Iluminação pública intermitente
No início do século XX, quando a iluminação elétrica começou a se disseminar pelas cidades, parecia não haver motivos para a restrição da iluminação das cidades; eram tempos de esbanjamento, fartura e de uma confiança absoluta em que os milagres da tecnologia resolveriam qualquer problema.
Desde então, fomos nos acostumando a iluminar as cidades com uma quantidade cada vez maior de luz, um esforço, talvez, inútil. Um problema óbvio decorrente disso é consumo energético, gasto a ser contido nesses tempos de aquecimento global. Contra isso, uns argumentarão ser irrelevante a parcela da energia mundial gasta com a iluminação pública.
Vejo dois outros problemas, além desse. Um ecológico, o fato de as luzes urbanas atraírem insetos durante seu período reprodutivo gerando problemas graves para muitas espécies. Problemas similares ocorrem com a fauna marinha das zonas costeiras citadinas. Desequilíbrios decorrentes dessas duas alterações espalham-se por aves e outros que se aproveitam de lâmpadas e locais iluminados para prover sua própria alimentação. Também é extremamente provável que as luzes espantem espécies tímidas, reduzindo-lhes os habitats.
Outro problema consiste na perda do memorável espetáculo do céu noturno. O céu noturno foi, durante muitos milênios, o maior espetáculo presenciado pela humanidade, propiciando a nossos antepassados, noite após noite, uma visão deslumbrante, encantadora, radiante; seguramente o maior espetáculo da Terra. O que restou do céu noturno, e que ainda podemos contemplar em nossas noites, é apenas uma pálida imagem do espetáculo de outros tempos, ofuscado atualmente pela profusão de luzes.
Acostumamo-nos com o esbanjamento e mantemos a iluminação acesa mesmo na ausência de transeuntes circulando pelo local. A simples contenção da luminosidade nesses momentos em que nenhuma alma se encontra no local para usufruir dela, significaria uma boa redução da quantidade de luz emitida.
Acredito que já tenhamos sensores de presença sensíveis o suficiente para detectar transeuntes circulando em cada local. Nesse caso, as luzes se acenderiam sempre que necessário, ou seja, quando houvesse alguém no local, apagando-se assim que se tornassem desnecessárias.
Em nossas terras, onde a preocupação com assaltos e outros crimes é grande, a proposta pode parecer despropositada. Pode parecer perigoso manter uma rua às escuras até que alguém circule por ela. Mas, note, um assalto realizado em uma cidade cuja iluminação denunciasse a presença do ladrão seria mais arriscado que na situação atual. Caso o sistema possa ser implementado com precisão, economizaríamos energia, pouparíamos os seres que compartilham o ambiente conosco, ganharíamos de volta nosso sol e, talvez, ainda conseguíssemos uma maior segurança.