pai do Céu. O propósito ou os motivos lucanos incidem na espiritualidade do seguimento a Jesus até a cruz, sem perder o sentido da salvação universal de Jesus.

"Levantai-vos e orai! Para que não venhais a cair em tentação”. Jesus é preso Levantai-vos e orai! Para que não venhais a cair em tentação”. Jesus é preso..." Lc 22, 46. Sim, aqui é o caminho da cruz o melhor seguimento a Jesus para o discípulo vencer a si mesmo e suas tentações e apegos, não cair em tentação.

Jesus não nos deixa de consolar como fora confortado por um anjo de Deus. Antes da cruz, agora é Jesus a deixar-se sentir o peso da provação e da cruz: "E, em grande agonia, orava ainda mais intensamente. E aconteceu que seu suor se transformou em gotas de sangue caindo sobre a terra." Lc 22, 44.

Pervade ao cenário e ao coração de Jesus um sentido profundo de oração e imenso sofrimento físico, mental e emocional, sem abdicar de sua vocação e entrega ao Pai.

Em Mateus, a experiência de Jesus prostrado, em oração também, sedento de presença e solidariedade dos apóstolos (mas todos com sono). "Então compartilhou com eles dizendo: “A minha alma está sofrendo dor extrema, uma tristeza mortal. Permanecei aqui e vigiai junto a mim”. Mt 26,38

E Mateus antevê com Jesus a hora da Paixão, digo, Jesus vê sua Paixão profetica e cruentamente para a nossa salvação; "Eis que a hora é chegada! Agora o Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores. "Levantai-vos e sigamos! Eis que meu traidor está se aproximando”. Mt 26, 46.

Mateus abre sempre uma cortina na direção da Galileia, onde o ministério de Jesus teve aceitação da população e aí os amigos de Jesus o haverão de ver o Ressuscitado: "Então Jesus lhes revelou: “Ainda esta noite, todos vós me abandonareis. Pois assim está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão afugentadas’. Todavia, depois de ressuscitar, seguirei adiante de vós rumo à Galileia”. Mt 26, 32

A intertextualidade com o Antigo Testamento está na metáfora do pastor-rebanho, agora deslocada na paixão de Jesus que se entrega por amor aos algozes para libertar os seus amigos-ovelhas. Ele é o BOM PASTOR.

O plano do Pai se realiza em Jesus, unido ao Espírito de Deus. Jesus veio cumprir a vontade do Pai. A hora é a salvação messiânica de um servo de Deus humilhado, kenótico e depois, exaltado da terra como "a serpente na haste de Moisés".

A pedagogia salvífica do Pai quer reunir todos a Jesus, que morre por todos nós. "Todo aquele que o Pai me der, esse virá a mim; e o que vem a mim, de maneira alguma o excluirei. " Jo 6, 37

Essa pedagogia se estende a nós - seus seguidores hoje - porque temos em Jesus a firmeza da hora da vontade do Pai e da cruz e da ressurreição. Em tudo, damos graças ao Pai em Jesus pela fortaleza e prudência do Espírito Santo: "E esta é a vontade do Pai, o qual me enviou: que Eu não perca nenhum de todos os que Ele me deu, mas que Eu os ressuscite no último dia. …" Jo 6, 39

REFLEXÃO -

"QUARTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2009

ÚLTIMAS SETE FRASES DE JESUS

Essas são as últimas palavras relatadas que Jesus falou da cruz. Essas sete sentenças (citadas abaixo da versão King James da bíblia) podem ser encontradas nos quatro evangelhos, apesar de não aparecer todas as frases em um só evangelho. As duas primeiras e a sétima só são encontradas no livro de Lucas; a terceira, a quinta e a sexta somente no livro de João; e a quarta tanto no livro de Mateus como no livro de Marcos... "